Variação da gripe aviária já provoca surtos entre aves e foi detectada pela 1ª vez em humanos em russos de fazenda avícola
Veterinários fazem teste de gripe aviária em pinguins na Dinamarca
O mundo ainda não se recuperou
da pandemia do novo coronavírus, que há um ano e meio causa a morte de milhares
de pessoas, e já existe a possibilidade de uma nova crise na saúde global. Uma
variação do vírus da gripe aviária chamada de H5N8 foi apresentada por
pesquisadores chineses com potencial de se disseminar entre humanos.
Os virologistas Weifeng Shi e
George F. Gao publicaram um artigo na conceituada revista científica Science e
alertaram que as mutações da gripe aviária podem ser desastrosas. "Vários
tipos do vírus da gripe aviária têm potencial zoonótico porque foi demonstrado
que eles cruzam a barreira das espécies, transmitindo para mamíferos, incluindo
humanos. O monitoramento contínuo e vigilante para evitar mais
transbordamentos, que podem resultar em pandemias desastrosas", alertam no
artigo publicado na última semana.
Os pesquisadores explicaram
que o H5N8 pode se propagar rapidamente entre aves do mundo e consequentemente
atingir as pessoas, já que o vírus tem alta capacidade de ligação ao
receptor do tipo humano.
Os primeiros casos de
infecção aconteceram na Rússia, em dezembro de 2020, mas só foram confirmados
em fevereiro deste ano. Sete trabalhadores de uma fazenda avícola, que cuidavam
de aves contaminadas, tiveram os exames analisados e detectaram a presença do
H5N8.
De acordo com informações da
agência de saúde russa, os pacientes não apresentaram sintomas relevantes e a
doença não apresentou transmissão entre humanos.
Os cientistas chineses são os
mesmos que, em dezembro de 2019, alertaram sobre o perigo do SARS-CoV-2 e ambos
não se mostraram otimistas sobre os efeitos na população da nova mutação do
vírus da gripe aviária.
“A análise filogenética
revelou a disseminação global do H5N8 tornou-se uma grande preocupação para a
avicultura e a segurança da vida selvagem, mas, criticamente, para a saúde
pública global”, publicaram no artigo.
E, complementaram: “A grande
migração de longas distâncias de aves selvagens, a capacidade de rearranjo e
mutação do vírus da gripe aviária e o aumento da capacidade de ligação ao
receptor do tipo humano é imperativo que não sejam ignoradas as chances de
disseminação global e o risco potencial do H5N8 para avicultura, avifauna e
saúde pública global”, ressaltaram.
O epidemiologista e professor
da Faculdade de Saúde Pública da USP, Eliseu Waldman explica que o contato
intenso entre homens e animais ao longo dos anos aumentou a tendência de novas
epidemias.
“A forma como o homem tem
contato com os animais cria o que chamamos de saltos. O que significa que um
vírus que circula em um animal, se adapta e atinge a população humana, que se
escapar pega outras pessoas sem nenhuma resistência”, alerta.
O presidente da SBIm
(Sociedade Brasileira de Imunizações), Juarez Cunha explica que todas as
infecções do influenza surgem a partir de animais e as transmissões tendem a
aumentar com o passar do tempo.
"Todos os vírus influenza
tem reservatórios em animais. Se imagina que mais cedo ou mais tarde, temos de
estar preparados para acompanhar as transmissões e conseguir controlar. A
transmissão primeiro é de animal para animal; depois de animal para humano e em
seguida de humano para humano. Para que isso não acontece é importante combate
rápido com medidas drásticas, como a de dizimar os animais contaminados",
disse o médico.
Nos animais, o H5N8 foi
detectado pela primeira vez na China, no ano de 2010. Em 2014, aconteceu um
segundo surto em aves que se espalhou por Japão e Coreia do Sul. A doença
atingiu aves pela terceira vez em países da Europa e nos Estados Unidos, em
2016. No ano passado, cerca de 46 países registraram surtos da doença e milhões
de animais precisaram ser sacrificados.
O que fazer para não virar uma
epidemia?
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A dupla chinesa lembrou que
durante a pandemia da covid-19 houve um aumento da preocupação com os cuidados
pessoais e os surtos de gripe diminuíram entre as pessoas, mas caiu a
vigilância e o controle para o surgimento de novas doenças.
“Devido à pandemia, as medidas
de prevenção e controle - incluindo mobilidade reduzida, maior uso de máscaras
e maior distanciamento social e desinfecção - reduziram drasticamente a
incidência global dos vírus sazonais da influenza humana A e B. No entanto, os
dados podem ser subestimados e devem ser interpretados com um grau de cautela
porque a covid-19 influenciou os comportamentos de busca por saúde. Porém, o
vírus da gripe aviária causou surto frequente em animais de vários países dos
continentes, especialmente durante o inverno”, ressaltaram no artigo.
Mesmo com o alerta de perigo
feito por Shi e Gao, eles afirmaram que medidas como vigilância de granjas,
atualização da vacina da gripe para os animais, a partir da descoberta da nova
mutação, podem controlar a propagação do vírus nas fazendas e,
consequentemente, segurar o salto em humanos.
Os pesquisadores ressaltam:
“Educação e divulgação também são importantes, incluindo medidas de proteção
pessoal reforçadas durante a temporada de influenza, mantendo-se longe de
pássaros selvagens e evitando caçar e comer pássaros selvagens”, finalizam
eles.
Cunha reafirma que a
vigilância é a melhor forma de evitar que a doença evolua. "Não tem
como dizer se a transmissão vai ou não acontecer. Por isso, a vigilância deve
ser frequente e o uso de medidas preventivas não farmacológicas deve ser mais
forte nos trabalhadores rurais, que trabalham diretamente com o animal. Nos
casos que o causador é um animal silvestre é mais difícil de controlar, mas é
importante verificar se existe mortalidade de aves fora do normal",
finalizou Cunha.
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