Conheça as regras que cancelam o Bolsa Família e
Aposentadoria por invalidez, e Auxílio-doença do INSS em 2019. Até o final do
ano, mais de R$ 5 bilhões gastos em benefícios da Previdência Social (INSS)
deverão ser cortados por causa de irregularidades, que estão em apuração no
Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU).
O corte segue o trabalho de revisão de benefícios sociais
feito pelo Comitê de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas Federais
(CMAP), criado em abril de 2016 com a Portaria Interministerial nº 102, e
formado por técnicos e dirigentes da CGU e dos ministérios do Planejamento, da
Fazenda e da Casa Civil.
Conforme o Secretário Federal de Controle Interno da CGU,
Antônio Carlos Bezerra Leonel, ainda não é conhecido o número de pessoas que
perderão os benefícios por causa de fraude. A CGU não divulgou quais irregularidades
estão em apuração.
Nesta terça-feira (24), o governo anunciou a suspensão de
341.746 auxílios-doença e 108.512 aposentadorias por invalidez, que totalizam
R$ 9,6 bilhões no pagamento de auxílios-doença acumulado entre o segundo
semestre de 2016 e 30 de junho de 2018.
Até o fim do ano, serão revisados 552.998 auxílios-doença e
1.004.886 aposentadorias por invalidez.
Bolsa Família
Além de benefícios previdenciários, o CMAP revisou os
benefícios pagos pelo programa Bolsa Família. Em dois anos, 5,2 milhões de
famílias foram excluídas, e outras 4,8 milhões entraram no programa.
“No caso do PBF [Bolsa Família] não há propriamente uma
economia de recursos, mas a focalização do programa”, assinala o ministro do
Desenvolvimento Social, Alberto Beltrame. Segundo ele, a exclusão de pessoas
recebendo benefícios de forma irregular permitiu manter zerada a fila de espera
de novos cadastrados no programa.
Os anúncios de corte de benefícios sociais e previdenciários
são recebidos com cautela pela sociedade civil.
Lylia Rojas, do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS),
argumenta que falta à medida “transparência necessária” e que há casos de
pessoas que tem o benefício indevidamente cortado e depois recuperam o direito
na Justiça, gerando mais gastos ao erário.
Para o diretor-executivo da Transparência Brasil (ONG),
Manoel Galdino, as fraudes ocorrem porque “o governo é desorganizado” e não
mantêm a base dos cadastros eletrônicos interligados – o que dificulta
cruzamentos, e não divulga informações sobre envolvidos e a abertura de
processos.
Para Gil Castelo Branco, do site Contas Abertas, “é preciso
que seja feito regularmente um trabalho de inteligência para evitar que as
fraudes cheguem às atuais proporções”. De acordo com ele, “onde há benefício há
alguém tentando se favorecer ilegalmente”.
Saiba recorrer se você perdeu aposentadoria de invalidez ou
auxílio-doença do INSS. Desde o segundo semestre de 2016, o Instituto Nacional
de Seguro Social (INSS) está passando um pente-fino nos benefícios de
auxílio-doença e aposentadoria por invalidez, pagos aos brasileiros que estão
incapazes de trabalhar.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), até
agosto deste ano já haviam sido realizadas mais de 934 mil perícias de revisão,
que resultaram em cerca de 563 mil cancelamentos de benefícios.
“Eles alegam que inexiste a incapacidade laboral e determinam
o retorno às atividades”, afirmou Thiago Pawlick Martins, do escritório Coelho,
Martins e Pawlick Advocacia Previdenciária. Até o fim do ano, terão sido mais
de 1,5 milhão de revisões.
Apesar dos inúmeros casos de fraudes descobertos, há também
os brasileiros que consideram o corte injusto e pretendem recorrer para receber
novamente o benefício.
“A gente paga por aqueles que fingem que estão doentes. Vão
de cadeira de roda e saem andando”, disse a aposentada Márcia Santa Barbosa,
que recebeu auxílio-doença por 12 anos devido a uma tendinite crônica, mas
perdeu o benefício no último pente-fino.
Se você perdeu seu auxílio-doença ou aposentadoria por
invalidez e não concorda com a decisão do INSS, saiba como recorrer.
1) Foi convocado? Veja o que fazer
O INSS está convocando por carta ou edital beneficiários do
auxílio-doença que estão há seis meses ou mais sem passar pela perícia e
aposentados por invalidez que não são revisados há mais de dois anos –com
exceção dos que já têm 60 anos ou mais de idade.
Ao ser convocado, o segurado deve agendar uma perícia de
revisão pela Central de Atendimento do INSS, no telefone 135.
No dia marcado, é preciso levar um documento com foto e
número do CPF, além de todos os laudos médicos, atestados, exames, receitas e
demais comprovantes de que ainda há incapacidade de retornar ao trabalho.
Na perícia, o médico irá decidir se o benefício deve ser
prorrogado, cessado ou transformado em uma aposentadoria por invalidez (em
casos de auxílio-doença). O segurado pode ser também encaminhado ao
procedimento de reabilitação profissional.
2) Perdi meu benefício, e agora?
Auxílio-doença
O beneficiário do auxílio-doença que não passou na revisão
para de receber o benefício já naquele mês ou quando a perícia determinar,
disse a presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP),
Adriane Bramante.
Aposentadoria por invalidez (menos de cinco anos)
Quem está aposentado por invalidez há menos de cinco anos
recebe o benefício por um número de meses proporcional ao tempo de
aposentadoria. Exemplo: uma pessoa que esteve aposentada por três anos ganha
mais três meses de aposentadoria.
