Perito identificou que os joelhos de Henrique Alves estavam
apenas sujos e não machucados, o que mostra que ele se ajoelhou por vontade
própria. Vídeo mostra que jovem foi levado por viatura; caso foi em agosto.
O perito que analisou a cena da morte de Henrique Alves Nogueira afirmou na investigação que o jovem, de 28 anos, se ajoelhou por vontade própria diante dos policiais militares antes de ser baleado. O delegado que conduziu o caso, André Veloso, disse que a cena é muito comum quando a pessoa, antes de ser morta, se ajoelha para pedir para não morrer.
Um vídeo mostra o momento em que Henrique é colocado pelos
agentes dentro da viatura (veja acima). O caso aconteceu em 11 de agosto deste
ano.
Segundo Veloso, a observação do perito foi usada para
confirmar o homicídio por parte dos quatro policiais. Eles foram indiciados,
nesta segunda-feira (10), por três crimes: homicídio doloso qualificado, fraude
processual e falsidade ideológica. Os quatro têm histórico de envolvimento com
outras mortes em Goiás (leia mais abaixo).
"Essas sujeiras que tinham na região do joelho, o perito
consegue afirmar que foi antes dos disparos, porque se fosse depois, os joelhos
iam se quedar ao chão e lesionar, e não foi isso. Então ele se ajoelhou de
livre e espontânea vontade", explicou o delegado.
O g1 não localizou a defesa dos militares para se manifestar
sobre o indiciamento até a última atualização desta reportagem.
Henrique foi filmado no dia 11 de agosto sendo abordado pelos
PMs no Bairro Jardim Europa e colocado na traseira da viatura. Depois, não foi
mais visto com vida. Na noite do mesmo dia, esses policiais registraram boletim
de ocorrência dizendo que houve um confronto e um homem morreu, já no Bairro
Real Conquista.
Até então, o jovem estava desaparecido para a família. No
boletim, os policiais identificaram o morto como sendo Henrique Alves Nogueira
e os parentes foram avisados. A partir daí, familiares desconfiaram e pediram
investigação da morte.
Jovem é encontrado morto após ser filmado sendo colocado em viatura da PM, em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/Polícia Civil
Motivação
André Veloso falou nesta segunda-feira que ouviu de
testemunhas que o próprio Henrique havia falado que estava sendo ameaçado por
policiais.
"Como motivação, surgiu a tese por várias testemunhas,
inclusive uma falou que ouviu do próprio Henrique, que ele estaria sendo
ameaçado por policiais do Tático porque em determinada abordagem que ocorrera
60 dias antes do fato, ele tinha fugido levando consigo algemas que pertenciam
aos militares. Foi essa a versão mais plausível", explicou o delegado.
Os policiais foram presos no dia 16 de agosto e continuavam
detidos até a última atualização desta reportagem.
PMs de Goiânia durante abordagem a Henrique — Foto: Jornal Nacional
Abordagem e confronto
Os PMs disseram que foram abordar uma moto com dois homens no
Bairro Real Conquista, mas que o piloto fugiu e o garupa caiu e entrou em
confronto com a equipe. Depois apresentaram à Polícia Civil uma mochila cheia
de drogas que seria do garupa, depois identificado como Henrique Alves (foto
abaixo).
Mas uma câmera de um comércio registrou que Henrique não
carregava mochila no momento da primeira abordagem, conforme explicou o
delegado André Veloso, o que é uma divergência nos depoimentos dos policiais.
"O laudo sobre a mochila e as drogas ainda não ficou
pronto e ficou só essa pendência. Mas o laudo de local de crime apontou várias
inconsistências quanto a dinâmica do fato", esclareceu Veloso.
Policiais militares do Tático e Henrique Alves, que foi encontrado morto após abordagem em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
Histórico de mortes
Os quatro policiais militares indiciados estão envolvidos em
outros casos de homicídios em Goiás. O levantamento foi feito pelo g1 no
sistema de busca pública do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO).
Segundo a Polícia Civil, os policiais são: sargento Cleber
Leandro Cardoso, cabo Guidion Ananias Galdino, soldado Kilber Pedro Morais e
Mayk Da Silva Moura.
Conforme o sistema Processo Judicial Digital (Projudi), são,
ao menos, oito processos por homicídio em que os nomes dos policiais estão
envolvidos, que seguem em andamento.
- Guidion
Ananias Galdino –
aparece em 5 processos por homicídio, um por lesão leve e outro por
ameaça;
- Kilber
Pedro Morais –
aparece em um processo por homicídio, dois por lesão leve e um por fato
atípico;
- Cleber
Leandro Cardoso -
aparece em dois processos por homicídio e um por lesão leve;
- Mayk
Da Silva Moura -
aparece em dois processos por homicídio.
O sistema aponta que, três, dos quatro policiais, estão
envolvidos na morte de uma mesma pessoa, identificada com as iniciais KGBA, são
eles: Guidion, Kilber e Mayk. Já em um outro processo pela morte de outra
pessoa, identificada com as iniciais RAR, estão envolvidos: Guidion e Mayk.