Uso de máscaras, higienização
das compras e alimentos e a limpeza das ruas não são mais iguais ao começo da
pandemia
Homem faz desinfecção de balaustrada de metal (Foto: Reprodução)
A cada dia, cientistas
encontram evidências sobre o novo coronavírus (Sars-CoV-2). Pesquisas sobre a
covid-19, infecção provocada pelo vírus, também seguem sendo publicadas e
atualizadas e, às vezes, o que sabíamos há um mês já é diferente do que sabemos
agora. Como se trata de uma doença recente, a cada momento surgem descobertas
e, por isso, as orientações técnicas podem mudar.
Já estamos há um ano em
pandemia no Brasil e, no meio do caminho, novas variantes do vírus apareceram.
É preciso se manter informado sobre as formas de infecção, prevenção e
efetividade das políticas públicas. Para atualizar informações sobre este
momento, O CORREIO traz pesquisadores para explicar ideias que foram sendo
revisadas sobre a covid-19.
1. Máscaras mais potentes
As máscaras de pano continuam
sendo muito úteis e cumprem um papel importante na prevenção à doença. O uso
delas foi muito incentivado no início da
pandemia porque, naquela época, havia uma escassez de máscaras cirúrgicas em
todo o mundo. De lá para cá, a indústria correu atrás de atender à demanda e,
neste momento, já temos disponibilidade de máscaras mais poderosas no mercado.
Então, se você puder, vale a pena pensar em investir em uma proteção mais
eficaz.
Nutricionista e
epidemiologista pesquisadora da Rede CoVida, Naiá Ortelan explica que há muito
já se sabe que máscaras do tipo N95/PFF2 são as melhores porque vedam bem o
rosto, impedindo mais a passagem do vírus. O incentivo à aquisição deste modelo
não se trata de uma descoberta, mas, sim, de nova orientação. Inclusive,
alguns países, como a Alemanha e Áustria, já instituíram uso obrigatório delas
em espaços fechados e lojas.
No início da covid-19, elas
eram indicadas apenas para profissionais da saúde por causa da falta desse
insumo a nível global. Com a reorganização da indústria e, sobretudo
devido ao aparecimento de várias mutações mais infecciosas do coronavírus,
pesquisadores têm indicado que as pessoas busquem proteções mais potentes.
Criadores do projeto ,
Beatriz Klimeck, que é doutoranda em Saúde Coletiva (Uerj), e o administrador
Ralph Holzmann, gestor de mídias sociais, se juntaram para fazer divulgação
científica dos melhores tipos de máscaras disponíveis hoje. Eles explicam que o
tipo PFF2/N95 é reutilizável quando deixado em local arejado e seco por três a
quatro dias após o uso, período em que o vírus vai ficando inativo. Por causa
desse intervalo até o novo uso, é melhor ter mais de uma.
Diferente da máscara de pano,
essas não podem ser lavadas ou higienizadas com álcool e água sanitária porque,
se forem, serão destruídas. Basta colocar em "descanso''. É possível
usá-las enquanto os elásticos ainda estiverem bons. Depois, descarte. Não
compre o modelo com válvula, esse tipo protege apenas você e não quem está
perto porque o filtro não é capaz de filtrar o ar na saída. Se você comprou uma
dessa por engano, ponha uma fita isolante para tampar a válvula provisoriamente
até adquirir outra e não visite idosos ou pessoas com comorbidades enquanto só
tiver essa máscara.
As máscaras cirúrgicas também
são opções melhores do que as de pano porque têm um clipe de metal para ajustar
no nariz.
2. Limpeza de embalagens e
comidas
Você lembra de quando
circulavam tabelinhas detalhando o tempo que o coronavírus ficava impregnado em
objetos e superfícies? No meio de fevereiro deste ano, uma orientação nova, da
Food and Drugs Administration (FDA/EUA), equivalente à Anvisa no Brasil,
indicou que já não há motivos para enlouquecer com a limpeza das compras do
mercado. Não é preciso gastar tanta energia com isso. A instituição
estadunidense emitiu um comunicado em que diz que a transmissão de coronavírus
por embalagens e comida é improvável, muito baixa ou quase irrelevante.
Sabe-se, há um bom tempo, que
a principal forma de transmissão da doença é de pessoa para pessoa, através de
aerossóis, ou seja, pequenas partículas que ficam suspensas no ar quando um
infectado tosse, espirra e fala. Para a FDA, o número de partículas de vírus
que, teoricamente, poderiam ser captadas ao tocar uma superfície seria muito
pequeno e a quantidade necessária para infecção por inalação oral é alta,
então, as chances de infecção ao tocar a superfície da embalagem é considerada
“extremamente baixa”.
Epidemiologista, Naiá Ortelan
conta que, para a ciência, a contaminação por contato com a superfície continua
sendo apenas uma hipótese não confirmada. Até hoje, não há relato concreto de
nenhum caso de infecção a partir dessa via e, por isso, a higiene das compras
deixou de ser uma grande preocupação. Não há indícios também de risco de
entregas por delivery, seja para alimentação instantânea ou compras, no geral.
Basta o cuidado simples de lavar as mãos após abrir as sacolas, e então pode-se
consumir de imediato ou guardar.
Portanto, consumidores podem
relaxar, não há tanta necessidade de higienizar as compras como prevenção ao
coronavírus, mas calma! É bom entender além dessa questão. O físico Vitor Mori,
pesquisador membro do Observatório Covid-19 BR, explica que uma das coisas
que mais causam angústia na pandemia é essa sensação de que não podemos fazer
nada para controlá-la.
