Veja o que se sabe sobre o caso do jovem achado morto após ser filmado sendo colocado em viatura da PM

Advogado da família afirma que ele foi executado pelos militares. Os PMs registraram ocorrência dizendo que a morte aconteceu em suposto confronto.

O autônomo Henrique Alves Nogueira, de 28 anos, foi achado morto em Goiânia, em 11 de agosto deste ano. De um lado, a família afirma que ele foi executado por policiais militares. De outro, os PMs dizem que a morte resultou de um confronto entre eles e o jovem, que estaria levando drogas em uma mochila.

O que se sabe até agora é que uma câmera de segurança registrou o momento em que o jovem é abordado por policiais militares numa rua da capital, depois é colocado no porta-malas da viatura, que segue trajeto desconhecido (assista o vídeo acima).

Agora, a polícia investiga o que aconteceu entre o momento em que ele foi colocado na viatura, às 8h da manhã, e a hora em que foi encontrado morto, por volta de 20h. Henrique Alves deixa esposa e um filho de 4 anos.

Veja o que se sabe sobre o caso:

  • Como foi a abordagem?
  • Em qual local Henrique Alves foi abordado e onde foi achado?
  • O que diz a família?
  • Qual é a alegação dos PMs?
  • Qual é o histórico policial do jovem?
  • O que diz a Polícia Civil?
  • O que os PMs dizem ter encontrado com o jovem?
  • O que diz a Polícia Militar?

Jovem é encontrado morto após ser filmado sendo colocado em viatura da PM, em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/Polícia Civil

Como foi a abordagem?

A câmera de segurança de um comércio filmou em 11 de agosto deste ano os momentos em que Henrique Alves caminha numa rua com as mãos no bolso do casaco. Uma viatura do Tático da Polícia Militar (PM) para ao lado dele. Os PMs descem com revólveres nas mãos e o jovem logo se vira contra um muro para ser revistado.

A abordagem dura poucos segundos. As imagens mostram que o jovem e três PMs conversam por cerca de cinco minutos. Em seguida, os militares levam Henrique para o porta-malas da viatura. Ele até tenta resistir, mas acaba entrando. O carro da PM, então, segue trajeto desconhecido.

Em qual local Henrique Alves foi abordado e onde foi achado?

De acordo com o advogado Alan Araújo Dias, que representa a família, o jovem foi abordado no bairro Jardim Europa por volta de 8h da manhã, a última vez em que foi visto com vida.

Depois disso, a família tentou contato com ele durante todo o dia, mas não conseguiu. Registraram boletim de ocorrência por desaparecimento. À noite, cerca de 12 horas depois da abordagem, receberam a notícia da morte.

O corpo foi achado no bairro Real Conquista, que fica a 14 km do local da abordagem.

O que diz a família?

A família de Henrique afirma que ele foi executado pelos policiais militares que o colocaram na viatura. O advogado Alan Araújo contou que o laudo da morte apontou sinais de tortura, além dos tiros.

O advogado afirmou ainda que no momento da primeira abordagem, Henrique havia acabado de deixar o carro em uma oficina e voltava para casa.

"Percebemos que o vídeo constata que eram os policiais do confronto, a mesma viatura, a roupa que ele [Henrique] foi encontrado morto é a mesma que foi abordado mais cedo. Pode ser que ele não teve nenhum intervalo para ir em casa ou algo do tipo", destaca o advogado.

A família diz que ainda não sabe o motivo da suposta execução.

Qual é a alegação dos PMs?

Os policiais militares que abordaram o jovem registraram uma ocorrência contando que houve um confronto entre a equipe e dois suspeitos que estavam em uma moto.

Eles descreveram que estavam em patrulhamento quando cruzaram com a motocicleta de cor prata. Narram que os dois ocupantes tentaram dar meia volta para evitar abordagem. A moto derrapou e o garupa que levava uma mochila desceu.

Os PMs alegam que ele teria efetuado vários disparos contra a equipe e, por isso, revidaram. O suspeito foi desarmado e estaria com um revólver calibre .32 com seis munições, sendo três deflagradas.

Os militares dizem ainda que pediram socorro médico para o suspeito e que a morte foi constatada ainda no local. A equipe disse que ele levava uma mochila cheia de drogas. Registraram que o jovem não tinha documentos e que o outro suspeito fugiu.

 

Jovem é encontrado morto após ser filmado sendo colocado em viatura da PM, em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/Polícia Civil

Qual é o histórico policial do jovem?

A Polícia Civil diz que Henrique tinha passagens por tráfico de drogas e roubo, registradas em 2017, e uma por receptação, registrada em 2019.

O advogado da família diz que as passagens por tráfico e roubo viraram processos penais e as sentenças foram cumpridas.

O único processo que estava tramitando no Tribunal de Justiça é o de receptação. Ele chegou ao Judiciário como um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO). Houve audiência em 2020, que sentenciou o jovem a prestar 40 horas de serviços comunitários.

O que diz a Polícia Civil?

Segundo o delegado responsável pelo caso, André Veloso, o jovem foi colocado na viatura por volta de 8h da manhã e a delegacia de Homicídios foi acionada às 22h do mesmo dia, pela mesma viatura, para uma ocorrência de um suposto confronto.

"A versão deles [policiais] é que eles estavam andando ocasionalmente, se depararam com uma moto, pediram para parar, o motociclista fugiu e o carona confrontou a equipe, mas tivemos acesso a imagens que comprovam que, ao invés desse confronto, ele foi abordado e colocado no interior da viatura", disse o delegado.

Os PMs alegam que o jovem estava com drogas numa mochila. No entanto, a Polícia Civil explica que segundo as imagens que mostram a abordagem, Henrique Alves não portava nenhum dos objetos apontados.

"Na abordagem deu para ver que ele não estava com mochila nenhuma, não estava armado e não estava portando essas drogas. Ele estava sozinho, eles fazem a revista pessoal dele e o colocam no camburão", explicou o delegado.

O que os PMs dizem que encontraram com o jovem?

No boletim de ocorrência, os militares disseram ter encontrado grande quantidade de drogas em uma mochila que estaria com o jovem durante o suposto confronto:

  • 3 barras e meia de substância similar a maconha;
  • 70 papelotes de substância similar a cocaína;
  • 38 papelotes de substância similar a ecstasy;
  • 46 papelotes de substância similar a crack;
  • 2 pedaços de crack;
  • 3 pedaços de cocaína;
  • 1 rolo de papel filme.

O que diz a Polícia Militar?

A Polícia Militar disse em nota que determinou o afastamento dos policiais militares de suas funções ostensivas e abriu um inquérito interno para apurar a conduta dos agentes.

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