Presidente do banco lançou iniciativa para se aproximar de
correntistas mulheres
A Caixa Econômica Federal ainda está analisando internamente
quais serão as taxas de juros do empréstimo consignado dos beneficiários do
Auxílio Brasil, mas, segundo a presidente do banco, Daniella Marques, deverão
ser as menores do mercado.
Financeiras que já começaram a fazer cadastros de
interessados no crédito têm feito simulações com taxas anuais entre 79% e 98%
ao ano.
"Não está definido [o percentual], existe uma governança
interna do banco, existe um processo de balanceamento de crédito e definição de
taxas, mas o que eu posso dizer é que existe o compromisso da Caixa de que seja
feito na menor taxa possível e que a gente praticará a menor taxa do mercado,
respeitando os comitês e a governança do banco", afirmou Marques nesta
terça (9).
A presidente da Caixa, Daniella Marques, fala do lançamento do Caixa pra Elas; com ela, Júlio Volpp, vice-presidente de rede de varejo, e Danielle Calazans, vice-presidente de gestão corporativa -
Grandes bancos privados, como Bradesco e Itaú, já anunciaram
que não vão oferecer a modalidade. Também nesta terça, o presidente do Itaú
Unibanco, Milton Maluhy Filho, afirmou que "não é o produto certo para o
público vulnerável".
Marques participou em São Paulo do lançamento de uma
iniciativa batizada de Caixa pra Elas, que deverá reservar, em agências, um
espaço de atendimento exclusivo para mulheres.
A promessa do banco é de que esse espaço tenha função dupla,
uma financeira, com a promoção da educação, estímulo ao empreendedorismo e
oferta de serviços, e outra social, de acolhimento a mulheres em situação de
vulnerabilidade e violência doméstica.
Marques defendeu que a liberação do crédito com desconto em
folha para beneficiário do Auxílio Brasil será tratado com responsabilidade
pelo banco e disse que a iniciativa de atendimento para mulheres também servirá
para abordar o assunto.
"Dois terços das beneficiárias do auxílio são mulheres e
aí é uma oportunidade da gente conscientizar. Se a pessoa já está devendo, por
exemplo, no cartão de crédito de uma loja de vestuário ou de eletrodomésticos,
está pagando juros de 10% e não sabe nem o que é juros", disse.
Nesse sentido, a presidente da Caixa vê o consignado como uma
possibilidade de a cidadã trocar uma dívida mais cara por outra mais barata.
"Mas principalmente a gente que fazer um trabalho educativo muito grande
para não gerar um estímulo ao endividamento das famílias."
A iniciativa lançada em São Paulo faz parte de uma série de
ações voltadas para mulheres anunciadas por Daniella Marques desde sua posse,
no início de julho, depois que Pedro Guimarães pediu demissão sob acusações de
assédio sexual contra empregadas do banco.
Internamente, para quem trabalha na Caixa, programas de
acolhimento e melhoria do ambiente de trabalho também estão em andamento.
Além do lançamento na sede da Caixa Cultural, espaço
conjugado com agência Caixa da Sé, no centro de São Paulo, o banco organizou um
almoço em um espaço de eventos em Pinheiros, na zona oeste da capital paulista,
do qual participaram o presidente Jair Bolsonaro (PL), a primeira-dama Michelle
Bolsonaro, ministros de Estados e empresários.
A apresentadora de TV Ana Hickman foi a mestre-de-cerimônias,
e acompanhou Marques também na inauguração na praça da Sé.
Antes do almoço, Bolsonaro, que ficou cerca de 1h30 no local,
falou rapidamente e fez críticas ao entendimento da pauta de direitos humanos
em outros governo. Segundo ele, havia "predisposição em deixar de lado o
que se chama de conservadorismo, que eu entendo como, em primeiro lugar, a defesa
da família."
Segundo Marques, o almoço serviu para apresentar a iniciativa
ao empresariado, que foi convidado a participar com a criação de políticas
internas de promoção de informação e acolhimento às mulheres e em parcerias
para a oferta de produtos e serviços pensados para a cliente do banco.
Com as bandeiras de cartão, por exemplo, a Caixa pretende
definir benefícios como pontos para despesas associadas às necessidades das
mulheres. Na cesta de produtos e serviços ligados à iniciativa, a Caixa já começa
a ofertar uma cartão de crédito cujo único diferencial, hoje, é a ausência de
anuidade. Os juros, a partir de 3,45% ao mês, e as condições são as mesmas de
outros cartões.
Até o fim de agosto, mil agências da Caixa devem contar com o
espaço do Caixa pra Elas –a ideia é chegar a 4.000 até o fim do ano; hoje são
250. O atendimento nesses espaços será feito por empregadas do banco que estão
sendo chamadas de embaixadoras.
Segundo Marques, esses atendimentos servirão de baliza para a
definição de novos produtos. A presidente da Caixa vê o mercado bancário e
financeiro muito distantes das clientes mulheres e defende que o banco público
simplifique a comunicação.
Para ela, o empreendedorismo e a autonomia financeira das
mulheres é um dos mecanismos pelos quais elas "saem pela porta giratória
do ciclo de abuso."
Nos primeiros testes do Caixa pra Elas, Marques afirmou que
as embaixadoras já trouxeram relatos de atendimentos delicados, de mulheres
vulneráveis e em situação de violência.
As embaixadoras, segundo a Caixa, foram treinadas pelo
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos para que possam fazer
uma primeira orientação, com encaminhamento para rede de atendimento do
governo, por meio do 180, telefone dedicado ao atendimento às mulheres.
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