Combustível estava 12,27%, ou R$ 0,46 por litro, mais barato
que os preços internacionais; diesel segue R$ 0,80 por litro abaixo do valor
O preço da gasolina vendida nos postos do país está em alta
há duas semanas consecutivas, segundo dados da ANP (Agência Nacional do
Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).
Isso acontece apesar do atraso da Petrobras em repassar o
aumento no preço do litro no mercado internacional para as refinarias locais.
Segundo o CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), a
estatal está há seis semanas vendendo gasolina nas refinarias abaixo do PPI
(Preço de Paridade de Importação). Já o diesel segue sem reajuste há quatro
semanas.
Na terça-feira (25) a gasolina da Petrobras estava 12,27%, ou
R$ 0,46 por litro, mais barata que os preços internacionais. O diesel segue
14,13%, ou R$ 0,80 por litro, abaixo do valor.
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil atribuem o aumento
do preço médio dos combustíveis nos postos brasileiros a um ajuste natural do
mercado motivado pelo crescimento na demanda e à subida nos valores da gasolina
e do diesel vendidos pela refinaria privada de Mataripe, na Bahia, responsável
por cerca de 14% da capacidade total de refino do país.
"Há primeiro de tudo o que eu entendo como ajustes
naturais do mercado. Cada posto tentando recuperar sua margem, dado que tivemos
uma redução grande nos últimos meses", diz Pedro Rodrigues, sócio-diretor
do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Segundo o analista, as diversas quedas seguidas registradas
nos meses anteriores aumentaram o consumo entre os brasileiros - de acordo com
a ANP, as vendas de gasolina no Brasil pelas distribuidoras no primeiro
sementes deste ano cresceram 10,8% em relação ao mesmo período de 2021 -,
motivando os próprios postos de gasolina a subirem os preços.
Os preços dos combustíveis são livres no Brasil, ou seja,
cada posto pode estipular o preço da gasolina, do diesel ou do etanol que
desejar.
"A defasagem do preço força uma maior demanda. E as
empresas acabam repassando esse aumento ao consumidor porque identificam um
descompasso dentro do próprio mercado", resume Juliana Inhasz, economista
e professora do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa).
Além disso, a refinaria de Mataripe tem sido mais veloz do
que a Petrobras para repassar as variações das cotações internacionais aos
preços de seus produtos.
No início do mês, a refinaria elevou o preço da gasolina em
9,7% e o do diesel S-10, em 11,3%.
A empresa diz que seus preços "seguem critérios de
mercado, que levam em consideração variáveis como custo do petróleo, que é
adquirido a preços internacionais, dólar e frete, podendo variar para cima ou
para baixo".
QUANTO A GASOLINA SUBIU?
Segundo a ANP, que monitora semanalmente os preços dos
combustíveis nos postos brasileiros, entre 25 de setembro e 1 de outubro, a
média do litro vendido nos postos era de R$ 4,81.
Na semana de 16 a 22 de outubro, porém, o preço médio avançou
para R$ 4,88, o que já representava uma alta de 0,41% frente à semana anterior
(R$ 4,86).
Entre 16 a 22 de outubro, o valor mais alto do litro
encontrado pela agência foi de R$ 6,90. No mesmo período, a região onde a
gasolina está mais cara é o Nordeste, com uma média de preço de R$ 5,10.
A alta atingiu também o diesel, que registrou nos mesmos dias
seu primeiro aumento desde o fim de junho. O preço médio do litro avançou de R$
6,51 para R$ 6,59 em uma semana, um aumento de 1,22%.
E A PETROBRAS?
Os preços estão subindo apesar da Petrobras estar vendendo
gasolina nas refinarias abaixo do preço praticado no mercado internacional.
A Paridade de Preço Internacional (PPI), adotada pela estatal
desde 2016, determina que a petroleira cobre, ao vender combustíveis para as
distribuidoras brasileiras, preços compatíveis com os do exterior.
"A Petrobras, em teoria, continua seguindo a paridade
internacional, mas passou a repassar muito rapidamente as quedas de preço e
está demorando mais para repassar as altas", diz o economista Rafael
Schiozer, professor de finanças da FGV EAESP.
A defasagem ocorre porque desde setembro as cotações
internacionais do petróleo e derivados voltaram a subir, devido a cortes na
oferta por países produtores reunidos na Organização dos Países Exportadores de
Petróleo (Opep).
