Soldado morto na Barra discutia com os colegas por divergências de opinião

Wesley Soares era brincalhão, mas não aceitava ideias diferentes das suas, dizem policiais que atuavam com ele no 72ª CIPM

 


Um garotão de  farda. Assim foi definido por amigos e colegas da Polícia Militar o soldado Wesley Soares, morto no domingo, 28, no Farol da Barra após ter tido um possível  surto psicótico, quando bloqueou a região por quatro horas e disparou tiros de fuzil . Wesley passou mais de três horas negociando com o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), mas acabou morto ao atirar contra os policiais, segundo afirma o comando-geral da Polícia Militar. O PM foi atingido em pelo menos três regiões do corpo, incluíndo tórax e abdômen.

Colegas que trabalharam com o soldado afirmaram, nesta segunda-feira, 29, que, nos 13 anos na PM, Wesley sempre foi prestativo, brincalhão, sorridente e cumpridor de suas obrigações na 72ª CIMP (Itacaré). No entanto, nos últimos dias,  estava nervoso, e o motivo, ainda segundo os mesmos colegas, seriam divergências políticas. O policial não concordava em fazer cumprir o fechamento do comércio, medida adotada para combater o avanço da pandemia.

“Ele era contra o fechamento do comércio, mas nunca deixou de cumprir as ordens. Fazia, mas sempre dizia que não estava correto, que o comerciante tinha que trabalhar”, contou ao CORREIO um policial da 72ª CIPM, que pediu para não ser identificado. Por telefone, o colega disse ainda que Wesley era calmo, mas que já há algum tempo discutia quando algum colega não compartilhava das opiniões dele. 

O comportamento de Wesley no domingo deixou os colegas espantados. O soldado, antes de ser morto pelo Bope por volta das 18h30, invadiu o gramado em frente ao Farol, por volta de 14h20, desceu do veículo e começou a dar tiros para cima. “Nunca imaginávamos que ele fosse reagir dessa forma. Nunca apresentou surto no trabalho, não tomava remédio controlado, não usava drogas, não bebia.  Era um cara da geração saúde.  Nunca sequer levou advertência”, disse o colega.

Wesley trabalhou nas companhias de Itamaraju e Paulo Afonso. “Conheci ele lá em Paulo Afonso e depois vim para a unidade de Itacaré. Como a companhia é grande, a gente se encontrava nos plantões extras. E em todas as vezes, ele sempre demonstrou tranquilidade. A última vez que o vi, foi há dois meses e ele estava bem, sorrindo como sempre. Era um menino bom”, declarou outro PM da 72ª CIMP, que também optou pelo sigilo.  

Família e amigos 
Os parentes de Wesley estiveram nesta segunda-feira, 29, pela manhã no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR) para a liberação do corpo. Eles estavam na companhia de advogados e prepostos da PM e da Associação dos Policiais e Bombeiros do Estado da Bahia (Aspra), mas não quiseram falar com a imprensa. O corpo do soldado  foi liberado para a cidade de Itabuna, onde o ele residia, e foi sepultado ontem mesmo.

Uma vizinha de Wesley, que também pediu para não ser identificada, disse que  era amiga do solado desde a infância. “Era um bom filho, amigo, irmão, gente do bem, muito positivo, muito doce”, acrescentou ela, que se mostrou chocada com a morte do amigo. “Está todo mundo em estado de choque, ainda mais porque ele foi criado na igreja pelos pais”, disse.  
Perguntada se percebeu alguma mudança em Wesley nos últimos anos, a amiga respondeu que o que espanta é justamente ninguém ter percebido nada. “Nunca soubemos que ele agrediu alguém, que abusou do poder da farda”, afirmou.

Já a amiga Joseane Torres Santana, 28 anos, disse que Wesley dizia estar passando por problemas na corporação. “Ele dizia que estava se sentindo oprimido, mas não entrava nos detalhes”.

A amiga disse ainda ter se colocado à disposição do rapaz para o escutar e o aconselhou a buscar ajuda profissional. “Meu pai é policial militar aposentado e já precisou de tratamento psiquiátrico. Ele até disse para Wesley procurar ajuda psicológica fora da PM, pois senão ele só iria se prejudicar”,disse.

PM se diz surpresa
O governador Rui Costa (PT) publicou, também nesta segunda-feira, 29, um vídeo em suas redes sociais lamentando a morte do soldado Wesley. Rui disse ‘lamentar profundamente’ o desfecho da operação que tentava controlar o agente em aparente “descontrole emocional”. 

“Quero lamentar profundamente o fato ocorrido neste domingo e ao mesmo tempo manifestar meus sentimentos à família do policial envolvido. Também quero estender minha solidariedade a todos os policiais que participaram da operação e colocaram suas vidas em risco”, afirmou Rui, que também criticou a "politização" da morte do PM.

A Polícia Militar afirmou que ainda não sabe o que motivou o possível ‘surto psicótico’ do soldado Wesley Soares. Em entrevista coletiva, o comandante da PM, coronel Paulo Coutinho, afirmou que não há conhecimento de nenhum fato que pudesse ter motivado a situação no Farol da Barra. "Estamos todos surpresos e atônitos com o que aconteceu", afirmou o comandante.

Ainda de acordo com ele, Wesley morava com a irmã em Itabuna e tinha terminado um relacionamento amoroso há três meses, mas de forma amigável. O PM tinha um comportamento exemplar e não havia apresentado problemas psiquicos antes. O coronel ainda acrescentou que estava em contato com a família do policial desde o início das negociações, e que ele mandou um helicóptero trazer as duas irmãs de Wesley para Salvador, ainda no domingo, para ajudar a convencer o PM a se entregar, mas que não houve tempo. Quando a aeronave estava pousando o tiroteio acontecia no Farol da Barra.

O comandante contou que uma das estratégias era tentar vencer o soldado pelo cansaço, mas que isso não foi possível porque ele atacou os militares que tentavam a negociação. Os primeiros tiros foram dados em regiões de imobilização, como pernas e braços, mas que o PM continuou atirando mesmo depois de cair no chão. Sobre a ação do Bope, o comandante-geral explicou que não tinha como prever o que poderia ter acontecido caso os policiais não tivessem reagido aos disparos feitos por Wesley contra eles. 

Com informações Correio 24 horas.

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