Funcionários dos Correios em alerta: correspondências e encomendas podem estar contaminadas




E ainda por cima, funcionários estão trabalhando sem proteção; quando tem, é porque compraram por conta própria

A encomenda que chega do carteiro às suas mãos pode estar contaminada pelo coronavírus. O alerta é do presidente do Sindicato dos Correios em Mato Grosso, Edmar dos Santos Leite, que pede a suspensão das atividades. Exceto no caso do transporte de itens de saúde que, neste momento, são essenciais.

Correspondências chegam ao Estado de diversas regiões do país e principalmente, de epicentros de contaminação, como as capitais de São Paulo e Rio de Janeiro. “Já há estudos que indicam que o vírus pode permanecer no plástico por até 72h e no papelão, por mais de 24 horas”, alerta.

Segundo Edmar, por mais que a correspondência tenha sido postada antes deste período, é preciso refletir: “E se ela for contaminada na parte final, como a triagem ou distribuição? E se esse trabalhador estiver infectado?”.

Depois de trabalhar em grupo, carteiros e entregadores com moto ou carro saem pela cidade (Agência Brasil)

Ele explica que antes da carta ou encomenda chegar à mão do destinatário, é manuseada por um funcionário que trabalha junto há pelo menos, outras dezenas de pessoas.

“No Centro de Triagem trabalham juntos pelo menos 200 funcionários. Depois, outro grupo de 30 organiza as cargas nos centros de distribuição e então os carteiros saem para a rua. Nessa etapa, tem contato com cerca de 180 pessoas por dia”.

Atualmente há mais de 1 mil funcionários dos Correios trabalhando em todo o Estado, a maioria sem proteção.

“Acrescento à essa situação crítica o fato de que agências também estão funcionando”. Ou seja, além dos setores administrativos, de triagem e distribuição, há o atendimento ao público nas agências.

“O movimento nas agências começou a cair ontem, mas mesmo com pouco movimento, eles manuseiam dinheiro o tempo todo, outro fator preocupante, dada a possibilidade de transmissão do vírus”.

Funcionários trabalham sem proteção

“Em todos estes locais os trabalhadores estão operando sem máscaras, luvas, álcool gel, papel toalha, copos plásticos e em algumas agências do interior, como Araputanga, Arenápolis e Canarana, não há sequer limpeza das agências”, denuncia.

As raras exceções em que eles têm algum tipo de proteção é por iniciativa própria.

Edmar disse que desde a terça-feira (17) vem pedindo à direção para suspender as atividades e garantir a operação apenas quando se tratar de medicamentos e materiais de limpeza indispensáveis ao funcionamento das unidades de saúde, por exemplo.

“Alguns laboratórios já mantém contrato com os Correios e a identificação é imediata, mas poderia ser criado um padrão de identificação destes materiais que são essenciais à vida. Porque é preciso ressaltar, a vida vem primeiro que o lucro”.

Ele enfatiza que não se pode manter um serviço em detrimento de outras vidas.

Segundo Edmar, os funcionários situados em grupo de risco, como acima de 60 anos, doentes crônicos, gestantes e lactantes, foram afastados. Mas eles representariam apenas 20% dos cerca de 1280 funcionários em todo o Estado.

“Mais de 1 mil seguem trabalhando nessa situação de muito risco não só para sua saúde, mas da família e quem poderá prever de que forma isso poderá impactar o resto da sociedade?”.

Verba para álcool gel e papel toalha

Na terça-feira (17) o Governo Federal liberou verba para a compra de itens para os funcionários atuarem com segurança, como álcool gel e papel toalha.

“Liberaram R$ 6.775,00 para Mato Grosso. Uma verba insuficiente para a quantidade de gente que temos e nem há mais álcool gel para vender. E ainda por cima não está incluído neste valor, compra de máscaras e luvas”, alerta.

O presidente do Sindicato, alarmado, cita que o presidente nacional dos Correios entrou com um pedido de liminar no STF para que, caso as prefeituras e governos determinem o fechamento do comércio, os serviços dos correios não sejam incluídos. “É muito preocupante o que estamos vivendo”. Edmar também faz parte do grupo de risco.

O Outro lado

A reportagem tentou contato via telefone com a assessoria de imprensa – ligando para três números diferentes – mas não obteve resposta até a publicação da matéria. O espaço está aberto à Superintendência dos Correios em Mato Grosso caso queira se manifestar.


O Livre

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