Antes disso, porém, o preço dos combustíveis no Brasil estava
em queda devido, principalmente, à redução do valor do barril de petróleo no
mercado internacional e da taxa de câmbio.
Em junho, o governo também aprovou medidas tributárias para
reduzir o preço dos combustíveis, como a lei que limita o ICMS sobre itens como
diesel, gasolina, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo e o
corte dos impostos federais Cide e PIS/Cofins sobre esses produtos.
POR QUE OS PREÇOS NOS POSTOS ESTÃO SUBINDO ENTÃO?
Além dos ajustes naturais do mercado devido ao aumento da
demanda, o crescimento nos preços pode estar sendo influenciado pelos repasses
da refinaria de Mataripe, na Bahia.
Dado que a empresa é hoje responsável por cerca de 14% da
capacidade total de refino do país, um aumento nos valores praticados por ela
tem influência na média de preços nacional e, especialmente, nos valores
repassados pelos postos de gasolina na região Nordeste.
Para Schiozer, a variação na taxa de câmbio também pode estar
agindo sobre o preços dos combustíveis, já que o petróleo é comercializado em
dólares no mercado internacional.
"O câmbio interfere no preço da gasolina importada e,
indiretamente, na que é refinada no Brasil", diz. "O dólar ficou
rondando os R$ 5,10 por um bom tempo e agora está em R$ 5,32, são quase 5% de
aumento."
Na terça-feira (25), a moeda americana ganhou 0,26% frente ao
real, a R$5,316 na compra e a R$5,317 na venda.
Juliana Inhasz, do Insper, afirma ainda que as variações
recentes no câmbio também podem estar por trás da decisão da refinaria de
Mataripe de aumentar seus preços.
"O câmbio deveria influenciar mais os preços praticados
pela Petrobras do que pelas refinarias, mas existe um impacto também",
diz.
"O câmbio pode intervir principalmente no aumento do
custo para trazer a matéria-prima para o Brasil."
POR QUE A DEMORA PARA REPASSAR OS PREÇOS?
Na opinião de Pedro Rodrigues, do CBIE, a defasagem da
Petrobras em relação aos preços internacionais pode estar sendo motivada por um
desejo de evitar reajustes constantes provocados por um mercado muito volátil.
"A velocidade dos repasses faz parte da política de cada
direção da estatal. E a lógica muitas vezes é de esperar para subir o preço até
o limite das possibilidades comerciais e financeiras da empresa para não
reduzir o consumo", diz.
Mas para Rafael Schiozer, da FGV EAESP, a demora em repassar
os valores pode ter também ligação com as eleições marcadas para o próximo
domingo (30), quando o presidente Jair Bolsonaro (PL) disputa a reeleição
contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Depois das eleições, é provável que a Petrobras repasse
os valores que segurou até agora", diz o economista.
Segundo uma reportagem do jornal O Globo, técnicos da estatal
e parte da diretoria afirmam que já seria necessário reajustar os preços, mas
que o governo tem pressionado para evitar um aumento de preços antes do segundo
turno das eleições, marcado para domingo (30).
Em entrevista neste mês ao canal EPBR, o diretor-executivo de
Exploração e Produção da Petrobras, Fernando Borges, afirmou que a estatal
beneficia a sociedade brasileira ao demorar mais para elevar os preços dos
combustíveis.
O executivo ponderou que há atualmente um momento de
volatilidade grande no mercado internacional de petróleo dentro de um mesmo dia
e que a empresa evita repassar esses movimentos de imediato ao mercado interno.
Mas reconheceu que a companhia reduziu preços em velocidade
maior do que considera para elevar preços.
Segundo Schiozer, o governo do atual presidente escalou o
atual presidente da estatal, Caio Mário Paes de Andrade, já com a intenção de
atrasar os reajustes para fins eleitorais.
"Ele não pode dizer que não vai seguir a paridade, mas ele
pode ter algum poder discricionário para controlar a velocidade com que faz os
ajustes."
Já Juliana Inhasz aposta em uma combinação dos fatores
mercadológicos e políticos. "Há claramente um represamento de preços para
evitar aumentos às portas do segundo turno", diz.
"Ao mesmo tempo, vimos recentemente oscilações grandes
no preço do petróleo - e a Petrobras pode estar tentando evitar mudanças e
estresses desnecessários na economia esperando um pouco mais para reajustar o
preço".