Policiais desceram da viatura da Polícia Militar para agredir a mulher, que teve dificuldades para registrar queixa sobre as agressões neste domingo (16).
Uma mulher de 25 anos foi agredida por dois policiais
militares no município de Primavera, na Zona da Mata Sul do Estado. Imagens
enviadas ao WhatsApp da TV Globo mostram os agentes dando socos e tapas no
rosto da vítima no meio da rua, em frente ao fórum da cidade.
As agressões foram registradas do lado de fora do Clube
Municipal de Primavera, onde estava acontecendo um show.
Nadiane Kênia da Silva Ramos contou que tinha ingerido bebida
alcoólica e estava caminhando na rua com o irmão, quando teve a sensação de que
estava sendo perseguida e se aproximou de uma viatura policial para pedir
ajuda.
Ao falar com os policiais que estavam dentro do carro,
Nadiane disse que se apresentou como ex-companheira do sargento reformado da
Polícia Militar João José Soares, conhecido como João da Kombi, de 61 anos, que
foi assassinado a tiros na cidade, em fevereiro de 2022. Ela contou que também
foi baleada na ocasião, mas sobreviveu.
“Comecei a chorar e pensei que tinha bandido na rua querendo
matar a mim e meu irmão. Quando cheguei perto dos policiais, disse que era a
esposa de 'João da Kombi'. Aí ele [o policial] disse: ‘Não, você era a
rapariga!'. Depois, ele [o policial] desceu do carro e começou a me
agredir", contou Nadiane.
No vídeo, é possível ver Nadiane conversando com os policiais sentados no banco dianteiro da viatura. Logo depois, o carro anda um pouco para frente e para.
É possível ver um dos agentes dando socos e tapas na cabeça
da vítima, que está acuada e tenta se proteger com as mãos. Enquanto sofre as
agressões, a mulher acaba sendo empurrada na direção do outro policial, que dá
um tapa no rosto dela.
Segundo Nadiane, após as agressões, um dos agentes lançou
spray de pimenta nos olhos dela. Foi quando os policiais voltaram à viatura e
deixaram o local.
Com hematomas no corpo, ela disse que foi socorrida por
moradores que passavam pela área e voltou para casa.
Por meio de nota, a Corregedoria da Secretaria de Defesa
Social (SDS) disse que vai analisar as imagens e investigar a conduta dos
policiais.
Mulher teve que peregrinar para registrar queixa
Nadiane tentou desde a manhã de domingo (16) registrar queixa
da agressão, mas passou por uma peregrinação para conseguir fazer o boletim de
ocorrência no fim da tarde.
Moradora do distrito de Frexeiras, no município de Escada,
também na Mata Sul de Pernambuco, ela disse que procurou, primeiro, a delegacia
de Primavera.
Como a unidade estava sem delegado de plantão, ela disse que
foi orientada a seguir para Vitória de Santo Antão, a 62 quilômetros de
Primavera; e, em seguida, para Gravatá, cidade localizada a 55,8 quilômetros da
cidade.
Nadiane estava acompanhada da mãe, da irmã e do padrasto e
precisou alugar um carro para chegar em Gravatá para registrar a queixa.
Ela conseguiu registrar a queixa na Delegacia de Gravatá e
passou por exame de corpo de delito na UPA do município no fim da tarde do
domingo.
O que diz a polícia
Por meio de nota, a Polícia Militar informou que a corporação
não concorda com esse tipo de conduta e que vai investigar o comportamento dos
policiais.
“Ratificamos que este tipo de procedimento, agressivo,
exagerado e desproporcional, não condiz com a doutrina de abordagem policial,
tampouco faz parte das orientações repassadas pela corporação à sua tropa”,
afirmou a PM.
Já a Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS) disse
que tomou conhecimento do vídeo por meio da imprensa e que vai abrir um
procedimento preliminar para identificar os policiais militares envolvidos no
crime.
A Polícia Civil informou, por meio de nota, que a equipe
responsável pelo registro das ocorrências em Primavera nos plantões de fim de
semana fica na Delegacia de Gravatá.
Ainda segundo a corporação, a Delegacia Seccional de Vitória
de Santo Antão vai alertar a unidade de Primavera sobre o erro na orientação e
lamenta o ocorrido.