Três dias após o fim da bandeira tarifária de escassez hídrica, Aneel anuncia novo reajuste
Sabe aquele ditado que diz “era muito bom para ser verdade”?
Então, ele representa bem a sensação dos baianos com relação ao preço da conta
de luz. Três dias após o fim da cobrança da bandeira tarifária de escassez
hídrica, o que impactou em uma redução de 20%, a Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel) anunciou um reajuste de 21,35% nas contas de energia na Bahia.
A medida passa a valer a partir de sexta-feira (22).
A depender da classe de consumo dos clientes, o reajuste será
sentido de maneira diferente. Para quem consome, em média, baixa tensão o
acréscimo será de 21,35%. No caso dos consumidores de alta tensão, como
indústrias e comércio de grande porte, o reajuste passa a ser de 20,54%. O
efeito médio para a população deverá ser de 21,13%, segundo a Agência. Cerca de
6,3 milhões de pessoas serão afetadas no estado.
Segundo a Aneel, o reajuste aprovado pela diretoria na
terça-feira (19) é justificado por encargos setoriais e custos de distribuição
e aquisição de energia. A escassez hídrica do ano passado reduziu o nível de
água nos reservatórios, o que fez com que usinas termelétricas de reserva
fossem acionadas. Elas possuem um custo mais elevado de operação.
João Lins, gerente comercial da Elétron Energy, empresa de
geração de energia com sede no Recife, explica que os reajustes são feitos
anualmente para recompor o custo de operação da distribuição de energia.
“Possuem diversas variáveis nessa conta, tendo desde o custo de compra de
energia, como os custos com a gestão térmica ocorrida durante a crise hídrica
que passamos recentemente”, diz. Segundo João, os custos com as termelétricas
ultrapassam os R$17 bilhões.
A depender da classe de consumo dos clientes, o reajuste será
sentido de maneira diferente. Para quem consome, em média, baixa tensão o
acréscimo será de 21,35%. No caso dos consumidores de alta tensão, como
indústrias e comércio de grande porte, o reajuste passa a ser de 20,54%. O efeito
médio para a população deverá ser de 21,13%, segundo a Agência. Cerca de
6,3 milhões de pessoas serão afetadas no estado.
Apesar do acréscimo, a Aneel e a Coelba defendem que com o
fim da bandeira tarifária escassez hídrica, o cliente residencial convencional
perceberá uma redução média de 1,6% na conta de energia. A bandeira que foi
acionada por conta da falta de água nos reservatórios estabelecia uma cobrança
extra de R$14,20 a cada 100 quilowatts-hora (kWh).
No entanto, as bandeiras tarifárias entram em ação somente
quando há uma necessidade externa, enquanto que o reajuste tarifário que incide
sobre o consumo vem para ficar, como explica o engenheiro eletricista e
professor da UniRuy Uerlis Martins.
“A tarifa é um valor cobrado em cima do consumo de potência
por tempo. Já a bandeira tarifária existe em função dos períodos de chuva do
Brasil, isso porque 66% da nossa energia vem de origem hídrica, quando temos um
período seco contratamos usinas térmicas que são caras”, afirma.
Outro ponto levantando, dessa vez pelo economista e membro do
Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA), Edval Landulfo, é que a
Agência não está levando em consideração o efeito do reajuste a longo prazo.
“Não estão pensando na possibilidade do próximo ano. No próximo ano podemos ter
uma outra crise hídrica com a mesma bandeira e com o acréscimo de 20%, então
esse aumento uma hora vai chegar”, diz.
Além da Bahia, a Aneel anunciou o reajuste para outros três
estados: Ceará (23,99%), Rio Grande do Norte (19,87%) e Sergipe (16,46%).
Inflação aperta o orçamento
O economista também lembra que a inflação acumulada nos
últimos 12 meses, até março, já chega a 11,3%, o que diminui o poder de compra
da população, já que não há aumento real do salário. “Realmente já era de se
esperar que num ano tão complicado, sucessivos aumentos viessem a acontecer. No
índice oficial da inflação já estamos em dois dígitos, mas cada aumento vem com
quase o dobro do valor da inflação, a conta não fecha”, afirma Edval Landulfo.
Enquanto isso, os baianos se assustam com mais um anúncio de
aumento de preços, dessa vez da conta de luz. É o caso do supervisor de vendas
e morador de Mussurunga Alexandre Souza, 31. Na casa em que mora com a mãe,
irmã e o sobrinho, a conta de energia foi de R$160 para R$230 em cerca de cinco
meses, segundo ele. Um aumento de 31% em menos de um semestre.
“Recebo a notícia desse aumento com muita insatisfação, é
muito complicado sobreviver com tantos aumentos”, diz. O jovem conta que na
hora de economizar, vale de tudo dentro de casa. A família já tirou o banho quente
da rotina, diminui a potência do ventilador mesmo no calor e, quando sai de
casa, retira aparelhos como roteador de internet e micro-ondas da tomada.
O economista Edval Landulfo diz ainda que o encarecimento da
conta de luz prejudica especialmente os microempreendedores e as pequenas
empresas, que tem maior dificuldade para repassar o aumento de preço para os
consumidores. Desde o final do ano passado a cabelereira Rose Santos Silva, 38,
já se preocupava com o preço da conta de energia.
Ela afirma que só em outubro do ano passado teve um reajuste
de R$40 em um mês, o que fez necessário o repasse aos clientes que frequentam o
salão. “Eu até tento reduzir o consumo. Quando estou sozinha, tiro tudo da
tomada, inclusive o roteador. Tenho evitado o ventilador, mesmo assim a conta
vem mais cara”, afirma Rose.
Se o plano é economizar, o engenheiro Uerlis Martins explica
quais são os aparelhos que mais pesam na conta de luz dentro de casa. Segundo
ele, um dos vilões que é pouco levado em consideração é o micro-ondas, que pode
representar até 3% da conta de energia se ficar ligado na tomada sem
necessidade. Já o ar condicionado, se ficar ligado de oito até dez horas por
dia, no final do mês pode representar um aumento de R$60 até R$100 na
tarifa.
Dicas da Coelba para economizar energia
Equipamentos eficientes: utilize aparelhos com o selo Procel de
eficiência energética, isso ajuda na economia de energia e na redução de
contas
Desligue o computador se não for usá-lo dentro de uma hora: o monitor deve ser desligado
sempre que o usuário se ausentar do ambiente, se as pausas forem longas, o
ideal é desligar todo o equipamento
Não deixe o carregador na tomada: se não estivar utilizando o
carregador, deixe-o fora da tomada para economizar energia e evitar acidentes
domésticos
Aproveite a luz natural: evite acender luzes em ambientes já naturalmente
iluminados
Evite usar o stand-by: não há necessidade de consumir
energia se não está utilizando o aparelho