EUA e líderes europeus pedem que seus cidadãos deixem país nas
próximas horas
Russia e Bielorússia anunciaram 10 dias de exercícios militares nos arredores da Ucrânia (Russian Defence Ministry/AFP)
Como quem se prepara para um abalo inevitável, o mundo
assiste à aproximação de um grande conflito armado que pode colocar em campos
opostos as duas grandes potências do Século XX: Rússia e Estados Unidos (EUA).
Após assistir a uma certa distância os principais conflitos dos últimos 22 anos
– principalmente no Oriente Média, a grande maioria desdobramentos do 11 de
setembro e a Primavera Árabe –, a Europa retorna ao centro do tabuleiro. Desde
o fim da Guerra da Bósnia, em 1995, o principal campo de batalha das duas
guerras mundiais nunca esteve tão próximo de outro conflito.
O conselheiro de segurança dos EUA, Jake Sullivan, chegou a
detalhar como imagina que a guerra vai se iniciar. “Um ataque russo à Ucrânia
pode começar a qualquer momento e provavelmente iniciará com um ataque aéreo”,
avaliou nesta sexta (11). Ele avisou ainda que qualquer americano que ainda
esteja na Ucrânia deve partir nas próximas 24 a 48 horas. “Não acreditamos que
(o presidente russo Vladimir) Putin tenha feito algum tipo de escolha final sobre
invadir ou não a Ucrânia”, ponderou, explicando que neste sábado o russo e o
presidente americano, Joe Biden, conversam por telefone.
A região do Caucaso vivenciou recentemente a insurgência da
Chechênia contra a Rússia de Putin, que só conseguiu conter a situação em 2006.
Em 2014, foi a vez dos russos partirem para o ataque e anexarem a Criméia, que
estava sob controle ucraniano. O clima se acirrou, mas guerra não houve.
Acontece que desta vez, retórica ou não, os Estados Unidos e países como Alemanha
e França, integrantes da Otan – organização militar que reúne as principais
potências ocidentais – prometem reagir a favor dos ucranianos. Do outro lado, a
Rússia conta com a simpatia da China.
Biden conversou por telefone nesta sexta (11) com os líderes
de Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Polônia e Romênia, além dos chefes da
Otan e da União Europeia (UE).
Os líderes dos países ocidentais prometeram sanções “rápidas
e severas” se Moscou invadir a Ucrânia, segundo informou no Twitter o porta-voz
do chanceler alemão, Olaf Scholz.
Após a reunião de líderes, o primeiro-ministro britânico,
Boris Johnson juntou-se a outras nações para instar seus cidadãos a deixar a
Ucrânia. Ele disse na reunião que teme pela segurança da Europa e enfatizou a
necessidade de sanções.
“Estamos em uma janela em que uma invasão pode começar a
qualquer momento”, disse o secretário de Estado Antony Blinken.
Demandas russas
Moscou tem dito que as respostas enviadas esta semana pela UE e pela Otan às
suas demandas de segurança mostravam “desrespeito”. De acordo com estimativas
americanas, há aproximadamente 100 mil soldados russos posicionados na
fronteira ucraniana. Na última quinta-feira, Rússia e Bielorússia
iniciaram uma série de exercícios militares, que deve durar dez dias, de acordo
com informações do governo de Vladimir Putin. Para o governo a Ucrânia, o
movimento é uma forma de pressão psicológica.
Embora a Otan possua um contingente militar superior ao
russo, a concentração de tropas na região é inferior à que está do outro lado.
Os Estados Unidos, por exemplo, informam ter aproximadamente 3 mil soldados na
Ucrânia. Além disso, Washington colocou cerca de 8,5 mil soldados em alerta
para serem enviados ao Leste Europeu e deslocou navios de guerra ao Mar Negro.
Embora alguns analistas considerem a Ucrânia uma obsessão
pessoal do presidente russo, Vladimir Putin, outros apontam uma tentativa do
país de retomar a relevância geopolítica dos tempos da Guerra Fria. Em
dezembro, o país pediu à Ucrânia que se comprometesse a nunca entrar na
Otan.
Quais são os interesses russos na Ucrânia?
- Zona
de segurança
O território ucraniano é utilizado perla Rússia como uma
“plataforma” para as suas ações militares desde 1812, na época da invasão
napoleônica, lembra Gerald Toal, professor de Relações Internacionais da
Universidade Virginia Tech, nos EUA. Agora, este país, um tradicional aliado,
aproxima-se de uma aliança militar com a Otan, podendo assim servir com base
para armas e tropas das principais potências do Ocidente.
- Laços
culturais
O presidente russo Wladimir Putin chegou a externar, em julho
de 2021, que a Ucrânia estaria abrindo mão de laços históricos, culturais e
religiosos ao se aproximar da Europa. O presidente russo relembrou, entre
outras coisas, o antigo povo rus, considerado o ancestral comum de russos,
bielorrussos e ucranianos.
- Legado
de Putin
Apesar de colecionar mais vitórias que derrotas como
governante da Rússia, Wladimir Putin nunca conseguiu colocar no governo da
Ucrânia um político simpático aos interesses russos. Para muitos analistas, o
líder russo vê como humilhação a aproximação entre a Ucrânia e o Ocidente.