Menino morto após cruzar linha do tráfico teve mãe assassinada há 7 meses

Estudante de 12 anos foi morto após atravessar divisão entre facções ao andar a cavalo no Lobato

 


O estudante Alisson Bispo dos Santos, 12 anos, morto por traficantes nesta sexta (28) após cruzar a linha que separa o domínio entre duas facções, no bairro do Lobato, teve a mãe assassinada em janeiro deste ano durante uma festa de aniversário. O corpo do menino foi encontrado com 11 perfurações na cabeça.

A mãe do estudante, a auxiliar de serviços gerais Renata Bispo dos Santos, 38 anos, morreu depois de ser atingida na cabeça e nas costas ao tentar proteger uma criança de sete anos que estava na linha dos tiros que invadiram uma festa de aniversário no dia 17 de janeiro, segundo relatos de familiares. Ela chegou a ser socorrida, mas morreu pouco depois de dar entrada na emergência do Hospital do Subúrbio. Além dela, um rapaz foi atingido na cabeça e também foi socorrido.

 

Renata foi assassinada após ataque de traficantes numa festa de aniversário (foto: Divulgação)

Segundo a filha de Renata, uma jovem de 18 anos, a mãe foi atingida três vezes: um tiro na cabeça e dois nas costas. “Na hora, eu pegava a carne do churrasco, quando chegaram atirando várias vezes. Saí correndo. Só depois vim saber que minha mãe já estava deitada num sofá baleada aguardando para ser socorrida”, contou.  

A auxiliar de serviços gerais trabalhava numa escola municipal em Brotas. 

O ataque foi realizado por um grupo de traficantes da localidade conhecida como Fundão. Cerca de seis homens chegaram atirando porque sabiam que, entre alguns convidados da festa, estavam integrantes da localidade das Casinhas, grupo rival. Renata teria sido baleada no momento em que servia churrasco aos supostos alvos. 

A vítima aguardava socorro em casa enquanto vizinhos providenciavam um carro (Foto: Bruno Wendel/CORREIO) 

Na hora do ataque, a rua estava movimentada e houve correria generalizada. “Tudo mundo desesperado começou a correr. Foi um pânico total. Nunca tínhamos passado por isso antes. Minha mãe sangrava muito por causa das três perfurações. Ela foi levada para dentro de casa e depois o pessoal daqui colocou ela num carro. Eu fui junto. Assim que ela deu entrada, o médico disse que ela não resistiu”, contou a filha de Renata, que deixou também uma menina de 5 anos.

As marcas da violência atingiram outros moradores. Além do medo, eles tiveram casas, carros e objetos perfurados pelas balas. 

Conflitos
A região onde ocorreu o ataque é uma área de conflitos constantes entre três grupos ligados ao tráfico de drogas. A localidade de Fundão fica atrás da Unidade da Saúde da Família (USF) de Boa Vista do Lobato e é controlada por um grupo independente. A área das Casinhas está situada no entorno do Colégio Estadual Raymundo Matos, cujo domínio é também de um grupo independente. Já a Linha, que faz referência à estação de trem do Lobato, e a Rua Voluntários da Pátria são do controle do Bonde do Maluco (BDM).

Passeios a cavalo
Alisson adorava andar a cavalo no bairro do Lobato. Era montado no animal que ele subia e descia a Península do Joanes. Na sexta-feira (27), o garoto foi além de onde costumava andar. Acabou brutalmente assassinado por uma das facções após cruzar o limite que separa as quadrilhas rivais no bairro do Lobato.

“Como pode acontecer isso com uma criança? Levar 11 tiros na cabeça? Imagino a dor que ele sentiu”, disse a irmã dele na manhã deste sábado (28).

Segundo ela, não há dúvida que o irmão foi mais uma vítima da briga antiga entre duas facções que assola o bairro. “Essa briga entre eles parece que nunca terá fim. Todo mundo sabe que Alison nunca foi de andar no meio de traficante nenhum, nunca foi de se andar com esse tipo de gente. Eles pegaram uma criança inocente pra matar para mostrar que eles têm o poder de fazer isso com qualquer um, que eles não consideram ninguém”, declarou ela.

 

Alisson costumava andar a cavalo pelo bairro, mas acabou sendo morto
(Foto: Acervo pessoal)

Alisson morava na Península do Joanes, uma das localidades do Lobato. Os moradores ouvidos pela reportagem foram unânimes em dizer que Alisson não tinha nenhum envolvimento com a criminalidade. No entanto, ele pode ter sido julgado como “olheiro do tráfico”, o mesmo que informante, pelo fato de que ele estava a cavalo circulando no Colorado, região controlada por uma facção que rivaliza com os traficantes onde residia. “Aqui, chega ser comum eles (traficantes) usarem meninos como olheiros”, disse um morador.

Sobre o crime, a Polícia Civil informou que ainda não há informações sobre a autoria, a motivação e circunstâncias do crime. A investigação será feita pela 3ª DH/BTS. 

Crime
Segundo os parentes, Alisson estudava na Escola Municipal Eufrosina Miranda. Ele tinha acabado de chegar em casa e disse ao avô que ia fazer o que mais gostava, andar a cavalo. “ Eu estava no trabalho quando me ligaram, dizendo que algo havia acontecido com o meu irmão. Saí às pressas e quando cheguei, vi toda a minha família destruída. Fiquei sem chão quando me contaram o que fizeram com o meu irmão”, declarou a irmã da vítima.

Um amigo de Alisson foi quem deu a trágica notícia à família. “ Ele também andava a cavalo e logo chamaram ele para ver o corpo. Ele ficou sem acreditar quando deu de cara com Alisson. Ele disse: ‘Como assim? Como pode ter acontecido isso com ele? Não era envolvido com nada’”, contou ela. O corpo do estudante foi encontrado na Segunda Travessa União, depois da estação de trem do Lobato.

Alisson era o filho do meio de um casal. O corpo dele será enterrado nesta segunda-feira (30), às 12h, no Cemitério Quinta dos Lázaros. 

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