A volta às
aulas na rede estadual entrou em contagem regressiva na Bahia. Na próxima
segunda-feira (18), o ensino 100% presencial será retomado pela primeira vez
desde que foi interrompido, em março do ano passado, mas cerca de 50% dos
estudantes estão frequentando as aulas híbridas iniciadas em julho. Professores
entraram com representações judiciais para impedir o retorno presencial, e o
governo teme que a pandemia provoque uma evasão de 30% nas escolas.
O secretário
estadual de Educação, Jerônimo Rodrigues, comentou sobre a volta às aulas
durante a assinatura de uma ordem de serviço para reformar escolas, em
Mussurunga I, na quarta-feira (13). Desde julho, os 840 mil estudantes do
estado estão no modelo híbrido, ou seja, com parte das aulas em casa e outra
parte nos colégios. Segundo o secretário, cerca de metade dos matriculados
aderiram a esse modelo semipresencial.
“Estamos
fazendo esse balanço porque como tem muita gente que não vai à escola, mas pega
o material, tem muita gente que está no remoto pela comodidade, estamos
levantando esses dados, mas a gente está com número acima de 50% de presença.
Tem escolas no interior que conseguimos ver 80% a 90% de frequência. Então,
esse retorno vai acontecer aos poucos”, afirmou.
O secretário
comentou também sobre as críticas de pais e professores sobre a retomada
presencial de todos os alunos da rede em um momento em que a quantidade de
casos da variante delta está em crescimento no estado. Ele afirmou que é
preciso cumprir os protocolos e o cuidado com a saúde, mas que a aprendizagem
não pode ser deixada de lado e disse estar preocupado com os efeitos da
pandemia na evasão escolar.
“Se em 1 ano
e 7 meses estamos com prejuízo por conta da pandemia, esse custo será muito
alto nos próximos cinco e dez anos. Em uma época normal, de recesso do natal e
do ano novo, o retorno às aulas é sempre um prejuízo, com evasão de 10% a 12%.
Em uma situação como essa, com certeza, ultrapassará 20% a 30%, e em alguns
lugares essa evasão será ainda mais forte”, disse.
Para atender
aos protocolos de segurança o governo instalou pias nas escolas, marcou o
distanciamento entre as cadeiras, e instalou dispersores de álcool em gel e
ventiladores nas salas de aulas. O uso da máscara e a aferição da temperatura
são obrigatórios e o uso dos bebedouros é restrito a copos individuais ou
descartáveis e garrafas.
Ainda assim,
alguns pais disseram que estão inseguros em mandar os filhos. Já os estudantes
estão indecisos. Maria Eduarda Santos, 16 anos, disse que conseguiu se adaptar
bem ao modelo remoto, mas que alguns amigos dela não renderam tão bem.
“Tem gente
dizendo que vai deixar para voltar no ano que vem. Eu nem sei o que é melhor,
porque com muito aluno sem ainda ter sido vacinado, casos aumentando e o
recesso de fim de ano chegando, talvez fosse melhor deixar para começar no ano
que vem mesmo, mas por outro lado quanto antes começar melhor”, disse.
O ano letivo
na rede estadual começou em 15 de março de forma apenas virtual. Em 26 de
julho, estudantes do ensino médio, profissionalizante e de jovens e adultos
(EJA) migraram para o semipresencial, e em 9 de agosto foi a vez dos alunos do
fundamental. A partir de segunda-feira todos estarão na fase totalmente
presencial, de segunda à sábado. A data de encerramento do ano letivo será em
28 de dezembro.
O evento em
Mussurunga I contou com a presença do governador Rui Costa que assinou uma
ordem de serviço no valor de R$ 100 milhões para obras de infraestrutura em 24
escolas da Rede Estadual de Educação em Salvador. Ele disse que R$ 100 milhões
já estão em execução e que outros R$ 100 milhões serão autorizados até o final
do ano, e pediu para os estudantes seguirem os protocolos no retorno definitivo
às aulas presenciais.
“O uso da
máscara continua obrigatório e eu peço a todos que usem a máscara,
principalmente dentro da escola e em qualquer outro ambiente fechado. Os
números da pandemia caíram, mas os vírus ainda não foi embora, ele continua
circulando e enquanto a gente não derrotar esse vírus e reduzir a contaminação,
e se surgirem variantes que a vacina não dê jeito, o número de mortos pode ser
novamente muito alto”, afirmou.
Ao todo, foram
seis ordens de serviço assinadas para a construção de duas novas unidades
escolares; modernização de 14 escolas; ampliação de outros seis colégios
estaduais; além da construção de um complexo poliesportivo e uma quadra
coberta.
Professores
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB) acionou o
Ministério Público da Bahia (MP) e o Ministério Público do Trabalho (MPT) na
tentativa de que as duas entidades ajudem na intermediação da classe junto ao
governo do estado. Segundo o coordenador geral do Sindicato, Rui Oliveira, a
categoria não se sente segura e quer manter o modelo híbrido de ensino.
“Fizemos as
representações essa semana e teremos uma reunião com o governo nesta
quinta-feira (14). Quando o governo anunciou o retorno das aulas fez isso sem
conversar com o sindicato. O que nós queremos é que os protocolos de
biossegurança sejam respeitados, incluindo o que trata do distanciamento, e nós
sabemos que é impossível em uma sala com 40 alunos haver distanciamento de 1,5
metro”, disse.
O
sindicalista afirmou que a adesão dos estudantes ao modelo semipresencial está
sendo menor do que o divulgado pelo governo. O estudante do ensino médio
Matheus Barbosa, 16 anos, voltou para a sala de aula em agosto e disse que está
tranquilo.
“Como
estamos no modelo semipresencial eu não vejo metade da turma, e como muita
gente não está indo para a escola o número de alunos é pequeno, mas estou feliz
com o retorno. Eu queria muito voltar a ter aula presencial, estava cansado do
on-line e estudar na escola é muito diferente de fazer isso de casa”, disse.