No mesmo dia, entretanto,
uma publicação no periódico Lancet colocou dúvida sobre eficácia do remdesivir
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O
remdesivir é um antiviral tipicamente usado no tratamento do ebola
Getty
Images
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R7 - Representando o
Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos EUA (Niaid, na sigla
em inglês), o médico Anthony Fauci, um dos nomes mais importantes da resposta
americana ao novo coronavírus, anunciou nesta quarta-feira (29) que testes com
o antiviral remdesivir mostraram que o medicamento tem um potencial
"certeiro" para tratar a covid-19.
Em um estudo conduzido
pelo Niaid com a participação de 1.063 pessoas ao redor do mundo, foi
constatado que o remdesivir diminuiu a duração dos sintomas da covid-19 de 15
para 11 dias. Os resultados completos do estudo americano não foram publicados
ainda.
O remdesivir foi
originalmente desenvolvido para tratar o vírus ebola. É um antiviral que
funciona atacando uma enzima de que o vírus precisa para se replicar dentro das
células.
"Os dados mostram que
o remdesivir tem um efeito certeiro, significativo e positivo na diminuição do
tempo de recuperação", anunciou Fauci e assessora a Casa Branca em
assuntos de saúde desde a gestão Ronald Reagan.
O médico comemorou
afirmando que os resultados "abrem as portas para o fato de que agora
existe a capacidade de tratar" pacientes.
Dúvidas
persistem
Mas o impacto do
medicamento na mortalidade, especificamente, não é tão evidente. No estudo, a
taxa de mortalidade foi de 8% nas pessoas que receberam remdesivir e 11,6% nas
que receberam um placebo. Essa diferença não é estatisticamente significativa,
portanto cientistas não podem definir sua importância.
Também não ficou claro, do
anúncio de Fauci, quem exatamente estaria se beneficiando do tratamento. Ele
permitiu ou acelerou a recuperação de pessoas que já se recuperariam de
qualquer maneira? Ou evitou que pessoas precisem de internação? O medicamento
funcionou melhor em pessoas mais jovens ou mais velhas? Ou aqueles com ou sem
outras comorbidades?
Outro sinal de que é preciso
cautela para avaliar os resultados deste estudo comandado pelo Niaid é a
publicação de um outro, conduzido por pesquisadores chineses e reproduzido na
revista médica Lancet também nesta quarta-feira (29).
Nele, a primeira
publicação de um estudo clínico randomizado sobre o medicamento, pesquisadores
não encontraram diferenças significativas entre o remdesivir e um placebo no
tempo de recuperação ou mortalidade.
O estudo publicado no
Lancet envolveu 237 adultos internados em estado grave por covid-19 em dez
hospitais em Wuhan, na China. Mas os testes acabaram sendo insuficientes pois,
com as medidas de isolamento, ficou mais difícil recrutar pacientes para o
estudo. Assim, os próprios autores reconhecem que esta dificuldade pode ter
influenciado nos resultados com o remdesivir.
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Estudo
publicado no Lancet não detectou diferenças significativas do remdesivir no
tratamento de pacientes internados com covid-19
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De todo modo, Mahesh
Parmar, que supervisionou na Europa a pesquisa do Instituto Nacional de
Alergias e Doenças Infecciosas dos EUA, afirma que não só este mas outros
estudos com o remdesivir precisam ser aprofundados para garantir sua eficácia.
"Antes que este
medicamento seja disponibilizado mais amplamente (para tratamento da covid-19),
algumas coisas precisam acontecer. Primeiro, dados e resultados (de pesquisas)
precisam passar por revisões para avaliar se o tratamento pode ser licenciado.
Depois, vários países terão que avaliar sua eficácia através de suas próprias
autoridades de saúde", explicou Parmar, diretor da Unidade de Ensaios
Clínicos MRC da Universidade College London.
"Enquanto isso, vamos
obtendo mais e mais dados a longo prazo deste estudo, e de outros, buscando
saber se a droga também evita mortes por covid-19".
O professor Peter Horby,
da Universidade Oxford, está conduzindo o maior teste do mundo sobre
medicamentos para covid-19.
Sobre a descoberta
anunciada por Fauci, ele comentou: "Precisamos ver os resultados
completos, mas se confirmado, seria algo fantástico, uma ótima notícia na luta
contra o novo coronavírus."
"Os próximos passos
são obter os dados completos e, conforme for, trabalhar no acesso universal ao
remdesivir."
Aprovação
rápida?
Babak Javid, consultor em
doenças infecciosas dos hospitais da Universidade Cambridge, afirmou que o
contexto atual pode acelerar este processo.
"Os dados são
promissores e, como ainda não temos tratamentos comprovados para a covid-19,
eles podem levar à aprovação rápida do remdesivir para o tratamento da
doença", disse Javid.
"No entanto, (os
resultados) também mostram que o remdesivir não é uma 'varinha mágica' nesse
contexto: o benefício geral na sobrevivência foi de 30%."
Outros tratamentos estão
sendo pesquisados para a covid-19, incluindo alguns tipicamente usados contra a
malária e o HIV, que miram o vírus. Em outra frente, estão em estudo outros
tratamentos que agem no sistema imunológico do corpo humano.
Acredita-se que os
antivirais sejam mais úteis nos estágios iniciais da doença, e os medicamentos
imunológicos, na fase mais tardia.
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Saúde