David
Bennett, de 57 anos, passa bem, segundo os médicos, três dias após o
procedimento experimental de sete horas.
O cirurgião Bartley Griffith com o paciente David Bennett no início de janeiro — Foto: University of Maryland School of Medicine via BBC
Um paciente
nos Estados Unidos se tornou a primeira pessoa no mundo a receber um
transplante de coração geneticamente modificado de um porco.
David
Bennett, de 57 anos, passa bem, segundo os médicos, três dias após o
procedimento experimental de sete horas em Baltimore.
O
transplante foi considerado a última esperança de salvar a vida de Bennett,
embora ainda não esteja claro quais são suas chances de sobrevivência a longo
prazo.
"Era
morrer ou fazer esse transplante", explicou Bennett um dia antes da
cirurgia. "Eu sei que é um tiro no escuro, mas é minha última
escolha."
Médicos do
Centro Médico da Universidade de Maryland receberam uma licença especial do
regulador médico dos EUA para realizar o procedimento, com base no fato de que
Bennett teria morrido sem ele.
Ele foi
considerado inelegível para um transplante humano – decisão que costuma ser
tomada quando o paciente está com a saúde muito debilitada.
Para a equipe
médica que realizou o transplante, o procedimento inédito é o ápice de anos de
pesquisa e poderá mudar vidas em todo o mundo.
'Um passo
mais perto'
O cirurgião
Bartley Griffith disse que a cirurgia deixa o mundo "um passo mais perto
de resolver a crise de escassez de órgãos", segundo comunicado da
Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland.
Hoje, 17
pessoas morrem por dia nos EUA à espera de um transplante, com mais de 100 mil
na lista de espera.
A
possibilidade de usar órgãos de animais para o chamado xenotransplante
(transplante de células, tecidos ou órgãos de uma espécie para outra) para
atender a demanda por transplantes é uma possibilidade estudada há anos. O uso
de válvulas cardíacas de porco já é comum.
Cirurgiões fazem transplante de coração de porco em humano em Baltimore, Maryland, no dia 7 de janeiro. — Foto: Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland (UMSOM)/Divulgação via Reuters
Em outubro
de 2021, cirurgiões em Nova York anunciaram que haviam transplantado com
sucesso um rim de porco em uma pessoa. Na época, a operação era o experimento mais
avançado feito até então. No entanto, o destinatário naquela ocasião estava com
morte cerebral e sem esperança de recuperação.
Bennett
espera que seu transplante permita que ele continue vivendo. Ele ficou de cama
por seis semanas antes da cirurgia e ligado a uma máquina que o manteve vivo
depois que ele foi diagnosticado com doença cardíaca terminal.
"Não
vejo a hora de sair da cama depois que me recuperar", disse ele na semana
passada.
Na
segunda-feira (10/1), foi relatado que Bennett já respirava sozinho. Mas não
está claro exatamente o que acontecerá a partir de agora.
O porco
usado no transplante foi geneticamente modificado para eliminar vários genes
que teriam levado o órgão a ser rejeitado pelo corpo de Bennett, informou a
agência de notícias AFP.
David
Bennett Jr, filho do paciente, disse à Associated Press que a família está em
"território desconhecido neste momento". Mas acrescentou: "Ele
percebe a magnitude do que foi feito e realmente percebe a importância
disso".
"Nós
nunca havíamos feito isso em um humano e eu gosto de pensar que nós demos a ele
uma opção melhor do que continuar sua terapia", disse o cirurgião Bartley
Griffith. "Mas se [ele viverá] um dia, semana, mês, ano, eu não sei
dizer."