Rogério Maria, de 51 anos,
passou 68 dias internado ao todo em 2020. Começou 2021 com a vitória em um
bolão da Mega-Sena da Virada e o desafio de concluir sua recuperação. 'Tudo
isso me fez dar valor às pequenas coisas da vida', diz.
Rogério Maria no leito depois do coma — Foto: Arquivo pessoal
Rogério Maria é uma das 73.912 pessoas
que contraíram Covid-19 em Campinas (SP). Entretanto, sua trajetória torna a
recuperação uma conquista ainda maior. Dos 68 dias internado, 42 foram em coma
induzido, entubado. A alta e reabilitação desafiadora dividiram espaço com a
sorte, ganhou num bolão parte do prêmio da Mega-Sena da Virada em 2020.
"Aprendi a viver mais
feliz. Mesmo com todas essas sequelas, mas ainda vou superá-las. Não desisti e
não desisto jamais.".
Neste sábado (13), a
metrópole completa um ano do primeiro caso confirmado de coronavírus, uma
estudante de medicina que frequentou uma festa na Bahia, onde outras pessoas se
infectaram. Em 12 meses, 1.997 pessoas perderam a vida para a
doença, e muitas outras renasceram, como Rogério.
O analista de sistemas de 51
anos, pai de dois filhos, foi infectado em julho, pico da primeira onda da
pandemia. A piora no quadro veio rápido e ele ficou hospitalizado na Casa de
Saúde de Campinas.
"Sentei na cadeira de
rodas e passei pelo corredor do hospital. Essa é a última lembrança que tenho
daquele dia, antes dos 42 dias em coma".
80% dos pulmões comprometidos
Rogério precisou de uma
traqueostomia. Teve pneumonia e infecção bacteriana em decorrência da baixa imunidade
e do longo período de internação. 80% dos pulmões ficaram comprometidos. Ainda
apresentou trombose generalizada e foi submetido a 28 dias de hemodiálise.
"Minha família foi
chamada duas vezes para se despedir de mim, porque os médicos não acreditavam
na recuperação.".
Esposa, Iracema Teodoro passou
apreensão, angústia e dificuldades financeiras. "Era muito difícil passar
as notícias dos médicos para nossos filhos". Mas a esperança veio com a
melhora sucessiva do esposo. Rogério acordou.
"Fiquei três dias sem
dormir com medo de não acordar mais. O medo de não sair de lá e a saudade dos
meus filhos era demais. Eu chorava todos os dias.".
Rogério Maria retomou hábitos que cultivava antes de contrair Covid-19 — Foto: Arquivo pessoal
27 kg a menos e sem andar
Rogério foi para casa em
setembro com 27 kg a menos, queda de cabelo e a pele escurecida pelos remédios
que tomou. Teve perda de memória recente e lesões nos nervos periféricos das
duas pernas, que impossibilitariam qualquer movimento por seis meses, segundo a
previsão médica.
Durante a primeira quinzena em
casa, tentava levantar da cama e dar alguns passos, apesar das dores e da falta
de ar. Logo conseguiu caminhar pela casa, contrariando as expectativas.
"Pedi que levassem embora
a cadeira de rodas, o andador e a cadeira de banho, tudo que me lembrasse da
minha condição, pois eu tinha que superar o que estava passando. A partir daí,
me arrastava pela casa, me apoiava em tudo.".
Rogério faz sessões de reabilitação diárias — Foto: Arquivo pessoal
Benefício negado no INSS e
prêmio da Mega
Durante o coma, a família
realizou um pedido de auxílio por internação médica ao Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS), mas foi negado. A justificativa do órgão, segundo
Rogério, foi que ele estaria apto a trabalhar, mesmo com o atestado de coma
expedido pelo hospital.
Após novas tentativas, recebeu,
até o momento, apenas uma parcela do valor a que teria direito. O G1 questionou
o INSS, que disse estar analisando o caso para que os valores devidos sejam
pagos corretamente. Alegou que a documentação enviada em agosto não estava de
acordo com o necessário e que a perícia de Rogério está agendada para 31 de
março.
"Na avaliação presencial,
a perícia médica vai verificar a data de início da incapacidade, podendo
definir o pagamento retroativo do auxílio.", informou o órgão.
Em dezembro, a família recorreu
a uma vaquinha online para ajudar nas despesas com o tratamento. Não imaginavam
que também teriam sorte com um bolão da Mega-Sena da Virada. O grupo no qual
Rogério estava acertou cinco dezenas, e cada um recebeu o valor líquido de R$
7.325,26.
O ano de 2021 ainda tem
desafios. A capacidade pulmonar foi reestabelecida, ele recuperou 13 kg e ainda
aprimora os passos, sob os olhos de fisioterapeutas. Atualmente, Rogério já
consegue pular, correr e fazer exercícios de força. Um recomeço após a
Covid-19.
"Sou um cara alegre,
estou voltando a sorrir. É uma batalha diária e minha superação está
acontecendo. Tudo isso me fez dar valor às pequenas coisas da vida.".
Documento da Caixa com informações do prêmio que Rogério Maria recebeu na Mega-Sena da Virada — Foto: Arquivo pessoal
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