O caso da jovem Layane Dias, de 20 anos, que ficou
paraplégica após colocar um piercing, é considerado raro pelos especialistas.
Ela foi infectada pela bactéria Staphylococcus aureus, que pode causar
problemas variados ao atingir a corrente sanguínea.
A bactéria entrou no organismo de Layane através de uma
infecção no nariz em decorrência do piercing. Especialistas alertam para os
possíveis perigos do procedimento.
O piercing deve ser colocado em ambiente limpo e estéril e
por um profissional
É preciso ficar atento aos sinais do corpo após o
procedimento
Bactéria é comum na pele e no nariz
Em caso de infecção, é preciso procurar um médico
Não pratique a automedicação
A dermatologista Alessandra Romiti, Coordenadora do
Departamento de Cosmiatria Dermatológica da Sociedade Brasileira de
Dermatologia (SBD), explica que o caso da jovem não é comum.
“O QUE ACONTECEU COM ESTA PACIENTE É UMA COMPLICAÇÃO MAIS
RARA. PODE ACONTECER QUE UMA INFECÇÃO LOCAL QUANDO NÃO-TRATADA OU NÃO
DIAGNOSTICADA, OU UMA BACTÉRIA MUITO RESISTENTE AO TRATAMENTO, POSSA SE
ESPALHAR ATRAVÉS DO SANGUE E CAUSAR INFECÇÃO EM OUTROS LUGARES”, EXPLICA A
DERMATOLOGISTA ALESSANDRA ROMITI.
Ela diz que, na maioria das vezes, as complicações
decorrentes do piercing são no local onde o acessório foi colocado. A mais
comum é a inflamação: “Principalmente se ele for colocado no local que tem
cartilagem como o nariz e algumas regiões da orelha, onde pode acontecer essa
condrite- a inflamação da cartilagem que fica bem vermelho, bem dolorido. Às
vezes se resolve com tratamento e em outras é necessário retirar o piercing”.
A bactéria que “viaja” pelo sangue
A bactéria Staphylococcus aureus é frequentemente encontrada
na pele e no nariz de pessoa saudáveis, segundo a neurologista Letizia
Goncalves Borges, do Hospital Sírio Libanês.
“Ela é comum, mas pode causar infecções graves quando está em
grande quantidade ou quando ela se dissemina pelo sangue. Mas infecções que se
disseminam para outras áreas do corpo são extremamente raras e nem sempre dá
para comprovar qual foi a causa da infecção. Na maioria das vezes, a bactéria
causa infecção no local”, explica.
A infectologista Thais Guimarães, Presidente da Comissão de
Controle de Infecção Hospitalar do Instituto Central do HC-FMUSP, explica que
qualquer infecção pode cair na corrente sanguínea- infecção de garganta, na
pele, urinária- e se espalhar para outros órgãos. Mas não são todas as
bactérias que fazem isso. Algumas particularmente têm como mecanismo se
espalhar em outros órgãos. A Staphylococcus aureus é uma dessas.
Para ela, o caso de Layane foi uma fatalidade, mas os
piercings colocados em regiões de mucosa como nariz e boca devem ter cuidados
redobrados.
“QUANDO UM PIERCING É COLOCADO NA PELE, EM QUALQUER REGIÃO,
ELE É MENOS PERIGOSO DO QUE QUANDO É COLOCADO EM UMA ÁREA DE MUCOSA, QUE É O
TECIDO QUE FICA DENTRO DO NARIZ. OU NA LÍNGUA, QUE TAMBÉM É UMA MUCOSA. ELAS JÁ
TÊM UMA MAIOR PREVALÊNCIA DE BACTÉRIAS DO QUE A PELE. ENTÃO PIERCING NESSES
LOCAIS TÊM MAIS CHANCE DE INFECCIONAR”, DIZ THAIS GUIMARÃES, INFECTOLOGISTA DO
HC-FMUSP.
Atenção aos sinais de infecção
Em relato à BBC, Layane disse que no início de julho surgiu
uma bola vermelha na ponta do nariz, semelhante a uma espinha. “Eu achava que
era apenas uma espinha, mas ela me causou febre. Como pensei que não fosse nada
relevante, cuidei em casa mesmo, com pomadas. Em uma semana, ela sumiu.”
As especialistas alertam que após um procedimento como o
piercing é preciso estar atento aos sinais do corpo.
Quando procurar um médico?
se tiver febre
se o local ficar inchado
se houver vermelhidão ou dor no local
“APÓS COLOCAR O PIERCING, SE HOUVER QUALQUER ALTERAÇÃO NA
PELE, OU SE A PESSOA APRESENTAR FEBRE, ELA DEVE PROCURAR IMEDIATAMENTE O MÉDICO
E RELATAR QUALQUER PROCEDIMENTO QUE ELA TENHA FEITO. MUITAS VEZES A PESSOA NÃO
RELACIONA UMA COISA COM A OUTRA E NÃO CONTA PARA O MÉDICO, O QUE FICA MAIS
DIFÍCIL”, DIZ A NEUROLOGISTA LETIZIA GONCALVES BORGES.
A infectologista Thais Guimarães alerta ainda para o perigo
da automedicação: “Tem que procurar o médico principalmente quando houver dor e
vermelhidão, ao menor sinal de infecção, porque o ideal é que ela tivesse
tomado um antibiótico sistêmico e este tipo de remédio só vendido sobre
prescrição médica. Não dá para se automedicar. Se tivesse controlado esta
infecção local, poderia ter impedido que esta bactéria caísse no sangue e que
tivesse causado essa infecção à distância”.
Para Letizia, é preciso lembrar sempre que o piercing é um
corpo estranho no organismo e que o procedimento deve ser feito em um ambiente
limpo e por profissionais.
“Deve ser colocado por um profissional habilitado, que faça
uma higienização adequada da pele, que utilize um piercing que já esteja limpo.
É essencial pesquisar sobre o profissional que vai te atender. Hoje os
profissionais fazem propaganda em rede social, postam fotos, vendem sonhos e as
pessoas se submetem ao procedimento sem averiguar a formação deste
profissional”.
“TAMBÉM É IMPORTANTE OBSERVAR O LOCAL DE ATENDIMENTO. SE
ACHAR QUE É UM AMBIENTE ESTRANHO, QUE NÃO TEM LIMPEZA ADEQUADA, CANCELA O
PROCEDIMENTO”, ALERTA A NEUROLOGISTA LETIZIA GONCALVES BORGES .
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