O parto de Antonella, filha de
Frank Teixeira e Taris de Souza, acontecerá em setembro. Ao G1, eles contaram
sobre o processo de gestação.
Frank Teixeira e Taris de Souza vão dar à luz em setembro, em Itapira (SP) — Foto: Arquivo pessoal |
Um casal de Itapira (SP)
realiza em setembro o sonho de trazer uma nova criança ao mundo. A diferença,
aqui, é: quem está gestando a filha é o homem do casal. Em entrevista ao G1,
Frank e sua companheira, Taris, contaram sobre a realização deste desejo, que é
fruto de uma relação que já dura seis anos.
Frank Teixeira é transexual,
tem 27 anos e trabalha como auxiliar de produção. Sua companheira, Taris de
Souza, de 38 anos, é professora na cidade. Antonella, a filha, deve nascer de
cesariana. O parto está marcado para o dia 19 de setembro de 2019.
Antonella, filha de Frank e Taris, deve nascer de cesariana no dia 19 de setembro — Foto: Arquivo pessoal |
Por seis meses, em 2018, eles
tentaram engravidar pelo método da inseminação "caseira" – quando o
sêmen do doador é injetado no útero com auxílio de uma seringa – em Taris. Ao
todo, foram 11 tentativas, todas feitas na esposa, com auxílio de um
ginecologista.
Ao ver que o método não estava
dando resultados na mulher, Frank decidiu fazer uma surpresa e tentou ele
próprio engravidar. Deu certo.
"Fui na emoção de
realizar o sonho. Não parei para pensar, fui ver só depois. Eu falei: ‘Vou
tentar para não falar depois que não tentei’, mas nem esperava que desse certo
e foi de primeira. Fui impulsivo, mas não tinha como voltar atrás",
brincou Frank.
Com três semanas de gravidez,
ele contou a novidade para Taris. Era dia 7 de janeiro de 2019.
"Meu maior medo era o
emocional dele, porque, como tinha a aparência masculina, tomava hormônio e
tinha barba, eu fiquei com receio de ele 'surtar'. A maternidade é uma coisa
muito feminina, o aumento dos seios e a produção do leite. Me preocupei com
isso", afirmou a professora.
"Eu assustei, fiquei com
medo, mas depois me senti muito feliz. Chorei de alegria, porque foi uma
demonstração de amor muito grande", disse Taris.
Vontade surgiu em 2017
A vontade de terem um filho
surgiu em 2017 e se concretizou em 2018, quando procuraram opções como a
adoção.
Taris relata que, na época,
eles chegaram a participar de um curso preparatório, mas o receio de a criança
querer procurar os pais biológicos fez com que eles optassem pela inseminação
artificial.
"A gente não sabia se
teria estrutura emocional para lidar com isso", contou a professora.
Frank havia parado de tomar
hormônios masculinos fazia seis meses, por conta do alto custo do procedimento.
Taris brinca que o processo acabou se tornando uma "providência
divina", que ninguém esperava.
"Um dia ele viu que
estava no período fértil, combinou com o doador e resolveu fazer nele
mesmo".
Mudança
no corpo
O apoio, principalmente dos
pais e irmãos de Frank, tem sido essencial para o desenvolvimento da gravidez,
já que ele ainda estranha as modificações corporais que têm ocorrido desde que
Antonella começou a crescer dentro de seu útero.
"Eu não me olho no
espelho, é difícil. É um negócio que passa rápido e nem comprei roupas. Não é
meu número, nem meu estilo. Só vou renovar o guarda-roupas depois", contou
o auxiliar de produção.
Ele pretende fazer mastectomia
(retirada das mamas) e voltar ao tratamento com hormônios quando parar de
amamentar.
Família
e amigos
Os pais de Frank se emocionaram
quando receberam a notícia da gravidez e se surpreenderam com a escolha do
filho. Ele divide sua rotina entre ir à casa da mãe e ao médico para realizar
exames. Frank entrou de licença no trabalho.
"No trabalho era normal,
lá é tudo muito na brincadeira. No começo nem acreditavam, mas era leve para
mim".
"Meus pais nunca
esperavam terem um neto vindo de mim. Por coincidência, meu irmão ficou sabendo
semana passada que vai ser pai também, o dele vai nascer em março. Eles vão
crescer juntos", comemorou Frank.
Cheia de presentes
O quarto de Antonella já está
todo decorado, com tons em branco e rosa e até bichinhos de pelúcia encaixados
no guarda-roupas.
"A gente ganhou muitos
presentes, eu trabalhava como diretora de uma creche e ganhei presentes de mãe
de criança, das minhas professoras, de amigos", relatou Taris.
Seis
anos de relação
Frank e Taris se conheceram em
2012 na academia que frequentavam, quando Frank ainda se identificava como
mulher. O namoro teve inicio em 2013.
"Quando a gente se
conheceu, ele tinha aparência feminina. O processo de transição começou há
quatro anos", contou a companheira.
"A única coisa que me
preocupava era a questão da saúde, por causa do hormônio que pode ser
prejudicial e a gente ouve tantos casos de câncer", afirmou Taris.
Com tantas mudanças que
ocorreram desde que eles decidiram dividir uma vida juntos, a "prova de
amor" de Frank dá alegria ao casal, e ele já comemora a chegada da filha.
"Estou ansioso, não vejo
a hora".
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