Documento elaborado por
agências do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil mostram fissuras,
provocadas pela extração de sal-gema
Uma área equivalente a 78
campos de futebol (78 hectares) terá de ser esvaziada em bairros afetados por rachaduras
e afundamento desde fevereiro de 2018 em Maceió. É o que aponta um documento
elaborado por agências do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil. As
fissuras, provocadas pela extração de sal-gema na região, vêm se agravando e
causam apreensão entre os moradores.
O plano de remoção engloba os
bairros do Pinheiro, Mutange e Bebedouro e mostra que quatro hospitais, três
unidades de saúde, 12 escolas e uma subestação de energia que abastece 1/3 da
capital alagoana estão dentro da área de risco – alguns equipamentos terão de
ser realocados e outros, monitorados. Existe ainda risco de alagamento em
alguns pontos porque há áreas passíveis de colapso na Lagoa Mundaú, que tem
conexão com os bairros.
Uma área de 242 hectares é
atingida pelo problema, que afeta mais de 40 mil pessoas, segundo o documento.
E 2.114 imóveis terão de ser esvaziados. O cronograma de remoção não foi
divulgado. O Ministério do Desenvolvimento Regional considera a situação um
“desastre em andamento”. Procurada para detalhar as ações, a gestão municipal
não se manifestou.
As rachaduras mudaram a rotina
de moradores – parte já se mudou e outros assistem ao esvaziamento dos bairros.
É o caso do professor Eduardo Jorge Ramos de Araújo, de 47 anos, que mora no
Pinheiro, bairro de classe média de Maceió, desde os 4 anos de idade. Aos
poucos, viu seus amigos de infância abandonarem os imóveis condenados. Hoje,
mora sozinho no quarteirão em frente a um conjunto de 23 blocos de edifícios
praticamente abandonados por causa do afundamento.
Ele chegou a se cadastrar no
aluguel social do governo federal, como fizeram seus amigos, mas desistiu
porque o valor oferecido (R$ 1 mil) não pagaria nem metade da casa que
encontrou. “Teria de achar um imóvel equivalente ao meu, que pudesse acomodar
meus animais”, diz ele, que tem três cães e dois gatos. Araújo fez dos cães
seus companheiros de andanças no bairro, que hoje registra mais assaltos e
arrombamentos depois que dezenas de moradores deixaram o local. “Não dá mais
para andar sozinho em determinadas horas. Os cães pelo menos dão certa
segurança.”
Segundo o ministério, até o
momento a Defesa Civil Nacional repassou R$ 35,6 milhões para a concessão de
aluguel emergencial às famílias. O aposentado Jairon Pinheiro, de 65 anos, saiu
da casa onde morava em maio no Pinheiro e está recebendo o aluguel, mas não
conseguiu um imóvel com o valor. “Deixei um apartamento e uma casa de primeiro
andar. Foi bastante difícil alugar um apartamento. O preço subiu muito e só
achava por mais de R$ 1 mil. Consegui alugar por R$ 1,3 mil.”
Serviços
Em uma das áreas com
recomendação para realocação por causa de “processos erosivos e patologias
estruturais em edificações”, há um hospital filantrópico, que é referência para
hemodiálise e realiza 10 mil atendimentos por mês, além de cinco escolas
estaduais. A Secretaria de Estado da Educação informou não ter recebido nenhuma
nova notificação de interdição de unidades.
Outra zona, que tem até áreas
alagadas, abriga dois hospitais psiquiátricos com 298 pacientes e uma creche
que atende 221 alunos. Os prédios devem ser esvaziados. Uma escola estadual da
região já foi interditada. A subestação de energia elétrica do Pinheiro, que
abastece 1/3 da cidade, está na zona de monitoramento. E a linha de trem urbano
está dentro da área de risco.
Em nota, a Companhia
Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) informou que não foram observados
afundamentos ou alterações nas Estações Bebedouro, Mutange e Bom Parto do
Veículo Leve sob Trilhos (VLT), que recebem 2 mil por dia.
Apontada por um estudo
realizado pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) como principal responsável
pelo afundamento registrado nos bairros, a Braskem vai iniciar na segunda-feira
uma ação de cadastro para pagamento de indenizações e realocação de 1,5 mil
pessoas de áreas no entorno de 15 poços de extração de sal-gema. A remoção de
moradores de 400 imóveis e a criação de uma zona de resguardo na região haviam
sido anunciadas no fim de novembro, pouco depois de a empresa informar à
Agência Nacional de Mineração o encerramento das atividades de extração de
sal-gema e fechamento dos poços.
Segundo a petroquímica, ainda
não é possível estabelecer a relação entre o fenômeno e a atividade realizada
pela empresa. Na segunda, a Braskem iniciou um estudo com sonar para avaliar o
fundo da Lagoa Mundaú. Serão monitorados 30 pontos. À margem da lagoa, estão
regiões que integram a zona de alagamento. E há ainda pontos que podem ter
desmoronamento.
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