Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) Esporádica é de rápida
evolução e leva a morte
A mulher de 40 anos que estava internada com diagnóstico de
Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ), um mal que provoca a morte gradativa do
cérebro e perda das funções como fala, audição, visão e movimentos,
morreu nesta terça-feira (11), no Hospital Municipal de Salvador, após 54
dias de hospitalização. A paciente, que teve a identidade preservada a pedido
dos familiares, antes de ser internada era uma pessoa saudável e não tinha
comorbidades. Ela foi o quinto caso registrado da enfermidade na Bahia este ano,
todos na capital. Dos cinco doentes, três não resistiram, um continua internado
e o quinto é acompanhado pela Vigilância Epidemiológica.
A DCJ é provocada por uma proteína anormal chamada ‘príon’ e
que não existe naturalmente em humanos saudáveis. Segundo especialistas,
não se trata de infecção e nem está cientificamente provado que exista
contaminação de pessoa para pessoa.
A doença tem quatro variantes [subtipos], o mais comum é o
causador da DCJ Esporádica, que vitimou a paciente nesta terça. Nesses casos, a
doença recebe esse nome porque não é possível determinar qual a razão da pessoa
desenvolver o mal que leva à morte dos neurônios e à perda das funções do
organismo comandadas pelo cérebro. A doença não tem cura e evolui até a morte
do paciente.
Internação às pressas
Os primeiros sintomas da mulher de 40 anos foram os
esquecimentos frequentes. Depois, ela começou a sentir tontura e teve episódios
de vômito e fraqueza. Sua voz também começou a soar confusa, difícil de
entender o que tentava dizer. Foram quatro dias até ser levada às pressas
para o hospital, onde passou quase dois meses, até sua morte, na manhã desta
terça.
A irmã da terceira vítima de DCJ na Bahia este ano contou que
a mulher estava internada deste o dia 19 de agosto. “Quando ela chegou ao
hospital, os médicos desconfiaram que fosse um quadro de encefalite herpética,
mas depois descartaram. Primeiro, ela parou de comer. Depois, perdeu a fala, a
visão e, por último, a audição. Até que ela morreu na manhã desta terça-feira.
Ainda estamos muito abalados”, contou.
Além de ser saudável e praticar exercícios, a paciente não
tinha histórico de Doença de Creutzfeldt-Jakob na família e não fez viagens ou
cirurgias recentemente.
Das quatro variantes da doença, uma é adquirida por objetos
cirúrgicos contaminados [forma Iatrogênica], uma é hereditária [a partir de uma
mutação da proteína príon], uma é não especificada [a esporádica que matou a
baiana de 40 anos] e a quarta é adquirida por ingestão de carne ou derivados
bovinos contaminados [essa é a popularmente conhecida como Doença da ‘Vaca
Louca’].
A irmã da paciente de 40 anos conta ainda que a vítima estava
desempregada desde 2021, mas seguia ativa, frequentando a academia. Ela não era
casada e deixou uma filha de 20 anos, com quem morava. "Era uma mulher
normal, tinha uma vida ativa e trabalhou em call center algumas vezes",
disse a irmã.
Familiares chegaram a visitar a doente na segunda-feira (10)
no hospital, mas ela não conseguia mais interagir. "A gente acreditava na
recuperação dela, mas se Deus decidiu recolher, não tem o que fazer",
acrescentou a irmã. O enterro está marcado para hoje, no Cemitério Bosque da
Paz, às 11h45.
Outros casos
O caso da mulher que faleceu nesta terça (11) foi
o quinto registrado na Bahia, em 2022. A Secretaria Estadual da Saúde (Sesab)
informou que todos as situações aconteceram em Salvador, sendo que três
pacientes morreram, um está internado e o quinto caso confirmado está tendo as
condições investigadas pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em
Saúde (Cievs). A reportagem apurou que outros sete casos foram registrados
no Distrito Federal, em 2022, e que não há registros em outros estados.
Entre os anos de 2005 e 2014, foram notificados no
Brasil 603 casos suspeitos de DCJ. Os dados são do Ministério da
Saúde e afirmam também que 55 casos foram confirmados, 52 foram
descartados, 92 foram indefinidos e 404 tiveram a classificação final ignorada
ou em branco. Nesta terça-feira, em nota, o Ministério informou que foi
notificado de um caso suspeito de Doença de Creutzfeldt-Jakob no estado da
Bahia, que a situação está sendo investigada.
“As informações disponíveis até o momento indicam para um
possível caso de DCJ Esporádica, forma que não possui relação com a ingestão de
carne ou subprodutos de bovinos contaminados com Encefalite Espongiforme Bovina
(EEB) e que não é transmitida de forma direta de um indivíduo para outro. A
pasta segue acompanhando as informações sobre o caso junto ao estado”, diz a
nota.
A Secretaria Estadual da Saúde e a Secretaria Municipal de
Saúde descartaram que os casos baianos tenham relação com a Doença da Vaca
Louca. O Ministério da Saúde também negou qualquer relação entre as doenças.
“Até o momento, não há casos confirmados da variante DCJ no
Brasil (vDCJ - transmitida pelo consumo de carne de gado ou derivados
contaminados com a Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB). Também não há casos
de animais com diagnóstico de EEB clássica no país. O Brasil é classificado
pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) como país de risco
insignificante para EEB”, diz a nota.
Procurado, o Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia) informou
que não tem pesquisadores atuando nessa área.
Confira os sintomas da Doença de Creutzfeldt-Jakob
(DCJ):
Embora exista uma grande variação nas manifestações clínicas,
a Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) caracteriza-se pelos seguintes sintomas:
- Desordem
cerebral com perda de memória;
- Tremores;
- Falta
de coordenação de movimentos musculares;
- Distúrbios
da linguagem;
- Perda
da capacidade de comunicação;
- Perda
visual;