A aplicação deve render menos
do que a inflação em 2020
A queda dos juros, que barateia
o crédito e incentiva a produção, acendeu o alerta sobre a aplicação financeira
mais tradicional do país. Sem perspectiva de mudanças nos juros, a caderneta de
poupança encerrará 2020 rendendo menos que a inflação pelo segundo ano seguido.
Em 2019, a poupança rendeu
menos que a inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA). A aplicação rendeu 4,26% no ano passado, contra inflação de 4,31%. O
cenário não deve mudar em 2020. Enquanto as instituições financeiras projetam
IPCA de 3,6%, de acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal divulgada pelo
Banco Central, a caderneta renderá apenas 3,15% este ano caso os juros básicos
não mudem.
Busca de alternativas
Para o investidor tradicional,
este é o momento de buscar alternativas que pelo menos assegurem que o dinheiro
não perderá para a inflação. A migração para outras aplicações, no entanto,
exige cuidado. O investidor precisa estar atento ao prazo em que quer deixar o
dinheiro parado, à cobrança de impostos e a eventuais taxas de administração
para não sair perdendo.
Apesar de ser isenta de
tributos e permitir saques imediatos, a poupança rende 70% da taxa Selic, juros
básicos da economia hoje em 4,5% ao ano. Em contrapartida, os fundos e a maior
parte das aplicações em renda fixa pagam tributos e nem sempre têm resgate
imediato. O investidor corre o risco de perder dinheiro se sacar antes do
vencimento.
Segundo o professor de
finanças do Ibmec [atenção, editor. Ibmec não significa Instituto Brasileiro de
Mercado de Capitais. É o nome da instituição] Gilberto Braga, os fundos de
investimento representam uma das melhores opções para o investidor iniciante.
Isso porque a maioria dos fundos permite resgatar o dinheiro sem espera, como
na poupança. Ele, no entanto, lembra ao investidor que deve prestar atenção no
prazo de resgate e na finalidade do dinheiro.
“Quem migra para os fundos
precisa definir em que prazo quer investir. Para isso, é necessário em primeiro
lugar saber qual o objetivo da economia, para onde esse dinheiro está indo. Com
base nisso, o investidor deve prestar atenção nas taxas de administração e no
rendimento líquido [depois do desconto da taxa e do Imposto de Renda]”,
explica.
Comparação
A Associação Nacional dos
Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) elaborou uma
comparação entre a poupança e os fundos de investimento. Com a Selic em 4,5% ao
ano, a caderneta só é vantajosa para aplicações de curto prazo, no caso de
fundos com taxas de administração pequenas, e de longo prazo, no caso de fundos
com taxas mais altas.
Com taxas de administração de
1% ao ano, a caderneta empata com os fundos de investimento quando o resgate
ocorre em até seis meses e perde depois disso. Para taxas de 1,5%, a poupança
rende mais que os fundos para resgates em até um ano, empata com resgate entre
um e dois anos e perde quando a retirada leva mais de dois anos.
Com taxas de 2% ao ano, a
caderneta ganha dos fundos quando o resgate leva entre um e dois anos e empata
depois desse prazo. Se o fundo cobrar taxa de administração superior a 2,5% ao
ano, a poupança será vantajosa apenas em resgates após dois anos.
Títulos públicos
Outra opção para migrar da
poupança é representada pelos títulos do Tesouro Direto, programa que permite a
compra de títulos públicos por pessoas físicas. O resgate leva um dia útil
quando o pedido é feito até as 18h e dois dias úteis para pedidos depois desse
horário ou em fins de semana e feriados.
O imposto é descontado na
fonte, cabendo ao investidor apenas informar o rendimento líquido na declaração
anual de Imposto de Renda. Aplicações de até 30 dias pagam Imposto sobre
Operações Financeiras (IOF), mas, depois desse prazo, a alíquota cai a zero.
Vinculadas à Selic, as Letras
Financeiras do Tesouro (LFT) rendem o equivalente à taxa básica de juros e
podem ser resgatadas sem perdas desde que o investidor espere pelo menos 30
dias para não pagar IOF. Caso a Selic permaneça em 4,5% ao ano e a inflação
feche 2019 em 3,6%, o investidor terá rendimento real (acima da inflação) de
quase 1 ponto percentual.
Paciência
Para os demais títulos
públicos, corrigidos pela inflação ou prefixados (com juros fixos definidos no
momento da compra), o investidor precisa estar atento ao valor de mercado do
papel caso faça o resgate antes do vencimento. Dependendo das condições do
mercado, o aplicador pode ganhar ou perder dinheiro se não esperar o fim do
prazo.
“Os títulos prefixados com
vencimento em 2025 são atrativos para quem puder esperar, mas o ideal é que o
investidor deixe o dinheiro parado até o final”, explica Braga. No caso dos
títulos atrelados à inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA), ele recomenda que o investidor tenha paciência porque
essa é uma aplicação destinada a reservas de longo prazo, como dinheiro para a
aposentadoria.
“A vantagem dos títulos
vinculados ao IPCA é que eles vão render mais que a inflação se o investidor
deixar o dinheiro até o vencimento”, acrescenta o professor. O investidor pode
retirar o dinheiro antes do fim do prazo com ganhos, mas será necessário
avaliar a situação do mercado.
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Tópicos:
Economia