Segundo a desenvolvedora do trabalho, 30 mil moradores do país norte-americano devem ser testados em 27 de julho. Imunizante usa material genético do novo coronavírus
Manipulação do material genético do novo coronavírus é esperança do laboratório estadunidense Moderna
O laboratório Moderna, com
sede nos Estados Unidos, anunciou nesta terça-feira (14) que sua vacina contra
a COVID-19 provocou “robustos anticorpos neutralizantes” depois de duas
imunizações. As aspas fazem parte de publicação científica feita pelo Jornal de
Medicina da Nova Inglaterra.
O resultado positivo
permite que a empresa avance para a fase 3 do cronograma, marcada para o
próximo dia 27, quando 30 mil pessoas, todas moradoras dos EUA, devem servir de
cobaias.
“É a fase de avaliação de
eficácia pré-mercado. Essa é a última fase de desenvolvimento. Se o produto for
aprovado nesta fase, ele segue para ser aprovado ou não pelas agências
reguladoras, no caso do Brasil a Anvisa”, explica o diretor da Sociedade
Mineira de Infectologia, Antônio Toledo Júnior.
A vacina da moderna usa o
material genético do novo coronavírus, o chamado RNA, para induzir nosso
organismo a produzir anticorpos para lutar contra o micro-organismo causador da
COVID-19.
Segundo o infectologista
Antônio Toledo Júnior, no entanto, é válido ressaltar que nenhuma dos
imunizantes amplamente usados no mundo hoje foram desenvolvidos a partir desse
método.
Nas fases 1 e 2 de testes
da vacina do laboratório Moderna, 45 adultos saudáveis entre 18 e 55 anos
receberam o imunizante.
Em todos eles, os
pesquisadores encontraram anticorpos capazes de neutralizar o novo coronavírus.
Eles receberam três doses do produto: uma mais leve, outra intermediária e uma
última mais pesada.
Para a última fase, o
laboratório optou por usar a dose intermediária, que contém 100 microgramas do
imunizante. Todos os pacientes que passaram pelas fases 1 e 2 apresentaram
reações à vacina, como dor de cabeça, mialgia, fadiga e dor no local de
aplicação.
Para Antônio Toledo
Júnior, no entanto, essas reações são esperadas.
“Como a lógica da vacina é
estimular o sistema de defesa, então toda vacina pode resultar em efeito
colateral. Mas isso é comum, porque é secundário em relação à ativação do
sistema de defesa do corpo humano”, pontua o diretor da Sociedade Mineira de
Infectologia.
Ressalva
Por outro lado, uma
preocupação manifestada por Antônio Toledo Júnior diz respeito ao volume de
pessoas a serem testadas pelo laboratório Moderna.
Isso porque os 30 mil
habitantes analisados – a maioria deles de estados duramente atingidos pela
doença, como Texas, Arizona e Carolina do Sul e do Norte – podem não ser a
amostragem ideal.
“Esse número é bem grande.
É uma realidade da COVID-19: apesar de ser uma doença grave, ela atinge um
percentual pequeno da população. Quando você pega as vacinas chinesa e inglesa,
eles (os pesquisadores) estão testando só em profissionais de saúde. Como essas
pessoas têm maior chance de adoecer, eu preciso de uma amostragem menor para
provar que meu produto funciona”, opina.
“Não adianta que vacinar
um número grande de pessoas e elas terem um baixo risco de infecção (pelo novo
coronavírus)”, completa.
Outras vacinas
Entre as dezenas vacinas
contra a COVID-19 que estão em desenvolvimento no mundo, duas delas se
destacam, além dessa do laboratório estadunidense: uma da Universidade Oxford,
no Reino Unido; e outra da empresa farmacêutica Sinovac, da China.
Ambas estão na chamada
fase 3 dos testes e usam brasileiros como cobaias para a tentativa de aprovação
dos seus produtos.
Porém, elas têm diferenças
em relação ao material do laboratório dos EUA, em relação ao método de
produção.
O trabalho de Oxford se
volta à chamada vacina de vetores virais. A partir do adenovírus de chimpanzé,
obtém-se um adenovírus geneticamente modificado, que não pode ser replicado.
Esse micro-organismo
carrega uma proteína do novo coronavírus, o que incita nosso corpo a produzir
anticorpos.
É exatamente a mesma
estratégia usada nos estudos para criação de uma vacina contra a dengue,
explica o infectologista Antônio Toledo Júnior.
Já a pesquisa chinesa se
concentra na chamada vacina de vírus. Os pesquisadores usam amostras do novo
coronavírus inativadas, incapazes de causar a doença.
É a mesma estratégia
adotada pelos imunizantes contra sarampo e poliomielite. O desafio? Provar a
segurança dessa vacina.
Ações
Após anunciar os testes
positivos com sua vacina e avançar para a fase 3, o laboratório Moderna,
sediado nos EUA, viu suas ações dispararem na bolsa de valores.
No mercado de ações
Nasdaq, a farmacêutica registrou alta de 4,54%. No horário comercial, o
fechamento foi de 75,05 dólares: um reflexo da busca da humanidade por uma
proteção contra a COVID-19.
Com informações Estados de Minas.