Brasileiros usam vírus inédito para furtar compras com essa
tecnologia
Um grupo de cibercriminosos brasileiros especializados em
vírus financeiros lançou um malware (programa malicioso) capaz de bloquear
pagamentos por aproximação em pontos de venda. Com isso, eles obrigam os
consumidores a inserir o cartão de crédito na máquina, possibilitando fraude.
A novidade aparece em uma nova versão do vírus da gangue
Prilex, que está em circulação desde novembro e foi divulgada pela Kaspersky
nesta terça-feira (31). Segundo a empresa de cibersegurança, é a primeira vez
no mundo que uma gangue consegue dar um nó nesse formato de transação.
Os pagamentos por aproximação, efetuados apenas encostando um
cartão de crédito ou dispositivo eletrônico (como celular ou relógio
inteligente) na máquina, se tornaram populares nos últimos anos e são tidos
como mais seguros. Neles, cada compra tem um identificador único, ou seja,
mesmo que as informações sejam capturadas por criminosos, não têm utilidade.
A técnica usada pelo Prilex burla essa segurança ao forçar os
clientes a pagar do jeito tradicional: inserindo o cartão. Quando há uma
tentativa de pagamento por proximidade, a máquina infectada exibe a mensagem
"ERRO APROXIMACAO (sic) INSIRA O CARTAO (sic)". Esse texto pode ser
alterado em outras versões do malware.
Segundo Fabio Assolini, chefe de pesquisa da Kaspersky na
América Latina, o número de detecções desse vírus em atuação ainda não é alto,
o que pode indicar que ainda está em teste.
"O Prilex é bem direcionado. Não vão instalar o vírus na
padaria da esquina. Eles preferem empresas que movimentam valores
expressivos", afirma.
De acordo com o especialista, uma vez validado, os criminosos
podem vender seu vírus para outros fraudadores. Além disso, outras gangues
podem seguir o exemplo e adaptar seus próprios malwares para usar estratégias
parecidas.
A nova versão do vírus do Prilex é também capaz de filtrar os
dados roubados, para apenas de bandeiras ou de segmentos específicos —para
capturar informações só de cartões "black" e corporativos, que
normalmente têm limites mais altos, por exemplo. Com isso, o grupo consegue
fazer bancos de cartões mais valiosos para vender para outros criminosos.
HISTÓRICO
O Prilex é um dos grupos locais que buscam destaque no
exterior com fraudes bancárias, enquanto as principais gangues do mundo dirigem
seu foco a práticas de ransomware (bloqueio de informações mediante resgate),
tidas como ainda mais lucrativas. Sua atuação é rastreada pelo menos desde
2014, e já chegou a América do Norte e Europa.
As ferramentas do Prilex afetam computadores de pontos de
venda. A estratégia do grupo é tida como mais sofisticada do que a usada por
grupos concorrentes. Enquanto a maioria cria malwares que monitoram a memória
das máquinas para extrair dados de cartão, eles criam uma conexão falsa: em vez
de a máquina do cartão se comunicar com a instituição financeira, ela envia as
informações diretamente para os criminosos e faz uma compra fantasma com eles.
Para a fraude não ser tão óbvia, uma vez que os dados são
enviados, o vírus faz com que a máquina de cartão emita um erro no pagamento,
obrigando os clientes a fazerem o processo novamente. Na segunda tentativa,
tudo transcorre normalmente e a impressão que fica é de ter sido só um problema
corriqueiro
Para instalar seus vírus, criminosos do Prilex entram em
contato com o estabelecimento comercial e se apresentam como funcionários das
empresas de maquininhas ou das bandeiras do cartão. Dizem que precisam fazer
manutenção nos equipamentos e instruem a vítima a acessar um site para instalar
uma ferramenta que dá acesso remoto ao computador.
PROTEÇÃO
Para o consumidor, ao detectar um gasto indevida no cartão, a
dica é procurar o banco para impugnar a compra e fazer boletim de ocorrência.
Preventivamente, os clientes podem também ficar atentos à
mensagem de erro exibida pela máquina. "Aí o que o usuário pode fazer é
insistir no pagamento por aproximação. Se não tiver nenhum jeito, melhor tentar
pagar de outra forma", afirma Assolini.