Uma iniciativa do Tribunal
Regional do Trabalho do Rio do Janeiro convida juízes e desembargadores que
julgam processos trabalhistas a passarem por um treinamento e trabalharem por
um dia como faxineiros, garis, telefonistas, cobradores, ajudantes gerais etc.
O exercício de alteridade e
empatia busca conscientizar os magistrados sobre as dificuldades cotidianas que
esses trabalhadores enfrentam todos os dias.
Após trabalhar um dia como gari, o juiz Thiago Mafra da
Silva relatou dificuldades: “Foi bem pesado, cheguei a vomitar por causa da
insolação”.
O projeto foi desenvolvido
pela Escola Judicial do TRT-RJ (Tribunal Regional do Trabalho do Rio de
Janeiro) e visa sensibilizar os juízes e desembargadores que julgam processos
trabalhistas, de modo a serem mais empáticos e menos formais/burocráticos.
“O juiz que perdeu a
capacidade de olhar com empatia para o outro, perdeu a capacidade de ser juiz”
Antes do “dia de cão”, eles
participam de aulas teóricas do que exercerão na semana seguinte, seja como
atender uma chamada de reclamação de uma empresa de telemarketing, seja como
limpar um banheiro ou um jardim de uma grande corporação, seja recebendo
dinheiro como cobrador de ônibus ou mesmo na recolha de lixo da cidade, como gari.
“A empatia é essencial para
todos, mas para nós especialmente, diariamente, a gente tem que se colocar no
lugar do outro, se colocar na pele tanto do trabalhador, quando do empregador,
para entender as dificuldades que eles enfrentam”, diz o juiz Thiago Mafra da
Silva, do TRT do Rio de Janeiro, que trabalhou um dia como gari para a Comlurb,
a empresa de limpeza da cidade.
“O juiz que perdeu a
capacidade de olhar com empatia para o outro, perdeu a capacidade de ser juiz”,
diz Marcelo Augusto Souto de Oliveira, diretor da Escola Judicial e um dos
responsáveis pela implementação da ideia.
Thiago se juntou a uma equipe de garis para limpar a Praça do Leme |
No final do mês passado,
Thiago Mafra esteve entre os seis trabalhadores que fizeram a limpeza da praça
do Leme. Residente do Botafogo, ele não teve a experiência de acordar às 4h20
da manhã para ir ao trabalho, como seu colega, Alexander Santos Pereira, de 44
anos, gari há dez anos. Obviamente, também não precisou lidar com o salário de
R$ 1,5 mil para sustentar toda uma família.
No entanto, sentiu por um dia como é passar cinco horas
ininterruptas trabalhando sob um sol escaldante retirando da praia centenas de
copos plásticos, restos de comida e bitucas de cigarro. Sem o chapéu e sem
protetor solar, Thiago sofreu um tanto. “Foi bem pesado, cheguei a vomitar por
causa da insolação”, conta.
Juízes e desembargadores que julgam processos trabalhistas passam por um dia de treinamento e depois trabalham por um dia como faxineiros, garis etc. |
Ao final, o magistrado achou a
experiência importante e positiva. “É um exercício importante, porque a nossa
carga de processos é muito grande. Se não tomarmos cuidado, corre o risco de
virar automático, de virar só mais um processo. Sendo que para as partes não é
isso, às vezes é uma das coisas mais importantes da vida delas”, diz.
BBC