Vídeo mostra discussão entre perito e dono do ferro-velho horas antes do crime; testemunha detalha emboscada

Renato Couto de Mendonça foi assassinado por militares, e seu corpo, localizado nesta segunda (16).


Uma testemunha registrou uma discussão entre Renato Couto, o papiloscopista morto por militares da Marinha, e Lourival Ferreira de Lima, dono do ferro-velho e um de seus assassinos, horas antes do crime. O corpo do perito foi localizado e reconhecido nesta segunda-feira (16).

Parte da briga, na manhã de sexta-feira (13), foi gravada, e o vídeo, obtido pelo g1 (veja acima).

A reportagem também teve acesso ao depoimento de outra testemunha, com detalhes da emboscada contra o papiloscopista.  Segundo o depoente, o perito foi algemado por militares, apanhou do dono do ferro-velho quando já tinha desmaiado e foi arrastado até a van da Marinha.

O delegado Antenor Lopes, chefe do Departamento-Geral de Polícia da Capital, disse que o vídeo da briga ainda será periciado.

“Não temos confirmação da autenticidade desse vídeo, porque ele tem um corte. Vamos mandar isso para a perícia. Se de fato é o policial. Sendo ele, qual o contexto daquilo ali? A informação é que houve uma discussão, o policial sacou a arma porque teria sido ameaçado”, explicou.

O vídeo da briga

Na gravação, Renato, de verde, aponta uma arma e grita para Lourival, de cinza. Em alguns momentos, o papiloscopista bate no dono do ferro-velho.

Segundo as investigações, Renato tinha encontrado peças furtadas de uma obra sua no estabelecimento de Lourival e foi cobrar a devolução ou o ressarcimento.

“Ajoelha, c*ralho”, grita Renato. “Não pode comprar produto roubado! Você me respeita!”

Depois dessa discussão, ainda de acordo com a polícia, Lourival falou com o filho, o sargento da Marinha Bruno Santos de Lima, para revolver a questão.

A polícia afirma que, a partir daí, pai e filho arquitetaram uma emboscada.

Bruno chamou dois colegas de farda, o cabo Daris Fidelis Motta e o terceiro-sargento Manoel Vitor Silva Soares, e combinou um novo encontro com Renato para a tarde de sexta, prometendo uma solução.

Quando Renato chegou, ele foi rendido pelos quatro.

A emboscada, segundo a testemunha

  • Eram 14h30 de sexta-feira quando Lourival, Daris e Manoel seguram Renato por trás.
  • O trio tenta algemá-lo. Renato reage, e só um pulso é preso.
  • Bruno, armado, ordena: “Deita no chão!”
  • Um dos três que tentavam imobilizá-lo grita para Bruno: “Aplica esse cara logo!”
  • Bruno dispara, atingindo Renato na perna.
  • Renato não cede e procura se desvencilhar.
  • Bruno atira de novo, agora acertando o perito no peito.
  • Renato começa a desfalecer, mas diz: “Eu não fiz nada, eu não fiz nada!”
  • Um dos agressores diz: “Ele vai cair, ele vai cair!”
  • Lourival recolhe as cápsulas dos disparos.
  • Bruno, Daris e Manoel arrastam a vítima para dentro da van da Marinha.
  • Lourival bate e chuta várias vezes em Renato, desacordado.
  • Bruno dispara uma terceira vez contra o papiloscopista.
  • Renato é colocado na van.

Os quatro confessaram o crime e disseram que jogaram Renato de uma ponte do Arco Metropolitano sobre o Rio Guandu, em Japeri.

Corpo reconhecido

O corpo de Renato foi localizado na manhã desta segunda-feira (16), três dias após o crime. Parentes o reconheceram ainda às margens do Rio Guandu e se emocionaram (veja acima).

O Globocop sobrevoava a área das buscas quando avistou um corpo parcialmente submerso preso sob galhos. Bombeiros o recolheram e o levaram para o solo.

 

Buscas pelo perito Renato Couto de Mendonça em Japeri — Foto: Reprodução

Discussão e morte

Renato Couto de Mendonça, perito morto após discussão — Foto: Reprodução

Lourival e Bruno, pai e filho, donos de um ferro-velho na Mangueira — Foto: Reprodução

Perito colhe amostra de sangue em ponte do Arco Metropolitano sobre o Guandu — Foto: Reprodução

O que diz a Marinha

A Marinha do Brasil (MB) informou que tomou conhecimento, na noite de sábado (14/05), sobre uma ocorrência, com vítima, envolvendo militares da ativa do Comando do 1º Distrito Naval, objeto de inquérito policial no âmbito da Justiça comum. “Os militares envolvidos foram presos em flagrante pela polícia e responderão pelos seus atos perante a Justiça”, disse.

“A MB lamenta o ocorrido, se solidariza com os familiares da vítima e reitera seu firme repúdio a condutas e atos ilegais que atentem contra a vida, a honra e os princípios militares.”

“A MB reforça, ainda, que não tolera tal comportamento, que está colaborando com os órgãos responsáveis pela investigação e informa que abriu um inquérito policial militar para apurar as circunstâncias da ocorrência”, emendou.

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