O presidente Jair Bolsonaro
(sem partido) desprezou a carta enviada hoje por membros da CPI da Covid, que
lhe pedem para confirmar ou não as denúncias de irregularidades feitas pelo
deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) sobre o contrato de compra da vacina
Covaxin, desenvolvida pelo laboratório indiano Bharat Biotech.
"Hoje foi o Renan [Calheiros (MDB-AL)], o Omar [Aziz (PSD-AM)] e o saltitante, fizeram uma festa lá embaixo, na Presidência, entregando um documento para eu responder. Sabe qual a minha resposta, pessoal? Caguei", disse Bolsonaro durante sua live semanal, fazendo menção ao relator e ao presidente da comissão. "Saltitante" é como o presidente chama, em tom ofensivo, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI.
Caguei para a CPI, não vou
responder nada." Jair Bolsonaro
O presidente ainda ironizou as
denúncias, principal crise pela qual passa seu governo, e voltou a atacar o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que aparece à sua
frente em pesquisas sobre as eleições de 2022. "Agora sou corrupto sem ter
gasto um centavo com vacina. Zero. (...) Não vou responder nada para esses
caras, não vou responder nada para esse tipo de gente, em hipótese
alguma".
Eles não estão preocupados com
a verdade, e sim em desgastar o governo. O Renan, por exemplo, é 'aliadíssimo'
do Lula, o cara quer a volta do Lula a qualquer preço."Jair
Bolsonaro
CPI cria o caos, diz Bolsonaro
Bolsonaro ainda acusou os
membros da CPI de "criarem caos", já que a comissão também é foco de
atenção do mercado financeiro. Sem apresentar dados que comprovem sua fala, o
presidente disse que os desdobramentos das investigações "mexem na Bolsa
[de Valores]", "fazem aumentar o preço do petróleo" e "fazem
aumentar o preço do combustível por tabela".
"Não tenho paciência para
ficar ouvindo patifes acusando o governo", atacou.
CPI de picaretas. Só um
imbecil como Renan Calheiros, um hipócrita como Omar Aziz e um analfabeto como
Randolfe levam essa narrativa [acusações de corrupção] para frente."Jair
Bolsonaro
A carta da CPI a Bolsonaro
A carta mencionada pelo
presidente é assinada por Omar Aziz, Renan Calheiros e Randolfe Rodrigues, que
hoje cobrou respostas sobre o caso Covaxin.
Segundo o vice-presidente da
CPI, o documento tem como objetivo dar a Bolsonaro a oportunidade de se
manifestar.
"Nós estamos há 12 dias
sem uma resposta do presidente da República [sobre as denúncias]. A carta
objetiva só uma coisa: saber a resposta do presidente da República a respeito
disso. Ele está há 12 dias sem se manifestar sobre esse tema. A gente quer dar
a Vossa Excelência a oportunidade de se manifestar", disse o senador.
Entenda o caso Covaxin
Foco de atenção da CPI da
Covid, o contrato para compra de 20 milhões de doses da Covaxin foi anunciado
pelo Ministério da Saúde em 25 de fevereiro, no valor de pouco mais de R$ 1,6
bilhão — ou R$ 80 por dose. Na ocasião, a pasta informou que o primeiro lote
com as doses chegaria ainda em março, o que nunca aconteceu.
A Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) só aprovou a importação da vacina, com restrições, no
início de junho.
No fim de junho, Luis Miranda
revelou ter se encontrado com Bolsonaro em 20 de março para denunciar supostas
irregularidades na negociação, intermediada pela Precisa Medicamentos. O
deputado também disse ter contado ao presidente que seu irmão Luis Ricardo, do
Departamento de Logística do Ministério da Saúde, estaria sofrendo pressões
para aprovar a importação da Covaxin.
As declarações levaram os
irmãos Miranda a serem convocados pela CPI. No depoimento, o parlamentar disse
que Bolsonaro citou o nome do deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo
na Câmara, ao ouvir as denúncias de irregularidade.
O presidente confirmou ter se
encontrado com Luis Miranda, mas nunca comentou sobre a suposta menção a
Ricardo Barros. Ele também nega as suspeitas de corrupção, argumentando que a
compra da Covaxin — hoje suspensa — nunca foi efetivada.
O caso motivou os senadores
Randolfe Rodrigues, Fabiano Contarato (Rede-ES) e Jorge Kajuru (Podemos-GO) a
apresentarem uma notícia-crime contra Bolsonaro no STF. No último dia 2, a
ministra Rosa Weber autorizou a abertura de um inquérito para investigar o
presidente por suposto crime de prevaricação.
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