Endeusar políticos é um sintoma de transtorno mental. Se você
conhece alguém com este sintoma recomende uma visita urgente a um psiquiatra.
Uma investigação mais apurada pode revelar que essa não é
apenas uma pessoa desagradável, exagerada e agressiva, mas sim uma vítima de um
grave mal psiquiátrico, o transtorno borderline. Traduzindo para o português,
ele é um paciente “limítrofe” ou “fronteiriço”, por apresentar sintomas que se
situam na borda entre as neuroses e as psicoses. É um mal que atinge 1,6% da
população adulta, responde por 10% dos pacientes psiquiátricos ambulatoriais e
motiva nada menos do que 20% das internações. Cerca de 10% dessas pessoas
concretizam o suicídio, índice 50 vezes maior do que entre a população em
geral.
A relação dos pacientes borderline com seu mito é um
mecanismo similar ao do vício – como o de drogas ou do jogo, por exemplo. O
doente fica viciado em seu político de estimação e passa muitas horas do dia
procurando notícias sobre o objeto de seu vício e agredindo pessoas que pensam
de maneira contrária. Assim como viciados em crack estes doentes deixam de
conviver fisicamente com a família para dedicar seu tempo a postar conteúdos
que reverencie seu vício.
Votar no melhor candidato é uma coisa; endeusá-lo e
canonizá-lo, um sintoma de transtorno mental. Haverá cura? Não sei. Mas, se
houver, desconfio que italianos e ingleses têm a chave do problema, porque, na
pesquisa mundial feita pelo Instituto Ipsos Mori mostrou que eles são os que
menos acreditam em fake news, enquanto os brasileiros são os que mais
acreditam.
No Brasil o endeusamento de políticos não é exclusivo do fã
clube do Bolsonaro. O mesmo acontece com Lula —e acontece, à porta do cárcere,
onde dezenas, centenas, milhares de crentes são capazes de enfiar a cabeça na
guilhotina pela honestidade de terceiros.
Busque tratamento ou indique este artigo para quem você
percebe que está doente. A Síndrome de Boderline mata. Sua vida vale mais que o
fanatismo político.
Fonte: Folha de São Paulo
Tópicos:
Política