Aposentado por invalidez (mais de cinco anos)
O aposentado há mais de cinco anos por invalidez ainda recebe
o benefício por 18 meses, sendo 100% do valor nos primeiros seis meses, 50% nos
próximos seis e 25% da aposentadoria nos últimos seis meses. “É uma reinserção
forçada no mercado de trabalho”, declarou Pawlick.
3) Como recorrer
O segurado que teve o auxílio-doença ou a aposentadoria por
invalidez cessados no pente-fino e não concorda pode recorrer da decisão.
Recurso
A primeira medida é entrar com um recurso no Conselho de
Recursos do Seguro Social (CRSS) no prazo máximo de 30 dias após o corte do
auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez.
O segurado deve preencher um formulário do INSS e reunir
documentos e laudos médicos comprovando que ainda precisa do benefício. Também
é preciso apresentar um documento com foto e número do CPF.
Como agendar
Para entregar o recurso, ele deve agendar uma data pelo
telefone 135, pelo site ou direto numa agência física do INSS.
O problema é o tempo de espera, disse a advogada Adriane.
Segundo ela, o prazo para conseguir um horário em São Paulo é de seis meses. “E
nesses seis meses ele (o beneficiário) não recebe. Teve o benefício cessado.”
Entrega pelos Correios
Por conta da demora para agendar um horário nas agências,
Adriane sugere que a papelada seja enviada pelos Correios, preferencialmente à
agência do INSS onde o corte foi feito.
Nesse caso, é preciso autenticar os documentos. Recomenda-se
também que a correspondência seja enviada com AR (aviso de recebimento).
Meu INSS
A Central de Atendimento do INSS informou a reportagem que é
possível ainda anexar os documentos do recurso pelo Meu INSS.
Quanto tempo demora?
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, o CRSS tem 85
dias para julgar o recurso do segurado. Contudo, Adriane disse que a espera
pode chegar a um ano ou um ano e meio. “O segurado vai ser submetido,
possivelmente, a uma nova perícia feita por uma junta médica com corpo médico
da Junta de Recursos, diferente da qual ele passou no INSS.”
Se o INSS julgar que o segurado realmente precisa do
benefício, pode ser que ele receba os meses perdidos. Mas não foi esse o caso
de Márcia Santa, que ficou sete anos sem o auxílio-doença e, quando conseguiu
de volta, não recebeu os atrasados.
“Fiquei com as contas todas atrasadas, ainda estou com o nome
no SPC, não tenho vergonha de falar”, disse. No fim, Márcia contratou um
advogado e conseguiu se aposentar por tempo de serviço, após pagar ao INSS a
contribuição dos anos que ainda faltavam, num total de cerca de R$ 12 mil.
Novo pedido de benefício
Outra opção para quem perdeu o auxílio-doença ou aposentadoria
por invalidez é fazer outro pedido de benefício. Isso só não pode ser pedido
pelo aposentado por invalidez há mais de cinco anos que esteja nos seis
primeiros meses do fim do benefício (quando recebe 100% do valor).
4) Entrar ou não na Justiça?
O número de processos na Justiça contra os cortes de
benefícios quase quadruplicou com o pente-fino do INSS. Isso porque recuperar o
auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez pelo caminho judicial pode ser
bem mais rápido.
Em São Paulo, a perícia judicial é marcada num prazo de três
a quatro meses, e a primeira audiência em oito meses, disse a presidente do
IBDP.
Em alguns casos, o INSS aceita fazer um acordo com o segurado
que entrou na Justiça. Se o juiz der ganho de causa ao beneficiário, pode
também determinar que o benefício seja reestabelecido imediatamente.
“O aluguel vence todo mês, a pessoa precisa comer, pagar as
contas. Ela vai para a empresa, e a empresa diz que não tem condição de
trabalhar, o INSS diz que ela tem condição. O melhor é ela procurar a Justiça”,
afirmou Adriane.
Preciso de advogado?
A primeira etapa do processo judicial, no Juizado Especial
Federal, não precisa de advogado. Contudo, se o segurado perder na primeira
instância, vai precisar de um especialista para seguir em frente. Por isso, o
indicado é buscar logo no início ajuda de um advogado previdenciarista.
5) Algumas precauções
Mantenha os exames atualizados
Entre os brasileiros que tiveram o benefício cortado neste
pente-fino, cerca de 61 mil perderam porque não compareceram à perícia de
revisão. Segundo Adriane Bramante, o número é alto porque muitas pessoas foram
pegas de surpresa e não tinham laudos médicos recentes em mãos.
“Muitas vezes, o segurado não tem o exame atualizado, depende
do SUS, o SUS não agenda, não faz exame e o beneficiário acaba perdendo”, disse
ela.
Por isso, a dica é que de seis em seis meses o segurado passe
pelo médico para atualizar seus relatórios, exceto em casos de exames mais
complexos, como a ressonância magnética –que é, normalmente, solicitada
anualmente.
Tire cópias dos laudos e exames
Outra indicação é que o segurado tire cópias de seus exames,
laudos e demais comprovantes médicos antes de levá-los ao INSS.
Pode ser que os documentos originais fiquem na agência e,
caso o segurado queira entrar na Justiça contra a decisão do governo, não terá
os relatórios importantes para sua defesa.
Onde procurar ajuda
Não há um órgão do governo ou não governamental que preste
assistência aos segurados do INSS. A pessoa que tiver dúvidas pode se informar
no próprio INSS, pelo telefone 135 ou pelo Meu INSS.
A defensoria pública e o Juizado Especial Federal também
fornecem instruções àqueles que se sentem prejudicados.
Por Mix Vale
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