Veja respostas para as dúvidas mais comuns. Anvisa alerta contra uso exagerado do paracetamol para alívio de dores e febre após a vacinação, e especialistas vetam uso de anti-inflamatórios como aspirina, diclofenaco ou ibuprofeno.
A vacina da AstraZeneca contra
a Covid-19, produzida no Brasil em parceria com a Fiocruz, tem
apresentado reações – já previstas na bula – em parte dos vacinados.
Abaixo, nesta reportagem,
confira respostas para 11 perguntas relacionados à aplicação do imunizante:
- Quais são os efeitos colaterais mais
comuns da vacina AstraZeneca/Oxford?
- Quanto tempo após a injeção podem surgir
os efeitos colaterais? Quanto tempo eles duram?
- Posso tomar remédio contra os efeitos
colaterais? Algum não é recomendado?
- Devo tomar a vacina de AstraZeneca/Oxford
se estiver grávida?
- Qual é o risco de trombose após tomar a
vacina?
- Se eu já tive trombose antes, tenho maior
risco de ter depois da vacina?
- Como saber se um sintoma é alerta de
trombose?
- Existe alguma maneira de prevenir a
trombose pós-vacina?
- Se eu já tomo remédios anticoagulantes,
tenho risco menor de ter trombose pós-vacina?
- A probabilidade maior de trombose é após a
primeira ou a segunda dose?
- Por que os casos de trombose só ocorreram
com vacinas de vetor viral?
Veja as respostas abaixo:
1. Quais são os efeitos
colaterais mais comuns da vacina?
De acordo com os dados
reunidos nos estudos clínicos de fase 3, os efeitos colaterais mais comuns
associados à vacina foram:
- Sensibilidade no local da injeção (relatada
por mais de 60% dos voluntários);
- Dor no local da injeção, dor de cabeça e
fadiga (relatadas por mais de 50% dos
voluntários);
- Dor no corpo e mal estar (relatadas
por mais de 40% dos voluntários);
- Febre e calafrios (relatados
por mais de 30% dos voluntários);
- Dor nas articulações e náusea (relatadas
por mais de 20% dos voluntários).
A maioria das reações adversas
foi de intensidade leve a moderada e normalmente resolvida poucos dias após a
vacinação. As reações adversas foram mais frequentes após a primeira dose
da vacina.
Um efeito colateral incomum é
o inchaço das glândulas na axila ou no pescoço, no mesmo lado do braço
onde foi aplicada a vacina. Isso pode durar cerca de 10 dias, mas, se durar
mais, consulte seu médico.
As reações adversas foram
geralmente mais leves e relatadas de forma menos frequente em idosos (com
65 anos de idade ou mais).
2. Quanto tempo após a injeção
podem surgir os efeitos colaterais? Quanto tempo duram?
Os efeitos colaterais
normalmente aparecem em um período de até 2 dias após a vacinação, e costumam
durar por, no máximo, dois dias.
Se novos sintomas aparecerem a
partir do 4º dia depois da vacinação, procure um médico.
3. Posso tomar remédio contra
os efeitos colaterais? Algum não é recomendado?
Sim, você pode tomar remédios
para os efeitos colaterais – de preferência dipirona ou paracetamol.
"Os medicamentos mais
recomendados para reações à vacina são paracetamol e dipirona. Algumas pessoas
têm sensibilidade à dipirona, não conseguem tomar, então elas devem ficar com o
paracetamol", explica a farmacêutica e bioquímica Laura Marise, doutora
pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e cofundadora do canal "Nunca
vi 1 Cientista", na rede social "YouTube".
Mas atenção: em 27 de maio, a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alertou para os riscos
do uso indiscriminado de paracetamol para os efeitos colaterais da vacina
de Oxford.
A agência recomendou que
"o uso do medicamento deve ser feito com cautela, sempre observando a dose
máxima diária e o intervalo entre as doses, conforme as recomendações contidas
na bula, para cada faixa etária". Em adultos, por exemplo, a dose máxima
de paracetamol é de 4g/dia.
