Casos são mais frequentes em mulheres; as
pessoas não nascem com o coágulo mas podem desenvolvê-lo por diversas razões
Começa com uma dor de cabeça intensa - a pior da vida,
segundo pacientes -, evolui para sintomas como náusea, vômito, rigidez de nuca,
queda das pálpebras, vasodilatação da pupila, perda de consciência e pode
terminar com coma e edema cerebral. É assim que um aneurisma, doença que virou
assunto nas redes sociais após a morte da ex-BBB Josy Oliveira, de 43 anos, age
no corpo humano. No caso da cantora, a morte se deu por um Acidente
Vascular Cerebral (AVC) enquanto ela operava para tratar um aneurisma em São
Paulo. Josy ficou em coma induzido por cinco dias, mas acabou não resistindo.
O aneurisma cerebral, de acordo com especialistas ouvidos
pela reportagem, é uma consequência de um processo de dilatação de artérias que
pode ocorrer no cérebro e em qualquer parte do corpo onde exista artéria. O
neurocirurgião Adroaldo Rossetti explica como o problema se instala no corpo
humano:
"Os aneurismas são dilatações que acontecem
na parede das artérias por conta de uma falha na bifurcação das mesmas. Essa
falha faz o sangue bater na parede, dilatando-a ao longo do tempo e a deixando
fraca até o momento que há um rompimento, que pode causar óbito, déficit
neurológico e outras complicações", afirma ele.
Rossetti, porém, ressalta que não são todos os aneurismas
que chegam a romper e existem condições que podem contribuir para o estágio
mais grave da doença.
"Nem todos os aneurismas rompem. Se estima
que 3% da população tenha aneurismas, contando os que rompem e os que não.
Normalmente, eles são mais comuns nas mulheres e existem condições que os
favorecem como o tabagismo, alcoolismo, sedentarismo e hipertensão. Quando se
está dentro dessas condições, você aumenta o risco de ter um
rompimento", alerta.
Antônio Andrade, neurologista clínico e professor da
Universidade Federal Bahia (UFBA), informa que é justamente o rompimento que
separa a doença de um estágio em que ela pode ser tratada sem problemas do
estado em que há grandes consequências.
"O aneurisma mata quando ele sangra e invade o espaço subaracnóideo ou ventricular, levando o indivíduo a um coma e a um edema cerebral grave, que o faz perder a consciência e ter uma manifestação neurológica complicada. Nesse tipo de aneurisma, 30% dos indivíduos morrem em um prazo de 72h, uma incidência alta de óbitos", explica ele, que ressalta a diferença que pode fazer um atendimento rápido para intervir no vazamento.
Depois que o rompimento ocorre é necessário uma série
de análises feitas com exames de imagem para descobrir qual a melhor forma de
tratamento para a doença, que normalmente se baseia no tamanho do aneurisma.
Quando grande e irregular, é necessária a realização de tratamento endovascular
com cateter ou uma cirurgia aberta no crânio.
Apesar de perigosa, a doença pode se manifestar ou não no
seu corpo. Ou seja, alguém pode ter um aneurisma durante toda a vida e nem
sequer notá-lo já que o indivíduo não sofre com os sintomas. Pelo menos, é isso
que garante Andrade.
"De uma maneira simples, os aneurismas
podem se dividir em sintomáticos e assintomáticos. Eles podem não dar sintomas
e, num dia, você ter a surpresa da doença através desse sintoma principal que é
a forte dor de cabeça que todos os pacientes sempre descrevem como a pior da
vida", declara.
Característica e diagnóstico
O neurocirurgião Carlos Bastos salienta que o aneurisma não
é uma condição hereditária e fala sobre quem pode desenvolvê-lo. "A pessoa
pode nascer com um defeito congênito na parede da artéria e, com o passar do
tempo, pode formar o aneurisma. Porém, qualquer um de nós pode desenvolver em
função de diversas causas como hipertensão, por exemplo", conta.
Ainda de acordo com Bastos, o mais comum é as pessoas
descobrirem o coágulo depois do rompimento, mas existem exames que podem
detectá-lo antes disso. "A maioria das pessoas é diagnosticada no
rompimento. Tem outra forma que é quando ele comprime algum nervo craniano.
Antes, dá pra identificar com angioradiografia ou angioressonancia",
afirma.
Os meios para saber da existência ou não do problema valem
para todas as faixas etárias, mas são fundamentais para as pessoas que já
passaram dos 40 e são os pacientes mais comuns com aneurisma, de acordo com
Antônio. "Ocorre em todas as faixas etárias, porém há uma incidência maior
nos indivíduos acima de 40 anos, isso é notável. Além do fator da idade, quem
está mais exposto ao aneurisma são pessoas que têm problemas de hipertensão
arterial e que, naturalmente, estão em risco caso não tratem de forma correta
desse problema, sem faltar com a medicação", alerta.
Vale o check-up?
Mesmo com esses fatores como indicativos de uma maior
propensão à doença, não cabe desespero e muito menos o início de uma caça ao
aneurisma. Carlos Bastos explica que a necessidade dos exames de check-up que
podem encontrar o problema existe em casos muito específicos. "Não se faz
de rotina o check-up na busca do aneurisma cerebral. Só é preciso quando tem
suspeita de doenças como a do tecido conjuntivo, da coarctação da aorta e pacientes
que tenham parentes diretos que tiveram aneurisma cerebral, aí é recomendado
porque ela tem uma chance maior", informa.
Para esses, o tempo em que se antecipam pode ser
fundamental para não permitir que a doença cause danos graves, de acordo com
Adroaldo Rossetti. "Descobrindo antes de romper, dá para tratar de uma
forma menos invasiva e complicada para o paciente. Fora o fato de que, quando
você antecipa o rompimento, evita sequelas e até óbitos em condições mais
graves", conclui.
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