“Limpar as compras é algo
visível e palpável e que cria a percepção de que temos controle sobre algo. O
problema é quando isso se torna uma preocupação excessiva. Ainda assim, muita
gente se sente bem fazendo isso. Em termos de higiene faz sentido... Estoques
de supermercado não são exatamente os ambientes mais higiênicos do mundo. Faça
o que te deixar mais confortável”, sugere.
Independente da pandemia, a
higienização de alimentos é considerada importante pelo Ministério da Saúde
porque algumas doenças — como a hepatite A, diarreia, cólera — podem ser
transmitidas pela comida contaminada por bactérias e vírus. A limpeza é uma
questão de se proteger contra outras enfermidades, principalmente em um momento
em que vai ser mais difícil conseguir ajuda médica, já que os sistemas de saúde
em boa parte do Brasil colapsaram ou ameaçam colapsar.
3. Desinfecção das ruas já não
faz sentido
Pesquisadores ao redor do
mundo têm chamado as ações de desifecção das ruas de “teatro da higiene”:
um desperdício de recursos e tempo apenas para dar a sensação de que algo está
sendo feito.
Em um artigo, a socióloga e
escritora turca Zeynep Tufekci, professora da Universidade da Carolina do
Norte, comentou o fenômeno já nos primeiros meses da pandemia e
criticou o que ela chama de 'políticas públicas inúteis e contraproducentes que
apelam para as ansiedades ao invés de serem baseadas em evidências
sustentáveis'.
Para Vitor Mori, engenheiro
biomédico e pesquisador membro do Observatório Covid-19 BR, o "teatro
da higiene" é perigoso porque a continuidade dessas iniciativas no Brasil
tem atrasado a atualização de políticas públicas mais eficazes de prevenção à
doença, avalia ele.
”Desinfecção de superfícies e
medição de temperatura é pouco útil para um vírus que é transmitido pelo ar por
pessoas assintomáticas e pré-sintomáticas”, diz.
4. Revisão sobre a volta ao
trabalho com base nos testes IgG e IgM
Embora sejam chamados de testes
rápidos por oferecerem resultados em menos de uma hora, os exames de anticorpos
IgG e IgM para detecção de covid-19 têm uma dinâmica bastante complexa, desde o
armazenamento até a maneira de serem interpretados. Logo nos primeiros meses da
pandemia, esses testes foram usados para encontrar “marcas” da presença do
vírus nas pessoas por falta de insumos para o exame mais confiável, o RT-PCR,
que até hoje demora de 4h a 10 dias para o resultado. Uma série de condições
fez os testes rápidos serem imprecisos, como a própria qualidade duvidosa dos
produtos, a aplicação por profissionais nem sempre qualificados, armazenamento
errado, variações climáticas que provocaram instabilidade e até o nível de
carga viral das pessoas.
Muito usado como método de
triagem, esses testes foram e continuam sendo úteis porque foram melhorados,
alcançam mais gente e dão resposta mais rápida, por isso estavam sendo usados
como condicionantes e orientadores para a volta ao trabalho, como lembra o
farmacêutico e bioquímico Cláudio Paranhos, professor da UniFTC.
Coordenador de saúde
ocupacional da Fecomércio do Ceará e pesquisador do centro de inovação do SESI,
o médico Cláudio Patrício explica que, embora isso tenha ocorrido no começo da
pandemia, hoje o exame para detecção dos anticorpos não deve ser usado para
diagnóstico da covid-19, portanto, não deve ser solicitado para definir o
início ou término do afastamento das atividades de um trabalhador.
Estes exames têm sido
recomendados apenas para inquéritos epidemiológicos, ou seja, quando se quer
detectar o grau de produção de anticorpos de alguém. Testes rápidos não podem
ser usados para basear o retorno ao trabalho porque os resultados podem não
aparecer positivos e o empregado seguir espalhando vírus no ambiente de
trabalho. A avaliação para liberação ou afastamento tem sido feita com base na
janela de dias e acompanhamento dos sintomas. Em geral, o afastamento dura, no
mínimo, 10 dias, mas pode chegar a até 14 dias a partir do primeiro dia de
sintomas.
5. Planos de
saúde obrigados a cobrir testes
Desde março do ano passado, os
planos de saúde estão obrigados a cobrir os exames do tipo RT-PCR para pessoas
que desconfiam ou provavelmente estão infectadas. Só bem mais tarde, cerca de
cinco meses depois da chegada do vírus, é que os testes rápidos, que medem
anticorpos IgG e IgM, foram incluídos nesse rol de procedimentos dos planos,
após muita discussão.
De qualquer maneira, o exame
recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é o RT-PCR, porque ele
identifica o tipo de vírus da infecção e confirma a covid-19. Quando estiver
com suspeita de síndrome gripal, a pessoa deve procurar o serviço médico para
verificar qual exame será melhor indicado e, então, buscar a operadora do plano
de saúde para pedir indicação de um estabelecimento que tenha cobertura para a
realização do teste.
*Veja como saber quais
pesquisas levar a sério:
Nem todo estudo é confiável e
é preciso ter bastante cuidado ao se deparar com conteúdos científicos ou
supostamente científicos. Entenda em três pontos básicos:
1. Há pesquisas preliminares
que não foram revisadas por outros cientistas e que não foram
publicados em revistas científicas.
2. Esses estudos são chamados
de pré-prints e devem ser vistos com muita cautela. Muitos destes conteúdos
evidenciam a necessidade de mais investigações sobre temas e não devem orientar
nem a prática médica e nem a vida individual.
3. É preciso ainda mais
atenção com pesquisas financiadas por empresas privadas porque pode haver
conflito de interesses por trás dos resultados.
*Revisado
por Ana Arnt, coordenadora do Blogs de CIência da Unicamp
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