“Quero ver quem vai cumprir”, diz dirigente da PF sobre pedido de prisão da cúpula da corporação

Como a coluna revelou, delegado do caso Milton Ribeiro pediu ao STF a prisão da cúpula do órgão por suposta interferência em investigação

 

Foto: Luciano Belford/ Especial para o Metrópoles

A notícia de que o delegado responsável pela investigação do escândalo que levou à cadeia o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro pediu a prisão da cúpula da Polícia Federal por interferência no caso repercutiu muito mal dentro da corporação.

Como a coluna revelou neste sábado, o pedido feito pelo delegado Bruno Calandrini está nas mãos da ministra Cármen Lúcia, relatora do inquérito sobre o caso, em curso no Supremo Tribunal Federal.

Em privado, delegados que ocupam cargos de direção na PF se disseram surpresos com iniciativa de Caladrini e criticaram duramente a postura do colega. Poucos acreditam que a ministra acolherá o pedido. Ao mesmo tempo, há um certo clima de apreensão porque ninguém sabe ao certo quais elementos embasam a petição apresentada ao STF. Por razões óbvias, o delegado não submeteu o pedido a seus superiores antes de enviá-lo à Corte.

“Se ela (Cármen Lúcia) deferir, quero ver quem vai cumprir a ordem de prisão”, diz um delegado que ocupa uma importante posição na hierarquia da Polícia Federal, referindo-se ao fato de que, se a ministra autorizar os pedidos de prisão, os mandados teriam de ser cumpridos por policiais da própria corporação, provavelmente dentro do edifício-sede do órgão.

É a primeira vez na história recente que um delegado pede a prisão de integrantes da cúpula da PF. Bruno Calandrini alega ter havido interferência do alto comando da corporação nas apurações sobre o esquema de corrupção no MEC.

Logo após a prisão do ex-ministro Milton Ribeiro, o delegado chegou a afirmar, em mensagem enviada a um grupo de policiais, que seus superiores estariam impondo obstáculos ao bom andamento da investigação. Ele disse ainda que houve “decisão superior” para que Ribeiro não fosse transferido de São Paulo para Brasília, como desejava a equipe encarregada da apuração.

Àquela altura, a direção da PF alegou não ter condições de atender o pedido do delegado para autorizar a emissão de passagens aéreas para o ex-ministro e para os agentes que fariam a sua escolta. Disse ainda que seria temerário fazer a transferência em um voo de carreira. As aeronaves que integram a frota da própria PF não estavam disponíveis para a equipe.

Tempos depois, o delegado apontou, com base em telefonemas interceptados com autorização judicial, indícios de que o presidente Jair Bolsonaro teria alertado o ex-ministro do risco iminente de deflagração de uma operação pela PF. A partir daí, o Ministério Público Federal pediu que o caso fosse remetido para o Supremo Tribunal Federal.

Entre os dirigentes da PF, sobram críticas – e até xingamentos – ao delegado Calandrini. Diretores da corporação negam que tenha havido interferência política no caso e dizem que a transferência de Milton Ribeiro para Brasília só não foi autorizada porque o delegado, temendo vazamento, deixou de fazer o planejamento da operação com a devida antecedência.

“Se ele (Calandrini) tivesse planejado direito, se tivesse solicitado antes, seria atendido. Mas ele fez tudo errado. Uma operação como essa tem que ser planejada”, queixa-se um delegado que ocupa uma importante posição na cúpula da instituição.

Bruno Calandrini responde a uma sindicância interna por ter acusado seus superiores de terem interferido na investigação. Quem acompanha o desenrolar do procedimento dá como certo que ele será punido.

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