Imagens em que pessoas cobram um candidato chamado Francismar deram origem à operação da Polícia Federal contra corrupção eleitoral, segundo fontes ouvidas pelo g1.
Um vídeo que circula nas redes sociais, com eleitores
relatando suposta compra de votos, foi o que deu início à operação da Polícia
Federal (PF), deflagrada nesta sexta (11). O g1 teve acesso às imagens e
confirmou com fontes policiais. Nelas, várias pessoas reclamam de ter votado em
um candidato chamado Francismar, mas não ter recebido o combinado em troca
(veja vídeo acima).
O único com esse nome que concorreu nestas eleições foi o deputado estadual Francismar Pontes (PSB), reeleito no pleito deste ano. O g1 tentou, mas não conseguiu contato com o deputado até a última atualização desta reportagem.
A operação Dois Unidos investiga o crime de corrupção
eleitoral. Foram expedidos dois mandados de busca e apreensão nos bairros do
Parnamirim e Jaqueira, na Zona Norte do Recife, mas a polícia, nas
diligências, também fez buscas em outro local. O nome da operação faz
referência ao bairro em que ocorreram os fatos.
O vídeo, gravado por uma mulher, mostra dezenas de pessoas na
rua, no que seria o dia 2 de outubro, primeiro turno das eleições. A mulher e
várias outras pessoas fazem reclamações sobre o não recebimento de dinheiro.
"Está todo mundo aqui na casa de Tiago, querendo receber o dinheiro, e nada. [...] Todo ano, quando tem eleição, a gente vem e não recebe. Todo ano é isso. Recebem cinco e mil não recebem. Agora, todo mundo que está aqui, votou. Todo mundo aqui com o papelzinho. Aí a gente quer o quê? Nossos direitos. Se foram atrás da gente para botar o nome na lista foi para quê? Para receber", afirma, enquanto mostra comprovantes de votação.
Adesivo de campanha de Francismar Pontes (PSB) em vídeo investigado em operação sobre compra de votos — Foto: Reprodução/WhatsApp |
Também é possível ver adesivos com o nome e o número de Francismar
Pontes, que recebeu 66.621 votos nas eleições deste ano e foi reconduzido ao
cargo. Ele é médico e já exerceu seis mandatos parlamentares, sendo quatro como
vereador do Recife. Elegeu-se deputado pela primeira vez em 2010 e foi reeleito
em 2014 e 2018.
No vídeo, a mulher diz também que vai à clínica que pertence
ao deputado. "Bora todo mundo se juntar para ir à clínica de Francismar,
ou na casa dele", declara.
O delegado Belmiro Araújo, responsável pelas investigações,
disse que dois dos mandados foram cumpridos na casa do candidato e na casa do
suspeito de "aliciar" os eleitores. Um terceiro local foi
identificado ao longo da ação, e também foi alvo de buscas.
"A gente está no início da investigação, a gente
basicamente descobriu os primeiros envolvidos relacionados a esse vídeo e a
localidade. Então, cumprimos buscas na residência do candidato, na residência
do aliciador, e a gente vai analisar o material apreendido e buscar novas
provas em campo", afirmou o delegado.
Belmiro Araújo também disse que, em tese, os eleitores que
venderam o voto também podem ser responsabilizados. Mas a prioridade é
identificar os responsáveis pela compra, que se aproveitam da situação
econômica dos eleitores.
"Em tese, a corrupção eleitoral envolve tanto quem compra
quanto quem vende o voto. Mas na realidade, a conjuntura atual, de
hipossuficiência dos eleitores, de vulnerabilidade desses eleitores, na
prática, é muito difícil que eles sejam apenados ou responsabilizados pela
conduta. O que importa ao sistema persecutório e a toda a população é o
candidato, que se aproveita dessa vulnerabilidade e busca comprar seu voto para
se perpetuar no poder", declarou.
O g1 entrou em contato com o PSB e com a Assembleia
Legislativa de Pernambuco (Alepe), mas não obteve resposta até a última
atualização desta reportagem.
Operação Dois Unidos
Foram realizadas diligências preliminares e a PF identificou
a localidade, assim como o suposto coordenador da campanha e o respectivo
candidato. Os mandados foram expedidos pela 9ª Zona Eleitoral de Pernambuco.
"A investigação busca obter novos elementos de prova, e
objetiva confirmar o modus operandi dos investigados, bem como identificar
outros envolvidos", afirmou a PF, por meio de nota.
Os investigados respondem pelo crime de corrupção eleitoral,
cuja pena pode alcançar quatro anos e multa, além de outros ilícitos
eleitorais.
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