Ministério diz estar preocupado com a inversão da curva de infeções pela covid-19, que voltou a mostrar crescimento, pressionando o sistema de saúde. Para deixar a situação mais grave, já são sete os casos registrados da variante do novo coronavírus vinda do exterior
crédito: Nelson Almeida/AFP - 29/4/21 |
O governo federal está diante
de três grandes preocupações: a possibilidade de uma terceira onda da pandemia
do novo coronavírus, como admitiu, ontem, o ministro da Saúde, Marcelo
Queiroga, o que levaria à necessidade de ação de restrições por parte dos municípios
para conter o avanço da doença; o avanço da cepa indiana, que depois do
Maranhão e do Ceará, transitou por São Paulo e pelo Rio de Janeiro; e a
hipótese de essa nova mutação do vírus piorar a terceira onda, seja pela
velocidade de infecção ou por tornar o agente infeccioso ainda mais agressivo e
letal.
Ao todo, são sete os registros
da nova variante no Brasil: seis de um navio chinês que está fundeado na Baia
de São Marcos, no Maranhão, e o passageiro vindo da Índia que entrou no país
pelo aeroporto de Guarulhos e está isolado em Campos dos Goytacazes, no norte
fluminense. “A terceira onda é uma preocupação. Assistimos, agora, a uma
redução da tendência de queda de óbitos. Isso pode ser resultado da
flexibilização das medidas de bloqueio. Quando se abre, naturalmente surgem
novos casos. Se essa tendência é desmesurada, vai ter uma nova pressão ao
sistema de saúde, que posteriormente se reflete em óbitos. Mas também pode ser
fruto de uma variante e ainda não temos essa resposta”, explicou Queiroga, em
audiência pública na Câmara dos Deputados.
De acordo com Julio Croda,
médico infectologista e pesquisador da Fiocruz, a tendência de uma terceira
onda se deve, em grande parte, à flexibilização das medidas restritivas mesmo
com taxas de ocupações hospitalares altas: “A flexibilização não veio em um
momento oportuno, já que a maioria dos estados apresentava a taxa de ocupação
acima de 80%”, observou. Para Croda, a cepa indiana também pode ser um
agravante “É mais transmissível e apresenta uma resposta autoimune maior. Por
isso, pode rapidamente se tornar predominante no Brasil”, previu.
Alexandre Naime Barbosa, chefe
do Departamento de Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp),
compartilha da preocupação em relação à variante indiana. “Uma pessoa que pega
essa variante tem mais chances de transmitir a doença do que uma que pegou o
vírus original. Estamos estudando se essa variante pode levar a casos mais
graves se comparada com o vírus original”, afirmou.
Recrudescimento
O novo Boletim do Observatório
Covid-19, elaborado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e divulgado ontem,
alerta para o recrudescimento da pandemia nas próximas semanas. Mostra que
houve um aumento das taxas de incidência de casos novos da covid-19 entre 16 e
22 de maio. “O aumento no número de internações, demonstrado pelo novo aumento
das taxas de ocupação dos leitos de UTI é resultado desse novo quadro da
pandemia no Brasil”, ressalta o boletim.
O boletim da Fiocruz mostra,
também, que, entre os dias 17 e 24 de maio de 2021, as taxas de ocupação de
leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) de covid-19 para adultos no
Sistema Único de Saúde (SUS) aumentaram ou se mantiveram estáveis, em níveis
elevados, em praticamente todo o Brasil. Isso reforçaria a avaliação de que a
tendência de queda, que vinha sendo observada até por volta do dia 10 deste
mês, se interrompeu.
O Brasil registrou, ontem,
2.398 mortes causados pela covid-19, de acordo com os dados do Conselho
Nacional de Secretários de Saúde (Conass) — totalizando 454.429 óbitos. O
levantamento, que compila dados de secretarias de Saúde dos 26 estados e do
Distrito Federal, apontou ainda 80.486 novos casos de covid-19 nas últimas 24
horas, com um total de 16.274.695 registros desde o início da pandemia.
