O governo de Jair Bolsonaro (PL) sancionou na terça-feira (9)
a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), que prevê salário mínimo de R$ 1.294
em 2023, um aumento de R$ 82 em relação a este ano (R$ 1.212), ou de 6,8%. Se o
valor for confirmado, vai ser o quarto ano seguido sem reajuste real — ou seja,
acima da inflação — para o piso nacional. A sanção foi publicada hoje no DOU
(Diário Oficial da União).
Em julho, o governo revisou a previsão para a inflação deste
ano, que passou de 7,9% para 7,2%. Para seguir essa expectativa, o reajuste do
salário mínimo de 2023 deveria ser de cerca de R$ 87, para R$ 1.299.
Economistas consultados pelo Banco Central também preveem inflação acima de 7%
para 2022.
Nos últimos 12 meses, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor
Amplo) — a inflação oficial do país — já acumula alta de 10,07%.
Valor já é oficial? A proposta para o salário mínimo de 2023 deve constar no
PLOA (Projeto de Lei Orçamentária Anual), a ser enviado ao Congresso até 31 de
agosto. Até lá, o valor de R$ 1.294 ainda pode ser alterado. Em 2021, por
exemplo, a LDO previa um mínimo de R$ 1.147; no PLOA, a proposta foi de R$
1.169.
Já o valor efetivo do salário mínimo em 2023 só será
divulgado no fim do ano.
O que diz a lei? Segundo a Constituição, o governo é obrigado a corrigir o
valor do salário mínimo para que pelo menos o poder de compra do trabalhador
seja mantido. Para tanto, o reajuste é feito com base no INPC (Índice Nacional
de Preços ao Consumidor), que acumula alta de 10,12% nos últimos 12 meses. Mas
os R$ 1.294 inicialmente propostos representam aumento de apenas 6,8% em
relação ao mínimo de 2022, de R$ 1.212.
A última vez que o piso nacional foi reajustado acima da
inflação foi em 2019, quando passou de R$ 954 para R$ 998. Desde então, são
três anos — 2020, 2021 e 2022 — sem aumento real para o salário mínimo.
Inflação e eleições podem mudar valor final
O valor oficial do salário mínimo de 2023 só será conhecido
no fim do ano porque é quando o governo faz o ajuste do chamado resíduo, isto
é, das diferenças entre as previsões — que podem variar para cima ou para baixo
— e a inflação, de fato.
Além disso, o resultado das eleições de outubro também pode
influenciar o valor do piso no próximo ano. Um documento revelado pela Folha de
S.Paulo com as diretrizes para o plano de governo de Lula (PT), atual líder nas
pesquisas, mostra que o ex-presidente quer retomar a política anterior de
valorização do salário mínimo, se eleito.
Como era antes? De 2011 até 2018, o piso nacional era corrigido com base na
inflação do ano anterior, medida pelo INPC, e na variação do PIB (Produto
Interno Bruto) de dois anos antes. Essa fórmula tinha o objetivo de garantir
que o mínimo tivesse aumento real — ou seja, acima da inflação — todos os anos.
A exceção ficou com 2017 e 2018. Nestes dois anos, o reajuste
do piso considerou apenas o INPC, uma vez que o PIB de 2015 e 2016 registrou
queda.
Reajuste em 2022 também não compensou inflação
Em 2022, o reajuste do salário mínimo também ficou abaixo da
inflação. Isso aconteceu porque o governo, ao estabelecer o valor de R$ 1.212,
usou como base um INPC de 10,02%, mas o indicador ficou em 10,16% em 2021.
Com essa defasagem, o governo federal deixou de gastar R$
255,4 milhões neste ano, já que o salário mínimo é usado como referência para a
Previdência Social, o abono salarial e o seguro-desemprego, além do BPC
(Benefício de Prestação Continuada).
Primeiro governo a deixar mínimo valendo menos
Bolsonaro deve ser o primeiro presidente da República desde o
Plano Real a terminar o governo com um salário mínimo com menor poder de compra
do que quando iniciou. Nesses 28 anos, nenhum presidente entregou um piso
nacional mais desvalorizado, seja no primeiro ou no segundo mandato. A
informação está em um relatório divulgado em maio pela corretora Tullet Prebon
Brasil.
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