Solenidade
de colação de grau de Wellington Gomes ocorreu no dia 13 de dezembro. Antes, em
novembro, ele pegou o registro do Conselho Regional de Medicina.
O pai de Wellington, Arnaldo José Alves, de 46 anos, criou os filhos com o salário de cortador de cana — Foto: Acervo pessoal |
Filho de
cortador de cana, Wellington Gomes, de 29 anos, realizou o sonho de se formar
em medicina em novembro deste ano. Ao ser questionado sobre o que faria com o
seu primeiro salário, ele não hesitou na resposta: “Tirar o meu pai do corte de
cana”, disse ao g1, durante entrevista neste sábado (18).
Após pegar o
registro profissional do Conselho Regional de Medicina (CRM) em 26 de novembro
mês, Wellington participou da solenidade de colação de grau em 13 de dezembro.
Ele saiu da zona rural de Ribeirão, na Zona da Mata Sul do estado, para estudar
medicina no Recife. Após perder a mãe, trabalhou cortando cana-de-açúcar, assim
como o pai.
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Antes de
entrar na faculdade de medicina, Wellington pedalava 24 quilômetros para ir e
mais 24 para voltar da escola, pois o transporte não chegava até o engenho onde
ele morava com a família (veja vídeo abaixo). Para ele, cada quilômetro
percorrido valeu a pena.
"O
caminho para chegar até aqui foi muito difícil, árduo, doloroso. Parecia
impossível, mas, com trabalho duro, dedicação, persistência e disciplina, você
consegue transpor as barreiras que podem parecer impossíveis. O meu conselho é:
persista. Não desista dos seus sonhos", disse.
Realizando
vários plantões como médico, ele continua se esforçando para conseguir mudar a
vida da família e passou a trabalhar em Ribeirão, Gameleira e Primavera, além
de atender em Barreiros. Wellington quer cumprir a promessa que fez ao pai
quando ainda pedalava a bicicleta que ganhou em um sorteio.
"O que
eu quero fazer é tirar o meu pai do corte de cana. Desde sempre, quando eu
ainda vinha do engenho de bicicleta, tinha prometido para ele que iria fazer
isso e, com certeza, vou fazer. Eu estou correndo aqui, dando um monte de
plantões, para tirá-lo no próximo mês já, quando eu receber. A partir de
janeiro, as mudanças vão ser significativas", contou.
Após três
anos tentando entrar no curso de medicina, ele foi aprovado, em 2016, na
Faculdade Pernambucana da Saúde (FPS), por meio do Programa Universidade para
Todos (Prouni). Os livros custavam caro e foram custeados com a ajuda de
colegas e parentes destes.
Wellington Gomes tem no pai, Arnaldo José Alves, seu principal incentivador — Foto: Reprodução/Instagram |
O pai de
Wellington, Arnaldo José Alves, de 46 anos, criou os filhos com o salário de
cortador de cana. Diariamente, pega um ônibus às 5h para chegar, uma hora
depois, ao local de trabalho, onde fica até 12h. A distância é de 12
quilômetros.
Foi cortando
cana com o pai que Welington juntou o dinheiro para se inscrever no vestibular.
Maior incentivador do filho, Arnaldo cortou o pé enquanto trabalhava e, por
isso, não conseguiu presenciar a colação de grau do médico da família, mas não
vai perder o baile de formatura, em 21 de janeiro de 2022.
"Ele
tinha ido trabalhar de manhã, cortou o pé e não conseguiu ir [para a colação].
Mas vai para o baile. Vou buscar ele de todo jeito para ir para o baile",
disse Wellington.
Os primeiros dias como médico formado, para Wellington, foram recompensadores — Foto: Arquivo pessoal |
Os primeiros
dias como médico formado, para Wellington, foram recompensadores. Ele ganhou
até jaca de um paciente, em agradecimento ao tratamento. "É emocionante.
Eu não sei nem descrever direito, mas é muito bom. A sensação de dever
cumprido. De realização e de gratidão, acima de tudo", afirmou.
Nos próximos
anos, o ex-cortador de cana pretende se tornar um cardiologista ou cirurgião plástico.
"Estou na dúvida se faço residência em cirurgia plástica ou cardiologia.
São duas áreas distintas e que eu gosto bastante. Quero trabalhar esse ano de
2022 para ajudar a família e, a partir do próximo ano, seguir a
residência", contou.