Secretário conversou com o CORREIO após entrega de obras de requalificação do Complexo de Saúde César de Araújo (Rafael Menezes/Sesab) |
A retomada das aulas
presenciais na Bahia pode ser uma realidade a partir do mês de setembro,
segundo o secretário de Saúde do estado, Fábio Vilas-Boas. A declaração foi
dada em entrevista ao CORREIO, realizada na manhã dessa quarta-feira (12).
“Inicialmente, se está pensando em retornar progressivamente a partir do mês de
setembro, mas isso depende de como vai se comportar o número de óbitos. Se não
for em setembro, vai ser em outubro”, afirmou.
Para o secretário, a volta
às aulas pode acontecer ainda esse ano, mesmo em plena pandemia do novo
coronavírus, se for feita de forma organizada. A definição dos protocolos de
retomada e da data exata de retorno será feita por um grupo de estudo composto
por outros agentes do governo estadual. “Não sou eu quem define a previsão.
Isso está sendo discutido dentro de um grupo que envolve também a Secretaria de
Educação e o próprio governador”, explicou.
Um dos homens públicos à
frente das decisões referentes ao combate ao coronavírus no estado, Vilas-Boas
não tem tido muito tempo livre. Mesmo assim, encontrou um espaço na agenda para
receber a reportagem enquanto se deslocava do Hospital Ernesto Simões Filho, na
Caixa D'agua, para o seu gabinete, no Centro Administrativo da Bahia (CAB).
Ele tinha acabado de
entregar as obras de requalificação do Complexo de Saúde César de Araújo, em
Salvador, que abriga, dentre outros hospitais, o Geral Ernesto Simões Filho
(HGESF), que é uma das unidades de saúde baianas, referência no combate à
covid-19. No total, são 80 leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs)
exclusivos para o combate à doença no local.
Até às 14h dessa
quarta-feira, 12, a taxa de ocupação dos leitos de UTIs no estado é de 61% e,
segundo o secretário, tem caído progressivamente.
“O fato de você ter mais
leitos disponíveis não torna a população menos aderente às medidas de proteção.
Ninguém sai para a rua, pois sabe que vai ter leito de UTI, se precisar. As
pessoas que estão deliberadamente se expondo ao risco de se contaminarem fazem
isso de forma irresponsável e inconsequente”, defendeu.
Em nota enviada a
imprensa, a Embaixada da Rússia no Brasil afirmou que está negociando um acordo
sobre a vacina recém-registrada contra a covid-19 com o governo do Estado da
Bahia. Sobre isso, Fábio Vilas-Boas disse que as negociações estão paradas,
pois o estado aguarda o envio dos estudos científicos da vacina por parte do
governo russo. “Só vamos avançar a negociação após eles enviarem os estudos”,
garantiu. Confira a entrevista completa:
Segundo o último relatório do comitê científico do Consórcio Nordeste, a situação atual da pandemia na Bahia ainda não está controlada. Para eles, a disponibilidade de leitos de hospitalização ainda permite ter algum aumento de casos. Como vocês veem essa avaliação?
Não é a disponibilidade de
leitos que permite ter um aumento de casos. A nossa quantidade de leitos e a
baixa taxa de ocupação permite absorver um crescimento. Isso é verdade. Agora,
o fato de você ter mais leitos disponíveis não torna a população menos aderente
às medidas de proteção. Ninguém sai para a rua, pois sabe que vai ter leito de
UTI, se precisar. As pessoas que estão deliberadamente se expondo ao risco de
se contaminarem fazem isso de forma irresponsável ou inconsequente e não por se
sentirem confortáveis a ter leitos hospitalares que possam acolhê-las, caso
venham a ficar doentes. Estamos tendo atualmente cada vez menos pessoas
internadas, tanto em leitos de enfermaria como de UTIs. A taxa de ocupação tem
caído progressivamente.
Por que o Governo do
Estado mudou a orientação para que as pessoas que apresentarem os primeiros
sintomas da covid-19 procurem o hospital no início dos sintomas?
Desde a semana passada,
nós estamos pedindo o apoio de vocês da imprensa para estimular as pessoas a
buscarem o atendimento mais precocemente e não ficarem em casa esperando a
doença melhorar, pois ela pode piorar. E para os médicos, quando atenderem
pessoas com suspeita da covid-19 e portadores de comorbidades que caracterizem
um fator de risco, como pessoas acima de 60 anos, hipertensas, diabéticas,
portadoras de doenças pulmonares e renais, que possam internar essas pessoas,
mesmo sem haver uma indicação óbvia de internação. O objetivo é fazer uma
avaliação de risco intra-hospitalar, observar se o paciente vai evoluir bem ou
mal e garantir que essa pessoa não retorne ao hospital depois de ter tido uma
alta precoce, com um quadro de insuficiência respiratória, em um estado de
saúde mais grave. Já tem um mês que mudamos essa orientação. Agora que existe
uma taxa de ocupação menor dos leitos, insistimos que essas pessoas sejam
internadas precocemente. Está morrendo muita gente em casa, principalmente no
interior. Todas as regiões tem hospital que podem receber esses pacientes.
