Entenda como o crédito será ofertado no mercado, incluindo taxa de juros e demais condições
O presidente Jair Bolsonaro (PL) sancionou, na última
quarta-feira (3), a lei (nº 14.431) que permite o empréstimo consignado para
beneficiários do Auxílio Brasil, programa de transferência de renda substituto
do Bolsa Família. Após a sanção, as instituições financeiras já poderiam ofertar
modalidade, mas ainda aguardam a regulamentação para colocá-la em prática.
Pela legislação, não há limite de taxa de juros para esse
grupo, a ser definida pelos próprios bancos. A medida, contudo, tem sido
criticada devido ao risco de endividamento de uma população já em situação de
vulnerabilidade econômica.
Para Juliana Barbosa, economista e especialista em finanças,
também há a possibilidade de assédios por partes de instituições contra os
beneficiários que possuem baixa escolaridade, induzindo-os a contratar o
crédito sem o conhecimento adequado sobre as condições oferecidas.
“Esse valor, que agora passará a ser de R$ 600, é a única
fonte de renda para muitos. Nesse contexto, ter quase metade do benefício (40%)
bloqueado para pagar parcela de empréstimo é preocupante”, observa.
O benefício temporário de R$ 600 começou a valer a partir
desta terça-feira (9), mas só terá validade até o fim do ano. Depois
disso, volta a ser R$ 400.
Todavia, o presidente Bolsonaro (PL) e o
ex-presidente Lula (PT), candidatos mais bem posicionados nas
pesquisas, já prometeram manter os R$ 600, mas, por ora, esse valor tem dia
para acabar.
Segundo o Ministério da Cidadania, em agosto, 20,19 milhões
de famílias serão beneficiadas pelo programa.
O QUE É UM EMPRÉSTIMO CONSIGNADO?
São empréstimos cujo pagamento é descontado diretamente na
folha de pagamento do contratante. No caso, do Auxílio Brasil, por exemplo, o
beneficiário receberá apenas o valor restante da parcela da dívida.
Geralmente, essa modalidade tem umas das taxas de juros mais
baratas devido ao baixo risco de crédito ao mercado, considerando ser voltado
para idosos, pensionistas, funcionários públicos e empregados regidos pela
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Por isso, há muito assédio
por parte das instituições financeiras.
Entretanto, no caso do Auxílio Brasil, a previsão é que as
taxas de juros sejam mais elevadas por não ter um limite definido e por ser um
perfil de maior ameça aos cofres dos bancos.
QUAL O VALOR DO EMPRÉSTIMO E QUAIS AS TAXAS DE JUROS PARA
QUEM RECEBE O AUXÍLIO BRASIL?
Os beneficiários poderão comprometer até 40% do valor-base do
benefício (R$ 400) com as parcelas. Ou seja, no caso de contratação desse
empréstimo, a pessoa receberá R$ 160 a menos, totalizando renda de apenas R$
240.
Já as taxas de juros serão definidas pelas instituições.
Juliana Barbosa, economista e especialista em finanças, alerta para percentuais
elevados.
“A União já declarou não ser responsável pelos riscos da
operação. Esses riscos serão dos bancos e de instituições financeiras que
liberarem o empréstimo. Já existem financeiras cobrando juros de 80% ao ano.
Quase 7% ao mês”, explica.
“De longe, será um juro muito maior que os cobrados em
empréstimos consignados a beneficiários do Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS) que gira em torno de 2% ao mês”,
completa.
Todavia, os outros grupos previstos na nova legislação já têm
teto definido. Veja como fica:
- Beneficiários
do Auxílio Brasil: taxa de juros será definida individualmente pelos
bancos;
- Aposentados
e pensionistas: 2,14% ao mês;
- Operações
realizadas pelo cartão de crédito consignado: 3,06% ao mês.
QUAIS BANCOS IRÃO OFERTAR O EMPRÉSTIMO PARA BENEFICIÁRIOS DO
AUXÍLIO BRASIL?
Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban),
as instituições ainda aguardam a regulamentação das condições do
empréstimo.
“Após a publicação das portarias e decretos que
regulamentarão a operação de crédito consignado para os beneficiários do
Auxílio Brasil, caberá a cada instituição financeira estabelecer os critérios
para a concessão do crédito”, informou a entidade.
Ainda conforme a Febraban, "a contratação da operação,
quando do início de sua oferta, seguirá os principais canais já
disponibilizados pelas instituições financeiras que operarem com o
produto".
Apesar disso, espera-se que os públicos da Caixa Econômica
Federal (CEF) e do Banco do Brasil (BB) sejam
os únicos grandes bancos a ofertarem a modalidade. Em razão do risco, Bradesco,
Itaú, Santander, Nubank e BMG já disseram ao jornal O GLOBO que
não vão oferecer o crédito.
Algumas financeiras, porém, já praticam um pré-cadastro para
a liberação do recurso a beneficiários.
QUAIS OS PROBLEMAS DESSE EMPRÉSTIMO?
O endividamento pode agravar o empobrecimento dessa
população, com a corrosão de quase metade dos ganhos para pagar o empréstimo.
Juliana Barbosa, economista e especialista em finanças, destaca que a maioria
dos assistidos pelo Auxílio Brasil não possui outra fonte de renda.
“Essas pessoas também não têm acesso a crédito e possuem uma
carência muito grande de educação financeira. Entendo que, de maneira geral, o
risco é grande”, frisa.
“O impacto na população mais vulnerável é ainda maior, por
conta de juros altos e grande assédio que sofrerão por parte de bancos e de
financeiras interessadas em emprestar, sem falar nas quadrilhas especializadas
em golpes financeiros”, lista.
HÁ ALGUMA VANTAGEM?
A especialista pondera que o crédito pode ser usado para
empreender em algo que possibilite melhoria na renda do beneficiário ou ter uma
moradia.
"Dinheiro é um grande aliado quando tomamos decisões
conscientes. O que não deve ser feito é utilizar a ferramenta do empréstimo
consignado para desejos momentâneos que não trarão nenhum benefício
futuro", enfatiza.
QUAIS CUIDADOS OS BENEFICIÁRIOS DEVEM TOMAR?
Juliana Barbosa, economista e especialista em finanças, lista
quais questões os beneficiários devem considerar antes de recorrer a esse
empréstimo. Veja:
- É
necessário entender a necessidade desse dinheiro. Questione-se: para que
ele será importante no orçamento doméstico?;
- Não
se deixar levar pela emoção. Tente ser o mais racional possível no momento
de tomar a decisão;
- Pesquise
em diferentes bancos e financeiras as taxas de juros cobradas para poder
optar pela mais baixa;
- Lembre-se
de que levará alguns meses ou anos para que essa dívida possa ser
paga.
A Febraban também destacou que a "procura por uma
operação de crédito deve ser avaliada cautelosamente por parte do beneficiário,
a fim de não incorrer em superendividamento".
O QUE ACONTECE COM QUEM NÃO CONSEGUIR PAGAR O EMPRÉSTIMO?
Não existe essa possibilidade. O beneficiário terá de
renegociar ou atrasar outras dívidas, mas essa não será possível. Conforme
explicado, o consignado é descontado diretamente da fonte pagadora.
Quando a pessoa for sacar o recurso, já terá o valor da
parcela subtraído para ser repassado para as instituições financeiras.
A única alternativa para diminuir o impacto do empréstimo no
orçamento será mudar de banco para tentar negociar taxas menores.
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