Já anti-inflamatórios – como
aspirina, diclofenaco ou ibuprofeno – não são recomendados, explica Laura
Marise.
"No início de uma
infecção ou no desenvolvimento da imunidade contra a vacina, a gente precisa
que o processo inflamatório aconteça, porque é o processo inflamatório que vai
desencadear toda a resposta imunológica nesse caso", diz a farmacêutica
Laura Marise.
Mas calma: se você já tomou um
comprimido de ibuprofeno, é provável que o remédio não vá comprometer os
efeitos da vacina.
"O maior problema, nesse
caso, para evitar, é uma questão recorrente, de ter que tomar vários
comprimidos, porque fica vários dias com dor no corpo e febre – nesse caso, se
tiver que tomar mais vezes, é melhor realmente evitar todos os
anti-inflamatórios de forma geral", recomenda a farmacêutica.
4. Posso tomar a vacina
AstraZeneca se estiver grávida?
Não. No
dia 10 de maio, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou
a suspensão da aplicação da vacina de Oxford/AstraZeneca em grávidas. A
recomendação veio depois da morte suspeita de uma gestante de 35 anos. Ela
sofreu um acidente vascular cerebral após receber a vacina. O bebê também
morreu.
O Ministério da Saúde
recomendou que as que já tivessem recebido a primeira dose da vacina só
recebessem a segunda dose após o fim da gestação e do puerpério (45 dias após o
parto) para completar o esquema vacinal.
5. Qual é o risco de trombose
após tomar a vacina AstraZeneca?
Os casos são raros. As
estimativas publicadas da incidência de trombose após a vacina (VITT) de
Oxford/AstraZeneca variam de 1 caso a cada 26,5 mil doses aplicadas a 1 caso a
cada 148,2 mil doses aplicadas, segundo um levantamento feito por especialistas
e cientistas da província de Ontário, no Canadá.
Os dados de incidência ainda
são preliminares – porque a vacina está sendo aplicada há muito pouco
tempo na maioria dos países e porque alguns casos ainda estão sendo investigados.
Na Itália, por exemplo, houve 11 casos após 1,63 milhão de doses aplicadas.
Dados do Reino Unido sugerem
que há uma incidência mais alta nos grupos de adultos mais jovens em
comparação com os mais velhos e que a incidência é maior em mulheres do que
em homens, embora isso não seja observado em todas as faixas etárias e a
diferença permaneça pequena.
6. Se eu já tive trombose
antes, tenho maior risco de ter depois da vacina?
Até onde se sabe, não. Isso
porque os mecanismos por trás de uma trombose "normal" e de uma
trombose pós-vacina são diferentes, explica a hematologista Menaka Pai,
professora associada de medicina na McMaster University, na província de
Ontário, no Canadá, e especialista em trombose na Hamilton Health
Sciences.
Os coágulos "normais –
que aparecem depois de um parto, de uma cirurgia ou que vêm de histórico
familiar – têm a ver com fatores de coagulação. Já os coágulos que
aparecem depois de uma vacina têm a ver com o sistema imune. Há
apenas uma exceção – que é a trombose induzida por heparina (veja mais
na pergunta 8).
A trombose que ocorre
pós-vacina chama-se VITT: sigla em inglês para trombocitopenia trombótica imune induzida por vacina ("vaccine-induced immune thrombotic thrombocytopenia").
"Com a VITT, o que
acontece é que você recebe uma vacina – AstraZeneca ou J&J – e, cerca
de 4 a 28 dias depois, o corpo pode começar a produzir anticorpos que atacam as
plaquetas do próprio corpo. (...) E essas plaquetas ativadas começam a causar
coágulos sanguíneos em muitas áreas diferentes", explica Menaka Pai, que
integra o grupo de especialistas que guiam a resposta científica da província
de Ontário.
7. Como saber se um sintoma é
alerta de trombose?
