O fotógrafo e biólogo Daniel De Graville explicou que durante
o período de acasalamento, as sucuris fêmeas liberam no ar um feromônio que
atrai vários machos. Uma sucuri fêmea pode acasalar com mais de 10 machos em
uma única vez.
Acasalamento de sucuri é registrado na beira de rio em Bonito pic.twitter.com/yyq4J5tEKR
— Max (@maxribeiro_29) January 27, 2023
Às margens de um rio, escondidas no meio do capim, quietas e
emboladas umas nas outras. Um verdadeiro "bolo reprodutivo" com
várias sucuris foi flagrado pelo fotógrafo e biólogo Daniel De Granville
durante uma das expedições fotográficas no maior point do ecoturismo do Brasil,
Bonito (MS). Assista ao vídeo acima.
"As sucuris estavam em um lugar meio escondido no meio
do capim-navalha e a gente não queria perturbá-las. Então, não dava pra ver
muitos detalhes, só consegui confirmar uma fêmea e um macho, mas certamente
havia outros machos por perto", relembra o fotógrafo e biólogo.
Acostumado a fazer expedições subaquáticas para flagrar
sucuris gigantes embaixo d'água, o fotógrafo flagrou o "bolo
reprodutivo" em um passeio diferente do que geralmente proporciona aos
clientes. "Geralmente, meus clientes são mergulhadores que querem fotos
das sucuris dentro da água. Mas este fotógrafo específico só fazia imagens
externas, não mergulhava".
Sucuris são flagradas em bolo reprodutivo em Bonito. — Foto: Daniel De Granville/Arquivo pessoal
As buscas pelos registros na expedição eram por outros
animais, as sucuris não eram o objetivo. Entretanto, Daniel conta que foi
avisado por um funcionário de uma propriedade rural de que havia várias sucuris
emboladas no barranco. Assim que recebeu a informação, o fotógrafo e o cliente
partiram ao encontro das serpentes.
"Chegando lá percebi que era um bolo reprodutivo e não
apenas um indivíduo de sucuri. O que mais me encanta, além da questão
fotográfica em si, é a possibilidade de documentar fenômenos naturais raros,
que podem ajudar em pesquisas científicas e também na conscientização das
pessoas sobre a importância da conservação da natureza".
Fenômeno de reprodução e cuidados
Pequenos machos disputam pela cópula com uma única fêmea durante a reprodução. — Foto: Daniel De Granville/Arquivo Pessoal
Daniel é acostumado a ficar frente a frente com as gigantes
das águas doces. O biólogo explica que o processo de acasalamento da
espécie pode durar várias semanas. Mais de 10 machos ficam se revezando na
cópula com uma única fêmea, como o profissional comenta.
As sucuris possuem um comportamento reprodutivo bem
diferente, que é chamado de "poliândrico", que significa que
uma fêmea acasala com vários machos. As fêmeas sempre são maiores, os
machos, menores, disputam pelo acasalamento.
"Podemos encontrar mais de 12 machos disputando uma
única fêmea, sendo que elas são muito maiores e mais pesadas do que eles. Na
época do acasalamento, que ocorre nos meses de inverno, a fêmea costuma ficar
exposta no barranco do rio e libera no ar um feromônio (substância com odor
característico) que atrai os machos", detalha o biólogo.
Acasalamentos de sucuris foi visto de bem próximo. — Foto: Daniel De Granville/Arquivo Pessoal
Um dos pontos que chama atenção durante o período de
acasalamento das sucuris é que as fêmeas podem matar um dos machos para se
alimentar durante o processo. O motivo, é que as fêmeas podem passar de 6
a 7 meses sem comer durante a gestação, como explica o biólogo.
"O macho não morre naturalmente após acasalar, mas pode
ocorrer da fêmea matar um de seus parceiros e se alimentar dele. O motivo é
que, após acasalar e entrar em gestação, a fêmea passará de 6 a 7 meses sem
comer, até parir os filhotes. Então, este macho pode ser sua última refeição
por um longo período. Este comportamento ocorre pois desta forma, com a barriga
vazia, há mais espaço em seu corpo para abrigar os filhotes que estão se
desenvolvendo", comentou Daniel De Granville.
Seja na água ou na terra, o cuidado deve ser mantido ao ver
as gigantes serpentes. Daniel De Granville faz um alerta: "a maior preocupação é manter
uma distância segura, tanto para não permitir um possível ataque, mas
principalmente para não atrapalhar um momento tão fundamental para a espécie,
que é sua reprodução".