Segundo Ministério Público, denúncia tem indício de crime de maus-tratos a animais
Um grupo de amigos se reuniu
em Camaçari, Região Metropolitana de Salvador, e usou um gato para fazer
churrasco. As imagens foram publicadas por um deles, que ironizou a situação e
disse que daria um "tratamento vip" ao felino. A prática é
considerada crime.
As imagens publicadas
mostraram o passo a passo do uso do animal para fazer o churrasco. Nas fotos,
um dos homens mostra o corpo do animal ainda inteiro e, depois, ele sendo
“preparado”. Por fim, o grupo posa com a carcaça do animal em mão, como um
troféu.
A denúncia foi feita no próprio
Instagram, pela página oficial do Grupo de Apoio e Proteção ao Animal de Rua
(Gapar) (@gaparoficial). “Um dos homens é morador de Camaçari, quem garante que
isso não foi aqui?, diz trecho da postagem, realizada nesta quarta-feira (13).
Apesar da indagação, a
reportagem apurou que todos os homens que aparecem na imagem são moradores da
cidade, sendo que três deles são parentes.
Logo após o caso vir à tona, o
perfil das imagens foi removido da rede social. No entanto, seguidores já
haviam feito prints do conteúdo. As imagens são fortes e, por isso, o CORREIO
optou por não divulgá-las na íntegra. As pessoas que aparecem na única imagem
desta reportagem também tiveram seus rostos borrados, por questão de segurança.
Nenhum dos amigos que participou do churrasco foi localizado para comentar o
assunto.
O Ministério Público Estadual
(MP-BA) tomou conhecimento da denúncia nesta quinta-feira (14), através de um
email anônimo com fotos retiradas antes da remoção do perfil na rede social.
O MP-BA se pronunciou dizendo
que as imagens indicam crime de maus-tratos a animais. “O email com as fotos
foi encaminhado para a Promotoria Regional de Camaçari para ser distribuído a
um promotor de Justiça tomar as medidas cabíveis para apuração dos fatos, como
solicitação da abertura de inquérito policial para investigar o suposto crime”,
diz o órgão por meio de bota.
O caso será apurado pelo
promotor Luciano Pitta, que atua na área de Meio Ambiente no município.
Crueldade
A reportagem teve acesso ao perfil
antes dele ser excluído. Nas publicações fixas do perfil, conhecidas como feed,
não havia nada de anormal: fotos de paisagens, de momentos familiares, até
citação de um trecho da Bíblia (1 Coríntios 13:11). Porém, nos stories (imagens
que somem após 24 horas), o ato estava registrado. A primeira foto exposta é do
corpo do gato sem couro, com a seguinte legenda: “O que temos pra Hoje”
A segunda imagem é intitulada
de “Tratamento Vip”. Nela, o animal aparece sendo mutilado por duas pessoas
para o consumo. Na última postagem, cinco homens aparecem exibindo como um
troféu as partes do animal, entre eles o dono do perfil, que segura a maior
parte do corpo do bicho.
Na denúncia feita pelo Gapar,
a entidade cobra posicionamento de veadores que foram eleitos defendendo a
causa animal. Além disso, perfis de pessoas engajadas na causa foram marcados,
como os de Luísa Mel (@luisamell) e o deputado estadual em São Paulo, delegado
Bruno Lima (@del.brunolima).
O CORREIO procurou o Gapar,
entidade formada por voluntários. Um dos entrevistados, que preferiu não se
identificar, comentou o ato. “Além de matar, que é um crime e não justifica,
eles ainda postaram como se fosse um troféu, fazendo apologia a tal
atrocidade”, declarou. O Gapar informou ainda que pretende registrar um boletim
de ocorrência.
A fundadora do grupo, Natália
Vieira, usou sua página no Instagram para fazer da denúncia. “Tentei não
acreditar. Estou mesmo no século XX?”, escreveu ela em repúdio. Os seguidores
da ativista da causa animal também condenaram o ato. “Que absurdo, até difícil
de acreditar!!!”, comentou @sianelimaa. “Indignada”, escreveu
@jeannelustosa. “Não tem nada que
justifique. Passando fome? Não meus caros, apenas vontade de comer uma carne
diferente. Sabemos que toda vida tem que ser respeitada. Já abatemos bois,
frangos, peixes pra nos alimenta. Pergunto: será mesmo necessário matar gatos,
cachorros, tatus, cobras só pra dizer que é fodão?”, opinou @t.o.s.c_1992.
Ainda nos comentários da
denúncia feita por Natália Vieira, um dos seus seguidores, @natalycruz_9, disse
que, em um outro perfil de Instagram de Camaçari, que também denunciou o fato,
o dono do perfil da foto disse que as imagens foram feitas outro estado, onde é
comum comer gato do mato. “Não era gato do mato e mesmo que fosse era crime
contra animal silvestre. Ambos dão cadeia”, rebateu @rosilenefernandesii. “É o que ele disse lá no post. Eu não defendo
essas coisas, não. Só estou relatando mesmo, que eles disseram ser ‘típico’ do
local”, justificou @natalycruz_9.
Lei
No Brasil, o corte de alguns
animais para abate, como boi, vaca, galinha, por lei, não são considerados
crime. Porém, o mesmo ato em animais domésticos e silvestres constitui em
prática criminosa.
No dia 29 de setembro do ano
passado, o presidente da República, Jair Bolsonaro sancionou, sem vetos, a lei
que estabelece pena de dois a cinco anos de reclusão para quem praticar atos de
abuso, maus-tratos ou violência contra cães e gatos.
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