O dólar está disparando hoje, 10, depois da divulgação da
inflação no Brasil e nos Estados Unidos. Além disso, o mercado reage à
possibilidade de tirar o Bolsa Família do teto de gastos, dizem analistas e
investidores.
Apesar de o dólar ter chegado perto de R$ 5 logo depois da
eleição de Lula, hoje o câmbio já passou dos R$ 5,30. O preço do fechamento do
dia é de R$ 5,396, alta de 4,14% no dia.
Por volta das 15h30, o dólar estava a R$ 5,341, alta de
3,09%. Logo na abertura do mercado, a moeda americana chegou a subir quase 3%.
Ontem o dólar já havia fechado o dia em alta, de 0,74%, fechando a R$ 5,18.
Desde o início do mês, a alta é de 2,96%.
Marcelo Oliveira, CFA e co-fundador da Quantzed, diz que
"hoje o mercado está repercutindo a fala do Lula ontem em entrevista, em
que disse que é preciso gastar". Além da entrevista de ontem, em discurso
nesta quinta, Lula criticou o teto de gastos e afirmou que e "algumas
coisas encaradas como gastos nesse país vão passar a ser vistas como
investimentos".
Veja abaixo o que está acontecendo com o dólar.
Como a política brasileira afeta o dólar? O real está caindo mais que outras
moedas de países em desenvolvimento, diz João Maurício Lemos Rosal, Economista
Chefe da Terra Investimentos. A razão é a preocupação com a transição de
governo e a política fiscal, diz ele, principalmente a exclusão dos gastos
sociais do teto de gastos.
A equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) discute a possibilidade de tirar o Auxílio Brasil, que deve ser rebatizado
de Bolsa Família, do Orçamento de 2023 a 2026.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos,
diz que o mercado entende que haverá um aumento de gastos, seja para programas
sociais, seja para outros investimentos, sem ter uma fonte de recursos válida e
sustentável para isso."A partir do momento em que você coloca o programa
social fora do teto, e é um programa é importante, você abre brechas. O
programa pode ficar ilimitado, pode aumentar os recursos sem controle, sem
âncoras."
Marcelo Oliveira, da Quantzed, diz que o dólar tem subido
mais por influência do mercado interno do que externo. "Hoje o mercado
está repercutindo a fala do Lula ontem em entrevista, em que disse que é
preciso gastar, que não é preciso economizar para pagar juros para banqueiros,
não mostrando muita preocupação com o controle fiscal. O mercado está
preocupado com a quebra do teto fiscal."
Outro motivo é a indefinição de quem irá ocupar o Ministério
da Fazenda. Investidores esperam um novo ministro mais alinhado com o mercado,
o que ainda não foi anunciado.
Como está a inflação no Brasil? O IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo), a inflação oficial no país, fechou outubro em 0,59%,
após três meses consecutivos de deflação (inflação negativa). A alta foi puxada
pelo grupo de alimentos (a batata subiu 23% e o tomate, 17%, por exemplo).
No ano, o IPCA acumula alta de 4,7% e, nos últimos 12 meses,
de 6,47%. "A inflação no Brasil veio acima da expectativa do mercado,
piorando ainda mais o cenário", diz Marcelo Oliveira, cofundador da Escola
de Investimentos.
Inflação mais alta significa moeda nacional mais fraca.
"No geral, a dinâmica da inflação ainda é desafiadora, dadas as pressões
sobre tarifas de energia e de serviços em um cenário de aperto no mercado de
trabalho e expectativa de uma grande expansão fiscal em 2023", publicou o
Goldman Sachs.
Qual foi a inflação nos EUA? Como afeta o dólar? Por volta de 10h30, o Departamento do
Trabalho americano divulgou índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em
inglês) dos Estados Unidos. A inflação por lá subiu 0,4% em outubro, na
comparação com setembro. A expectativa era de alta de 0,6%. Apesar disso, a
inflação ainda está muito acima da meta do banco central americano, o Fed, de
2% - deve fechar o ano em 7,7%.
"O dado veio abaixo do que o mercado esperava, o que é
uma boa notícia. Significa que a inflação está crescendo menos e que talvez o
Federal reserve, o banco central dos Estados Unidos, não precise mais subir
tanto os juros", diz Felipe Steiman, gerente de desenvolvimento de
negócios da B&T Câmbio.
Fabio Fares, especialista em macroeconomia
da Quantzed, acredita que a próxima alta dos juros americanos, em
dezembro, será de 50 pontos. Antes, a expectativa era de 75 pontos.
Com juros mais altos nos EUA, investidores tiram o dinheiro
de economias mais instáveis e arriscadas, como o Brasil, para investir no
mercado americano, uma economia mais forte. Isso leva a uma desvalorização do
real em relação ao dólar.
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