Coronel é exonerado
O governo federal exonerou,
ontem, George da Silva Divério do cargo de Superintendente Estadual do
Ministério da Saúde no Rio de Janeiro. Coronel do Exército, em novembro do ano
passado ele assinou contratos de R$ 29 milhões com duas empresas, sem licitação,
para fazer reformas em prédios da pasta no estado, em plena pandemia. As obras
foram consideradas urgentes, por isso a licitação foi dispensada. Depois de
assinados, os contratos foram anulados pela Advocacia-Geral da União (AGU), que
não constatou razão para a dispensa de licitação.
Divério foi nomeado em junho
de 2020 pelo então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello. Por se tratar
de cargo DAS 5, a exoneração do coronel foi assinada pela Casa Civil da
Presidência e está publicada no Diário Oficial da União (DOU).
Recentemente, o
vice-presidente da CPI da Covid do Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP),
afirmou que existe a possibilidade de a comissão pedir a quebra de sigilo
bancário de empresas e citou como exemplo o caso das companhias que reformariam
imóveis do Ministério da Saúde no Rio, sob orientação de Divério.
De acordo com Randolfe, esses
fatos “não esclarecidos” precisarão ser abordados pelo colegiado. O senador
também criticou o valor dos contratos. Segundo ele, o valor representaria 750
mil doses de vacina contra covid-19.
Caminhoneiros cobram vacinação
crédito: Tomaz Silva/Agencia Brasil |
Os caminhoneiros continuam à
espera da inclusão da categoria entre os grupos prioritários para a vacinação
contra a covid-19. Em março, entidades que os representam remeteram carta ao
presidente Jair Bolsonaro e ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, cobrando a
imunização para um grupo de trabalhadores que está na linha de frente da
economia, sobretudo porque boa parte da produção brasileira é escoada pelas
rodovias. Mas, até agora, não obtiveram uma resposta ao pleito, apesar de parte
da categoria ser apoiadora do governo.
Wallace Landim, o Chorão,
presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores
(Abrava) não entende a razão da demora. “Os caminhoneiros carregam grãos, fertilizantes,
estamos em contato com as pessoas do porto, com o pessoal que vem de fora.
Estamos preocupados e cobrando o governo. Ficamos felizes pelos portuários, que
receberão a vacina, mas também fazemos parte dessa cadeia”, lembrou.
De acordo com Chorão, a
previsão é de que os caminhoneiros somente sejam submetidos à vacinação no
final do terceiro trimestre — ou no começo do quarto. “Estamos incomodados com
a previsão que só vamos nos vacinar depois de setembro e diversos outros grupos
estão na nossa frente. Nós trabalhamos para nunca deixar faltar insumos
hospitalares que chegam ao país, nós nunca paramos”, desabafa.
Antepenúltimos
Segundo o Ministério da Saúde,
a categoria será a 27ª a receber a vacina, das 29 incluídas no grupo
prioritário no Plano Anual de Operacionalização de Vacinação contra a Covid-19
(PNO). Aproximadamente 72,2 milhões de brasileiros estão nessa condição, o que
representa quase 36% da população do país e inclui idosos, comorbidades,
professores e gestantes.
Já o presidente do Sindicato
de Caminhoneiros de Ourinhos (Sindicam), Ariovaldo de Almeida Silva, ameniza as
críticas de Chorão e defende que a vacinação dos caminhoneiros deve ser
responsabilidade não apenas do governo federal, mas também de estados e municípios.
“O governo tem sido muito solícito com os caminhoneiros. Nós entendemos que
existem representações mais fortes do que as nossas e que ainda não conseguimos
a vacina por questões logísticas. Estamos nos esforçando na interlocução com o
governo federal e os estados para nos vacinarmos. Até porque não tem nenhum
ponto no meio das estradas para vacinar os caminhoneiros, o que deverá ser
feito nos municípios”, explicou.
O PNO organiza os grupos
prioritários para a vacinação. “Foram definidos conjuntamente com as áreas
técnicas do Ministério da Saúde e colaboradores no âmbito da Câmara Técnica
Assessora, estabelecendo os critérios a serem adotados por ocasião da
vacinação, conforme quadro 3. Nesse cenário, os grupos de maior risco para
agravamento e óbito, caso venham a se infectar, devem ser priorizados”,
salienta. (Com GC)
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