Grupos acreditam que se trata de uma autorização a
intervenção militar
Desde que Lula (PT) foi eleito presidente no domingo (30),
alguns grupos apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) passaram a mencionar o
Artigo 142 da Constituição Federal como base para rejeitar o novo governo.
A menção acontece após o presidente Bolsonaro ter feito uma
publicação em 2021 referenciando o artigo e dizendo que ele daria às Forças
Armadas um poder de moderação quando houver um conflito entre os Poderes.
Também há uma vertente de bolsonaristas que acredita que
se o presidente ficar 72 horas sem se pronunciar, o artigo garante que ele
pode convocar o exército para devolver a paz para o país, mas o texto não
menciona qualquer tempo em silêncio que o presidente teria de cumprir.
Mas o que diz o artigo e por que golpistas se apropriam dele?
O artigo regulamenta o papel das Forças Armadas e sua
constituição, composta por Aeronáutica, Marinha e Exército, e diz que são
instituições nacionais permanentes, "organizadas com base na hierarquia e
na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República"
para defesa da Pátria e garantia dos poderes constitucionais.
Grupos bolsonaristas acreditam que se trata de uma
autorização a intervenção militar. Em 2020, a Câmara teve que emitir um parecer
esclarecendo: “Não existe país democrático do mundo em que o Direito tenha
deixado às Forças Armadas a função de mediar conflitos entre os Poderes
constitucionais ou de dar a última palavra sobre o significado do texto
constitucional”, diz o documento.
Ainda segundo o parecer, trata-se de "fraude ao
texto constitucional" a interpretação de que as Forças Armadas teriam o
poder de se sobrepor a “decisões de representantes eleitos pelo povo ou de
quaisquer autoridades constitucionais a pretexto de ‘restaurar a
ordem’".
O documento ressalta ainda que nenhum dispositivo
constitucional e legal faz referência a uma suposta atribuição das Forças
Armadas para o arbitramento de conflitos entre Poderes. “Jamais caberá ao
presidente da República, nos marcos da Constituição vigente, convocar as Forças
Armadas para que indiquem ao Supremo Tribunal Federal qual é a interpretação
correta do texto constitucional diante de uma eventual controvérsia entre
ambos”, diz o parecer.
O sistema político brasileiro, portanto, proíbe militares de
intervir na política. De acordo com a Constituição de 1988, logo no Artigo
1º, parágrafo único diz que "Todo poder emana do povo, que o exerce por
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição".
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