O cenário político brasileiro
para este ano tem apenas duas certezas: as instituições estão funcionando e a
crise que ameaça os mandatos da presidente Dilma Rousseff e do presidente da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), não arrefecerá. Essa é a avaliação de estudiosos
ouvidos pelo Estado sobre o que restou de bom de 2015 e o que esperar de 2016.
Para Marcos Nobre, cientista social, filósofo e professor da Unicamp, as
possibilidades geradas pela crise "estão abertas". "Ainda não
temos um sinal claro sobre onde vai parar essa crise política, se esse processo
todo vai se transformar em avanço institucional. Pode sair uma política
diferente, boa, ou a gente pode ter coisas piores." Segundo ele, 2017 e
2018 serão anos muito ricos para a política. "Em 2016, os pactos ainda vão
ser provisórios. Pode ser que a lista de implicados na Lava Jato chegue a um
quinto do Congresso Nacional. Nós vamos passar mais uns dois anos de crise
permanente, de instabilidade duradoura. Cabe à sociedade fazer uma nova cultura
política, diferente do que funcionou até agora", diz Nobre. "A crise
política pode representar um ganho para a oposição no sentido de que o PT está
chamuscado eleitoralmente. Para 2018, a chance de o PT ganhar a Presidência é
zero. Na eleição de 2016, para prefeito, o PT não vai eleger nem síndico no
prédio do Lula", afirma Fernando Limongi, cientista político e professor
da USP. "A democracia se fortaleceu. As punições que estão sendo aplicadas
são inéditas. As grandes figuras vão estar na cadeia, isso faz a situação
brasileira insólita. Se as instituições de controle não estivessem funcionando,
teríamos uma convulsão social", diz o professor de ciência política da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Marcus Melo. Para a professora
titular de ciência política da USP Maria Hermínia Tavares de Almeida, o que
ocorreu neste ano "é uma prova de que as instituições aguentaram de forma
profunda". "O problema é econômico e político. A política dificulta a
solução da economia. Mas as instituições estão funcionando, os atores estão
jogando dentro das regras institucionais." Ela, porém, avalia que o
Congresso está "desconectado" da sociedade. "Essa desconexão foi
o que ocorreu de mais grave nessa crise política. Se o impeachment vingar, a
situação vai ficar muito complicada porque o governo da presidente Dilma não é
do (Fernando) Collor de Mello, o PT não é PRN. Vai haver muito conflito,
inclusive nas ruas."
BN
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