Uma jovem de 21 anos que mora no município de Camaçari, na
região metropolitana de Salvador, usou as redes sociais para denunciar que ela
e a mãe foram violentadas e torturadas durante anos pelo padrasto. O homem foi
preso e, segundo a Polícia Civil, nega as acusações.
Eva Luana da Silva, de 21 anos, relatou em cinco posts no
Instagram que o "caos" teve início quando ela tinha 12 anos. Ela
conta que a mãe era constantemente vítima do companheiro e que, depois, passou
a ser alvo dele também.
"Minha mãe era agredida, abusada, violada e torturada
quase todos os dias. Meu padrasto era obsessivo e ciumento com ela. Resumindo
de uma maneira geral, ela era agredida com chutes, joelhadas, objetos. Era
abusada sexualmente de todas as formas possíveis. Era obrigada a tomar bebidas
até vomitar e quando vomitava tinha que tomar o próprio vômito como castigo.
Ele começou a me abusar sexualmente. Eu tinha nojo, repulsa, ódio e não
entendia porque aquilo acontecia comigo. Me sentia uma criança estranha e diferente
das outras", contou a jovem.
A delegada Florisbela Rodrigues, titular da Delegacia
Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) de Camaçari, disse que a jovem
prestou depoimento no dia 30 de janeiro. A mãe dela também falou com a polícia
e confirmou as denúncias da filha.
"Minha mãe apanhou tanto que teve um parto prematuro,
meu irmão morreu depois de 6 dias de nascido. Quando ela estava grávida dele,
levou diversos chutes e joelhadas na barriga. Ele não queria mais um
filho", diz trecho de uma das postagens.
Ainda no Instagram, Eva diz que está sob proteção jurídica.
Após as postagens, recebeu várias mensagens de apoio nas redes sociais, entre
elas da atriz Kéfera Buchmann. Além de mandar mensagem para Eva perguntando
como estava, Kéfera fez posts em seu perfil no Instagram para falar sobre o
caso.
"A história dela é seríssima. Vou postar tudo aqui pra
vocês, mas acho que vocês têm que ir no perfil dela pra conhecer e ler melhor e
ver todas as fotos. Ela sofreu anos de abuso dentro da casa dela", disse.
Tortura
Em um dos posts, ela diz que denunciou o caso uma vez, quando
tinha 13 anos, mas que não deu em nada e ela foi obrigada a retirar a queixa
por conta de ameaças.
"Quando eu fiz 13 anos, denunciei. Nessa denúncia, eu
tinha certeza que seria salva por todos. Mas não foi isso que aconteceu. O
Estado falhou a tal ponto, que o meu caso não chegou nem ao Ministério Público.
Fui obrigada a retirar a queixa por ameaças do meu padrasto. Ele utilizou o
poder financeiro pra comprar a liberdade e comprar a minha alma. Porque ali eu
perdi a minha alma. E o que eu fui denunciar, 1 ano de sofrimento, se
multiplicou em mais 8 anos", relatou.
Após a tentativa frustrada de levar o padrasto para a cadeia,
a jovem disse que os abusos, torturas e agressões aumentaram.
"Eu não tive mais vida social. Tudo era uma farsa. Ele
nos obrigava a fingir que tínhamos uma família perfeita. As agressões eram
verbais, físicas e psicológicas. Entre elas comer muito, em tempo estipulado.
Isso aconteceu com uma pizza família, pra comer inteira em 10 minutos. Óbvio
que não conseguimos. Também tomar 2 litros de refrigerante nesses 10 minutos.
Eu levei socos no rosto, e ele não me deixava me proteger com a mão. Chutes até
cair no chão e, de quatro, ele enfiou as pizzas na minha boca, me chamando de
animal. Eu vomitei e comi meu próprio vômito. Meu gato comeu um pedaço e lambeu
outro, ele me obrigou a comer o que ele havia lambido", destacou.
A jovem ainda relatou que era obrigada a fazer trabalhos de
faculdade para o padrasto. "Se eu não fizesse perfeito, eu pagava o preço.
Eu também respondia todas as provas da faculdade, era obrigada a sair mais cedo
da minha aula pra responder às provas dele pelo celular. Existiam castigos e
punições pra tudo. Até mesmo se eu não pagasse uma conta no banco que estava
super lotado, mesmo tendo horários no trabalho ou estágio".
A jovem conta que tinha o celular vistoriado todos os dias.
"Ele desinstalava o WhatsApp e reinstalava novamente pra
poder recuperar as conversas apagadas. Eu não podia namorar. Eu não podia sair
com meus amigos, não tinha vínculo social com ninguém. Todos os vínculos eram
vigiados e ele sempre respondia pessoas como se fossem eu. Todas as minhas
senhas no celular, redes sociais e Gmail eram monitoradas por ele. Me vigiava
na porta da sala da faculdade. Todos percebiam e me viam chorando".
"Ele me agredia nos estupros, mas depois de um tempo, só
utilizou das ameaças contra a minha família. Eu era usada como um lixo. Já
abortei diversas vezes. Nunca pude ir ao médico pra fazer curetagem. Todas as
vezes sangrava e passava mal a noite inteira. Já vi os bebês inteiros no vaso
sanitário. Eu era chamada de burra, anta, doente, demente todos os dias, e era
obrigada a repetir isso pra mim mesma", relata a jovem.
"Eu já sai pelada na rua de madrugada, e ele dizia que era
para eu ser estuprada por homens. Ele tirava fotos minhas com o meu celular e
enviava pra ele mesmo, pra fingir que era eu, criava conversas nojentas com ele
mesmo".
"Ele é um monstro. Perdi minha infância e adolescência.
Me sentia um lixo por não ter forças pra pedir ajuda e por sentir tanto
medo", afirmou.
A jovem ainda relata nos posts que decidiu novamente
denunciar o pai e pedir ajuda porque "ou ele mataria ou eu me
mataria". "Tentei me suicidar várias vezes com cortes e remédios. Eu
contei a verdade pois não aguentava mais".
No fim da denúncia, a jovem faz um apelo ao Estado. "Eu
sou apaixonada pela vida e pela liberdade, eu pulei fases, pulei etapas, não
tive adolescência, nem infância... Ele não pode sair impune, a justiça tem que
ser feita o quanto antes. Estado, não falhe comigo novamente".
A Polícia Civil informou que está finalizando o inquérito,
que será encaminhado ao Ministério Público.
Fonte: G1
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