Bolsonaro enviou Orçamento 2023 ao Congresso com benefício
médio de R$ 405, mas, como outros candidatos, promete valor maior. Teto de
gastos é obstáculo para manter R$ 600 atuais.
A eventual decisão, pelo próximo governo, de manter o Auxílio
Brasil com parcelas mensais de R$ 600 em 2023 exigirá ajuste nas regras fiscais
do país. A avaliação consta em um relatório da Instituição Fiscal Independente
(IFI), vinculada ao Senado, divulgado nesta quarta-feira (14).
Na análise da entidade, o pagamento da parcela de R$
600 para 21,6 milhões de famílias no próximo ano não cabe no teto de gastos da
União.
O teto de gastos é uma regra constitucional aprovada em 2016
e em vigor desde 2017. Foi proposta pelo governo Michel Temer e aprovada
pelo Congresso Nacional com o intuito de reduzir o endividamento do país.
Pela norma, a maior parte dos gastos da União (Executivo, Legislativo e
Judiciário) fica limitada à inflação do ano anterior.
"A manutenção do benefício adicional demandaria ajustes
no orçamento e eventualmente nas regras fiscais, quer seja para tornar o gasto
adicional excepcional à regra do teto, quer seja para acomodar a despesa à
regra existente", concluiu a instituição.
A proposta do Orçamento de 2023, enviada pelo governo ao
Congresso Nacional no final de agosto, não inclui previsão de aumento para o
Auxílio Brasil. O valor médio incluído no texto é de R$ 405.
O valor atual, de R$ 600, foi aprovado pelo Congresso na PEC que concedeu benefícios em meio ao período eleitoral. Esse valor mensal, no entanto, só vale até dezembro deste ano.
Com isso, pela versão de Orçamento de 2023 enviada ao
Congresso, o benefício volta a um patamar próximo dos R$ 400 originais no
próximo ano.
Na mensagem enviada ao Congresso junto com a proposta
orçamentária, o governo diz que "envidará esforços" para alcançar o
auxílio de R$ 600 em 2023 – mas não indica quais alternativas serão buscadas.
Os candidatos mais bem posicionados nas pesquisas de intenção
de voto, até o momento, defendem manter o Auxílio Brasil em pelo menos R$ 600
em 2023 – ou substituir o auxílio por algum programa social de valor e formato
parecidos.
Cenários
A IFI estima que a prorrogação do benefício em R$ 600
representaria um aumento de R$ 51,8 bilhões em gastos obrigatórios no próximo
ano.
“Caso a opção seja por manter o Auxílio Brasil em R$ 600 no
próximo ano, o governo precisará, em momento oportuno, divulgar como seria
feito esse pagamento cumprindo a regra constitucional do teto de gastos”, disse
a IFI.
Se, em 2023, o benefício de R$ 600 for incorporado dentro da
regra do teto, a IFI avalia que há risco de compressão das despesas
discricionárias – como são chamados os gastos livres dos ministérios.
Isso porque um aumento no Auxílio Brasil obrigaria cortes de
despesas não obrigatórias, ou seja, investimento e gastos dos Ministérios, como
saúde, educação, fiscalização e segurança pública, entre outros.
No cálculo da instituição, o valor mínimo de despesas
discricionárias necessário para o funcionamento da máquina pública no próximo
ano é de R$ 122 bilhões.
Mas se o pagamento adicional de R$ 200 for incorporado ao
teto, as despesas discricionárias recuariam de R$ 115,7 bilhões para R$ 63,9
bilhões, o que, na avaliação da IFI, apresenta "elevada
possibilidade de paralisação no funcionamento da máquina pública".
Na possibilidade de os gastos ficarem fora da regra, a
instituição avalia que o impacto seria via aumento do deficit primário
(de +0,1% para -0,9% do PIB).
O déficit primário acontece quando as receitas com impostos
ficam abaixo das despesas, desconsiderando os juros da dívida pública. O
resultado engloba o governo federal, os estados, municípios e as empresas
estatais.
Em entrevista à GloboNews, o relator-geral do Orçamento de
2023, senador Marcelo Castro (MDB-PI), disse que a manutenção do Auxílio
Brasil em R$ 600 em 2023 vai depender da aprovação de uma proposta de
emenda à Constituição (PEC), para alterar o teto de gastos, ou então de uma
medida provisória prevendo a abertura de crédito extraordinário – ou seja, por
fora do teto.
O pagamento do adicional de R$ 200 até dezembro, aprovado
pelo Congresso, já foi feito fora do teto, por meio de crédito extraordinário.
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