Inflamação no órgão pode passar despercebida e afetar produção de sêmen, mas infertilidade não foi comprovada, diz urologista
A infecção causada pela
covid-19 pode prejudicar os testículos e afetar o sistema reprodutor masculino,
segundo revelou um estudo realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo (FMUSP). Isso acontece porque, de acordo com o urologista Alex
Meller, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, assim como no
pulmão, há nos testículos uma grande quantidade da enzima angiotensina 2, que
facilita a entrada do coronavírus na célula.
Os pesquisadores do estudo
analisaram 26 pacientes, entre 21 e 42 anos, que apresentaram sintomas leves e
moderados da infecção pelo SARS-CoV-2 e que não tinham nenhum outro problema
que pudesse comprometer a região testicular. Ao fim da análise, 42,3%
apresentaram epididimite, uma inflamação no epidídimo, canal localizado na
parte posterior dos testículos, mesmo sem queixas de dor.
A pesquisa foi publicada no
último dia 9 na revista científica Andrologia e mostrou que mais da metade dos
pacientes que desenvolveram epididimite apresentaram um aumento significativo e
perceptível da cabeça do epidídimo, além do aumento do fluxo sanguíneo, espessamento
da pele e aumentos volumétricos significativos e identificáveis da estrutura.
“Nossa hipótese é que os
padrões de epididimite SARS-CoV-2, descritos aqui pela primeira vez, são
distintos da epididimite bacteriana clássica que comumente começa a afetar a
cauda do órgão e, em seguida, progride para o corpo e, eventualmente, para a
cabeça”, diz a publicação.
Na publicação, os
pesquisadores explicam que a epididimite provocada pelo coronavírus pode passar
despercebida na avaliação clínica dos homens que desenvolveram a covid-19 e ter
efeitos prejudiciais na produção de sêmen. “O epidídimo é o local de muitas
reações bioquímicas essenciais nos espermatozóides, levando à capacitação para
a reação acrossômica, que é crucial para fertilizar o oócito e a motilidade
progressiva do esperma”.
Segundo Meller, ainda não há
nenhum estudo sobre o impacto da covid-19 na fertilidade em homens ou na
produção de testosterona. “Discute-se se ele [o coronavírus] está gerando
alteração na célula ou só se replicando sem afetar seu funcionamento. Agora, é
preciso entender se a presença do vírus gera ou não impacto”, explica.
O especialista recomenda, no
entanto, que homens que já foram diagnosticados com covid-19 e que estejam em
idade fértil, procurem um profissional em urologia para que seja feita uma
avaliação dos testículos e de possíveis alterações no sêmen. “Para não ser pego
de surpresa três anos depois sem nem saber o porquê. Mas as consequências para
a fertilidade devem aparecer após três meses ou mais do quadro infeccioso nos
testículos, então não adianta analisar precocemente”, explica.
Dor ou inflamação na região e,
eventualmente, sinais de febre são alguns dos sintomas que podem indicar se a
infecção pelo novo coronavírus atingiu o sistema reprodutor.
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