Governo anuncia novos cortes de gastos para bancar auxílios

Uma das discussões mais antigas da política se refere ao papel do Estado na sociedade. Desde tempos antigos, nas cidades-Estado gregas ou no Império Romano, pensadores, políticos e líderes militares debatem quais devem ser as atribuições e os limites do Estado.., mas ainda não foi possível chegar a um consenso. No Brasil, essa discussão ainda é bastante infrutífera, e a forte polarização política que tomou conta do país nos últimos anos tem tornado ainda mais difícil obter avanços nesse campo.

Esse cenário caótico abre caminho para que políticos habilidosos e vaidosos coloquem sua popularidade acima do bem-estar da nação, prezando por projetos que tragam retorno de curto prazo e que satisfaçam os desejos mais imediatistas da população, uma vez que tais propostas podem mais facilmente ser convertidas em apoio eleitoral.

Afinal, por que um político brasileiro se daria ao trabalho de pensar em como estará a nação daqui a 50 anos se as próximas eleições vão ocorrer em poucos meses?

Não pense que estou aqui criticando um grupo político específico. Neste texto, abordo um problema que existe há gerações, mas o motivo para essa crítica neste momento é o recente bloqueio de gastos no Orçamento de 2022 ordenado pelo Ministério da Economia.

Os bloqueios no Orçamento passaram a totalizar R$ 14,8 bilhões após um decreto publicado na sexta-feira (29). Esses bloqueios têm o objetivo de viabilizar o cumprimento do teto de gastos mesmo após o anúncio de medidas extraordinárias que visam conter a alta dos preços dos combustíveis e manter os auxílios à população mais vulnerável.

É evidente a importância de atender às necessidades da população neste momento crítico, mas é preciso ter em mente que "não existe almoço grátis": para sustentar cortes de impostos, auxílios e outras medidas que aumentam os gastos e reduzem a arrecadação, o governo precisa cortar custos de algum lugar.

Desta vez, quem mais tem sofrido são as pastas de saúde e educação, com bloqueios de R$ 2,7 bilhões e R$ 1,6 bilhão, respectivamente. De acordo com o secretário especial do Tesouro e Orçamento do Ministério da Economia, é natural que educação e saúde sofram bloqueios maiores, por se tratar das pastas com os maiores orçamentos.

Portanto, a mesma população que se beneficia dos auxílios e que vê o preço dos combustíveis diminuir, pagará a conta na forma de serviços ainda mais precários em educação e saúde -duas áreas imprescindíveis para o desenvolvimento de uma nação no longo prazo.

No curto prazo, tais medidas devem se refletir em uma desaceleração parcial da inflação e um leve aquecimento do consumo, mas nada capaz de mudar a trajetória do crescimento da economia brasileira, acostumada a voos de galinha e ao estigma de eterno "país do futuro".

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