Fique alerta para os seguintes
sintomas entre 4 e 28 dias depois da vacinação:
- Dor de cabeça forte e persistente;
- Sintomas neurológicos focais (podem ser
paralisia, fraqueza, perda de controle muscular, aumento ou perda do tônus
muscular, movimentos involuntários, tremores, sensações anormais,
dormência ou diminuição de sensação, perda de coordenação ou de controle motor
fino, mudanças na visão, dificuldade para engolir e engasgo frequente,
dificuldades de fala, linguagem ou de escrita, falta de habilidade para
ler ou compreender a escrita, entre outros);
- Convulsões;
- Visão borrada ou dupla;
- Falta de ar;
- Dor nas costas, peito ou abdômen;
- Inchaço e vermelhidão em um membro;
- Palidez e frieza em um membro;
- Sangramentos incomuns;
- Vários pequenos hematomas no corpo;
- Manchas vermelhas ou roxas no corpo;
- Bolhas de sangue.
8. Existe alguma maneira de
prevenir a trombose pós-vacina?
Não.
Assim como não há fatores de risco conhecidos, também não há fatores de
prevenção conhecidos, explica Menaka Pai. O que se pode fazer é saber
quais são os sintomas e procurar atendimento médico o mais rápido
possível.
9. Se eu já tomo anticoagulantes,
tenho risco menor de ter trombose pós-vacina?
Provavelmente, não. Até onde
se sabe, um anticoagulante comum, como a aspirina, não faz
com que você tenha menos chance de ter uma trombose pós-vacina, porque
os mecanismos por trás da trombose pós-vacina são diferentes da trombose
"regular".
"É [um mecanismo]
realmente separado. Não temos fatores de risco que conheçamos, não temos
fatores de proteção que conheçamos. Ouço as pessoas dizerem 'normalmente,
não tomo aspirina, mas vou começar depois de tomar a AstraZeneca'. Não faça
isso. Em primeiro lugar, porque provavelmente não vai te ajudar. A outra coisa
é que a aspirina também não é 100% segura. Não vai te ajudar e pode te
prejudicar", pontua Menaka Pai.
10. Os casos raros de trombose
ocorreram após a primeira ou a segunda dose?
Até agora, os dados sugerem
que a probabilidade de trombose após a vacina (VITT) é maior após a
primeira dose.
Até 19 de maio, a agência
regulatória britânica (MHRA, na sigla em inglês) contabilizava 332 casos de
VITT – trombose após vacina acompanhada de baixa contagem de plaquetas – no
Reino Unido após a vacinação com Oxford/AstraZeneca. Desses, 17 casos foram
relatados após a segunda dose.
Até a mesma data, o número
estimado de primeiras doses da vacina administradas no Reino Unido era de 24,2
milhões, e o número estimado de segundas doses, de 10,7 milhões.
11. Por que os casos de
trombose só ocorreram com vacinas de vetor viral?
Até agora, só se tem notícia
de casos de trombose em pessoas que receberam a vacina de Oxford/AstraZeneca ou
a da Johnson. Ainda não se sabe exatamente por que isso acontece, mas ambas
foram desenvolvidas com a tecnologia de vetor viral (veja infográfico mais
abaixo).
No dia 26 de maio, a Bélgica
suspendeu a aplicação da vacina da Johnson para pessoas com menos de 41 anos
depois que uma mulher de 37 anos morreu após ter coágulos e baixa de plaquetas
pós-vacinação. A morte está sendo investigada pela Agência Europeia de
Medicamentos (EMA, na sigla em inglês).
Até o dia 12 de maio, o CDC
(Centro de Controle de Doenças, na sigla em inglês) dos Estados Unidos havia
relatado 28 casos de coágulos após a vacina da Johnson.
O que dizem AstraZeneca e
Johnson?
Após uma paralisação
temporária da aplicação de sua vacina na Europa, em março, a AstraZeneca disse,
no início de abril, que está "trabalhando para entender casos individuais
e" possíveis mecanismos que podem explicar esses eventos extremamente
raros“.
Em 9 de abril, o grupo
Johnson&Johnson disse que nenhuma relação causal clara foi estabelecida
entre a vacina e os coágulos. A vacina chegou a ter sua aplicação suspensa nos
Estados Unidos poucos dias depois, mas, dez dias após a paralisação, a
aplicação foi retomada.
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