Projeto aprovado pelo Senado nesta quinta possibilita contratação com limite de até 40% do valor recebido. Mas é preciso ficar atento pois a renda será menor durante muito tempo.
O Senado aprovou nesta quinta-feira (7) uma medida
provisória que possibilita a contratação de empréstimo consignado atrelado a
programas de transferência de renda, como o Auxílio Brasil e o Benefício
de Prestação Continuada (BPC), com um limite de até 40% do valor recebido.
Isso significa que quem pegar esse empréstimo terá até 40% do
benefício descontado antes do pagamento. Por exemplo, quem tem direito a R$
400 do Auxílio Brasil passaria a receber apenas R$ 240, no limite. Os outros R$
160 ficariam retidos para pagar a dívida.
Com isso, a renda dessas famílias ficaria menor por um
longo período de tempo, lembra a planejadora financeira Myrian Lund. E, como
consequência, elas teriam que apertar mais ainda seus gastos para
caberem na nova renda.
"É uma medida extremamente perigosa. Se você está
fazendo uma transferência de renda para uma pessoa que precisa desse dinheiro
para sobreviver e vai fazer um consignado em cima daquilo, como ela vai viver?
É meio surreal", critica a planejadora.
Além disso, por ser atrelado ao pagamento, o beneficiário não
consegue negociar melhores condições com o banco, como uma taxa menor ou prazo.
"Não existe possibilidade de negociação, o máximo que se consegue fazer é
uma portabilidade para outra instituição financeira. Você fica na mão da
instituição", diz Lund.
O valor menor recebido por mês pode levar à falta de dinheiro
para pagar as contas essenciais como água, luz e gás, alerta a planejadora.
"Então, ela vai começar a alternar, pagar uma conta em um mês e ter débito
em outras", diz.
Quais os cuidados?
O primeiro cuidado na hora de avaliar se vale a pena pegar o
empréstimo é ver para que ele vai ser usado. Se a intenção for complementar a
renda, ou seja, ser usado para pagar as contas básicas do mês e do dia a dia, o
melhor seria não pegar.
Isso porque a contratação dessa renda só agravaria o problema
pois, nos meses seguintes, a pessoa precisaria pagar as despesas + o
empréstimo + os juros, explica Valter Police, planejador financeiro CFP na
Fiduc.
"Se ele já for descontado na folha, a pessoa continua
gastando o mesmo, mas ganha menos, então o buraco começa a alargar. Essa
liberação facilita uma decisão errada. E as consequências são muito ruins
porque isso leva ao superendividamento e a pessoa passa a não conseguir o
mínimo de renda para subsistir. O nível de comprometimento da renda é
altíssimo, quase metade", analisa Police.
Agora, se for usado para pagar uma dívida muito mais cara ou
para suprir uma necessidade que vai te ajudar a fazer renda, como material ou
computador para trabalhar, por exemplo, um crédito baixo e com pagamento rápido
pode ser uma boa saída, pondera o planejador.
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