A Bahia já possui três
vacinas sendo testadas atualmente. Como anda a negociação do governo do estado
para trazer uma quarta vacina para ser testada aqui, uma de origem
chinesa?
Na sexta-feira passada
(07), nós tivemos uma reunião com o conselheiro da embaixada chinesa e com o
Grupo Nacional Farmacêutico da China – Sinopharm, que está responsável pela
produção de duas vacinas. Eles enviaram os documentos no final de semana. Eu já
recebi, enviei para a Procuradoria Geral do Estado da Bahia (PGE-BA). Agora
pela manhã, vamos assinar o memorando de entendimento. Com isso, eles mandam os
protocolos científicos. A gente vai submeter à Comissão Nacional de Ética em
Pesquisa (Conep) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em
Brasília. A gente acredita que, mais tardar, em duas semanas, tenhamos a
aprovação para começar os testes. Paralelamente, já me reuni com a equipe do
Instituto Couto Maia (ICM), que vai ser o centro principal de investigação. São
nove mil pacientes, três mil para a vacina A, outros três mil para a vacina B
e, por fim, três mil para o placebo. Nossa expectativa é que na primeira
quinzena de setembro comecemos a vacinação na Bahia.
O governo
precisa pagar para que a empresa chinesa venha até o estado?
A gente não compra vacina.
Normalmente, num estudo desses, o fabricante pagaria para a gente fazer o
estudo. Como essa é uma questão humanitária, nosso governo está se oferecendo
para assumir os custos envolvidos numa vacinação. Vamos ter que contratar
dezenas de pesquisadores, médicos, farmacêuticos, enfermeiros, montar centros
de vacinação, contratar estudantes de medicina bolsistas para preencherem os
prontuários dos pacientes, tudo feito de forma eletrônica. É basicamente um
investimento em mão de obra e infraestrutura. Não é um investimento grande. A
nossa ideia é que esse estudo chinês seja compartilhado com outros estados do
Nordeste através do Consórcio Nordeste. Vamos oferecer para os estados que
quiserem participar uma cota das nove mil doses. Com isso, a Bahia deixará de
ser o único estado do Norte e Nordeste que está testando.
Como
funciona essa vacina chinesa?
Ela é do tipo tradicional,
que utiliza um adenovírus, um vírus respiratório que não se reproduz. Os
cientistas modificam o genoma dele para produzir uma proteína igual ao do coronavírus.
Nesse caso, a vacina A vai produzir a proteína que eles chamam de spike, e a
vacina B vai produzir um outro segmento do vírus. Ambos fazem com que a célula
do sistema imune passe a reconhecer aquele segmento como algo que não pertence
ao seu organismo e, assim, são desenvolvidas células que produzem anticorpos
contra aquilo, as chamadas Imunoglobulinas. E é desenvolvida uma linhagem de
células T, que ficam guardadas na sua memória genética para o resto da vida.
Toda vez que um vírus aparecer no seu corpo com o spike ou aquele devido
segmento, a célula T vai reconhecer, vai começar a expandir e matará o
vírus.
Sobre a
vacina russa, como anda a negociação do governo do estado para receber as
doses?
A gente está aguardando
que eles enviem os resultados dos estudos científicos. Só vamos avançar a
negociação após eles enviarem os estudos. Assim como os chineses mandaram um
memorando de entendimento e um acordo de confidencialidade, a mesma coisa tem
que ser feita pela Rússia.
Quais são as
regiões da Bahia que o senhor avalia que estão numa situação que merece mais
atenção nesse momento?
A região Oeste,
extremo-sul e a região de Juazeiro e Petrolina. No extremo-sul, inauguramos
ontem (terça-feira, 11) 10 leitos de UTI em Porto Seguro. No Norte, vamos
inaugurar, amanhã (nesta quinta-feira, 13), 20 leitos em Senhor do Bonfim e, no
final do mês, vamos inaugurar mais 20 leitos em Juazeiro e outros 20 em Bom
Jesus da Lapa. A gente está resolvendo as áreas que estão com mais
dificuldades.
Podemos
retomar as aulas presenciais ainda esse ano? Há alguma previsão de data?
Acho que podemos sim, desde
que seja feita com planejamento. Não sou eu quem define a previsão. Isso está
sendo discutido dentro de um grupo que envolve também a Secretaria de Educação
e o próprio governador. Inicialmente, se está pensando em retornar
progressivamente a partir do mês de setembro, mas isso depende de como vai se
comportar o número de óbitos. Se não for em setembro, vai ser em outubro.
Quais as
atividades que o senhor avalia que só podem voltar após a vacina?
As festas coletivas.
Fora isso,
já dá para tudo voltar a funcionar com protocolos?
Dá pra gente fazer aos
poucos e ir vendo. Faz e vê. Se tiver alguma piora, volta atrás. Mas se for
fazendo aos pouquinhos, dá para a gente ir testando a resposta da pandemia.
Como temos leitos, se acontecer qualquer eventual reaceleração, vai dar tempo
de absorver o excesso de demanda que pode ser gerado.