Médicos dizem que se Alessandra dos Santos Silva não
amputasse o braço, iria morrer de necrose. Secretaria Estadual de Saúde e
Polícia Civil investigam.
Alessandra dos Santos Silva e a mãe — Foto: Reprodução/TV Globo |
Uma passista da Acadêmicos do Grande Rio se internou para
retirar miomas no útero e teve alta dias depois com parte do braço esquerdo
amputado.
“Só lembro mesmo disso, de acordar em outro hospital sem o
braço”, disse Alessandra dos Santos Silva, de 35 anos, que também é trancista.
A Secretaria Estadual de Saúde e a Polícia Civil do RJ
investigam o caso.
Cronologia do caso
- Agosto
de 2022: Alessandra
sente dores e tem sangramentos. Exames apontam miomas no útero e
recomendam a retirada imediata. Ela começa a se preparar.
- 30
de janeiro: Alessandra
recebe uma ligação do Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de
Meriti, na Baixada Fluminense, convocando-a para a cirurgia.
- 3
de fevereiro: Alessandra
se interna e é operada pela manhã. À noite, médicos detectam uma
hemorragia.
- 4
de fevereiro: o
Hospital da Mulher avisa à família que terá de fazer em Alessandra uma
histerectomia total — a retirada completa do útero.
- 5
de fevereiro: parentes
foram visitar Alessandra, mas ela estava intubada e, segundo eles, com
as pontas dos dedos esquerdo escurecidas. Braços e pernas estavam
enfaixados. Segundo a mãe, falaram que a paciente “estava com frio”.
- 6
de fevereiro: a família é avisada de que Alessandra — ainda intubada — terá que
ser transferida para o Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro
(Iecac), em Botafogo. Segundo parentes, o braço da passista estava
praticamente preto. Um médico lhes diz que iria drenar o braço, “que
já estava começando a necrosar”.
- 10
de fevereiro: o
Iecac informa que a drenagem não deu certo e que “ou era a vida de Alessandra,
ou era o braço”, porque a necrose iria se alastrar. A família
autoriza a amputação. A cirurgia é feita, mas o estado da mulher se
agrava, com o rim e o fígado quase parando e com risco de uma
infecção generalizada.
“Ela subiu com os médicos apavorados para salvá-la, ou não ia
sair dali viva. Chamaram a gente no canto: ‘Queríamos que vocês olhassem a mão
dela. Ou tirava, ou ela ia morrer’”, lembrou a mãe, Ana Maria.
- 12
de fevereiro: Alessandra
é extubada.
- 15
de fevereiro: A
passista recebe alta.
- 28
de fevereiro: A
mulher volta ao Iecac para a revisão da cirurgia de amputação. Segundo a
mãe, Ana Maria, o médico se assusta com o estado dos pontos e
recomenda que elas voltem ao Heloneida Studart.
- 4
de março: após
ser recusada em diferentes hospitais, Alessandra é internada no Hospital
Maternidade Fernando Magalhães e transferida para o Hospital Municipal
Souza Aguiar.
- 4
de abril: Alessandra
recebe alta.
Ajuda dos amigos
A família da Alessandra também diz que ela só está viva
graças à ajuda dos amigos, que foram incansáveis.
“A gente correu muitos hospitais para tentar que ela
entrasse, mas todos alegaram que ela tinha que voltar para o lugar onde ela
passou pela cirurgia”, disse Lukas Matarazzo. Mas a família não quis retornar
para o Heloneida Studart e só conseguiu a vaga na rede municipal.
Agora, a família ainda conta com a ajuda dos amigos para
arcar com todos os medicamentos e com a fisioterapia.
A família fez um boletim de ocorrência na delegacia.
“Já fizemos um requerimento nos hospitais para pegar os
prontuários. A partir desse documento, a gente vai entrar com uma ação contra o
Estado”, afirmou a advogada Bianca Kald.
Alessandra está noiva há 11 anos e tinha o sonho — agora
impossível — de engravidar. Ela também não sabe como vai conseguir trabalhar em
salões de cabeleireiro sem uma das mãos.
“Eu quero que os responsáveis paguem, que o hospital se
responsabilize, porque eles conseguiram acabar com a minha vida. Destruíram meu
trabalho, minha carreira, meu sonho... tudo”, declarou Alessandra.
O que dizem as autoridades
A Secretaria Estadual de Saúde disse que vai abrir uma
sindicância para apurar o que aconteceu no Hospital da Mulher Heloneida
Studart.
A Polícia Civil informou que o caso foi registrado na 64ª DP
(São João de Meriti) e que os agentes requisitaram o laudo médico de
atendimento na unidade para fazer uma análise.
Caso semelhante em hospital particular
Um caso semelhante aconteceu em outubro do ano passado. Gleice Kelly Silva deu
entrada no Hospital da Mulher Intermédica de Jacarepaguá para dar à luz e, dias
depois, teve o braço amputado.
Gleice teve uma hemorragia depois do parto e, segundo os
familiares da jovem, os médicos decidiram criar um acesso venoso na mão dela
para introduzir a medicação. Mas, durante o procedimento, a jovem relata que
começou a sentir muita dor e incômodo.
Logo depois, a mão foi ficando roxa e inchada. O quadro de
saúde da jovem foi se agravando, e os médicos decidiram transferi-la para outro
hospital da mesma rede, em São Gonçalo, na Região Metropolitana.
Três dias após o nascimento da bebê, ela e os familiares
receberam a notícia de que a mulher teria que amputar a mão.