Rafael dos Santos Tosta, de 22 anos,
fraturou pescoço, lombar, machucou costas e rosto, além de outros ferimentos.
Queda aconteceu na Lagoa Azul, em Campo Magro.
— Max Ribeiro (@max_ribe_29) May 4, 2023
Rafael Tostas, de 22 anos, foi filmado
por amigos no momento em que caiu de uma altura de 20 metros
em um ponto turístico em Campo Magro, na Região Metropolitana de Curitiba.
Ele decidiu "comemorar" o
próprio divórcio saltando de um pêndulo que fica em uma lagoa formada em uma
antiga pedreira. Assista ao vídeo acima.
A atividade, similar ao bungee jump,
consiste em prender uma corda ao corpo para o salto. O nome "pêndulo"
vem do movimento que o equipamento faz, de um lado para o outro, após a
conclusão do pulo.
Hoje, o jovem passa por uma rotina
intensa de terapias para aliviar as sequelas.
"Eu sempre fui uma pessoa muito
calma, mas de um tempo para cá as coisas mudaram. Depois do divórcio eu queria
aproveitar de todas as formas. Eu estava fazendo muita loucura. Não estava
valorizando nem um pouco minha vida", conta.
O que era para ser um dia de
comemoração se tornou um evento que mudou a vida dele para sempre.
O jovem explica que o passeio, feito
junto com um primo e uma amiga de infância, aconteceu três dias antes do
aniversário de 22 anos e que o acidente serviu para o fazer valorizar as
pequenas coisas da vida.
"Você começa a ver a vida e
agradece a tudo. Não que antes eu não ligasse, mas eu não olhava com esse
olhar. Minha vida nunca mais vai ser a mesma. Eu não quero mais ser aquele
Rafael que eu era antes. Tenho que agradecer por estar vivo, que já é uma coisa
muito grande", compartilha.
Com a queda, o jovem fraturou o
pescoço, a lombar, machucou as costas e o rosto, além de outros ferimentos.
Quase três meses depois do acidente e
diversas sessões de fisioterapia e tratamento, Rafael ficou com algumas
sequelas. Entre elas, dificuldade para levantar peso, dor em algumas regiões do
corpo e fraqueza.
Além das dores físicas, também
restaram traumas psicológicos para o jovem.
"O meu sono não é o mesmo. Não
estou conseguindo dormir. Tive que ir atrás de ajuda. Comecei a ter crises,
tenho pesadelos, tenho medo de ir dormir. A gente acha que a gente é forte, mas
se você tiver um especialista ou uma luz é muito melhor do que tentar levantar
sozinho", compartilha.
Rafael Tostas sobreviveu a uma queda de 20m — Foto: Arquivo Pessoal |
Desde o acidente, Rafael, que é
operador de produção e faz inspeção industrial em uma fábrica de Araucária,
onde também mora, está afastado do trabalho pelo Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS).
Por meio de nota, os responsáveis pelo
parque afirmaram ao g1 que o local continua aberto, mas que a
atividade do pêndulo está suspensa. O comunicado frisa também que a modalidade
era desenvolvida por uma empresa especializada e afirma que o evento do
acidente foi traumatizante.
Ainda conforme a empresa, no dia
anterior ao acidente pessoas invadiram o local. Um Boletim de Ocorrência foi
registrado junto à polícia. Os responsáveis afirmaram aguardam a conclusão da
perícia do equipamento para tomar as providências cabíveis.
Procurada, a Polícia Civil disse que
não há investigações em andamento sobre a invasão, nem sobre o acidente.
O salto
Rafael conta que aquela foi a primeira
visita ao parque e que a ideia de saltar de pêndulo surgiu porque gosta de
esportes radicais.
"No dia eu estava bem feliz,
animado para caramba", relembra.
O chamado pêndulo humano é uma
atividade semelhante ao bungee jump que proporciona uma sensação de queda livre
ao praticante. No esporte, após o salto, a corda fica esticada e faz movimentos
pendulares.
Rafael conta que outras pessoas
pularam do pêndulo antes da vez dele. Pouco antes do salto o jovem lembra que
chegou a fazer piadas sobre a corda não aguentar o peso.
Após o salto, Rafael explica que só
lembra de acordar na água, com pessoas ao redor dele pedindo para ele não se
mover e avisando que o resgate estava a caminho.
"Eu me desesperei, pensei: 'O que
eu estou fazendo aqui deitado?'. No momento que eu tentei levantar eu lembro de
sentir uma dor muito forte. Nunca senti dor pior na minha vida", afirma.
Resgate com bom humor
No dia do acidente, a polícia
informou que o jovem caiu em um local de difícil acesso, mas foi estabilizado
pela equipe médica do Batalhão de Polícia Militar de Operações Aéreas (BPMOA) e
transportado de helicóptero para o Hospital do Rocio, em Campo Largo.
Rafael relata ter acordado
novamente enquanto era atendido. Ele, que se considera brincalhão, chegou a
fazer piada com os socorristas enquanto era transportado.
"Eu ficava brincando:
'Nossa, não acredito que estou andando de helicóptero'", conta rindo.
Mãe pediu para não pular
O jovem conta que a mãe mora em Figueira, no
norte pioneiro do Paraná. Dois dias antes do acidente, ela visitava o filho em
Araucária. Quando Rafael contou à mãe que pularia no pêndulo humano, ouviu uma
bronca da matriarca.
"Ela falou: 'Rafa, tá ficando
doido? O que você tá fazendo da tua vida?'. Me deu uma lição de moral que acho
que nunca vou esquecer na vida", conta.
No sábado, dia do acidente, a mãe
havia retornado para a cidade onde mora. Logo após o acidente, a amiga de
Rafael que estava com ele no momento do salto foi a responsável por avisar a
família do que havia acontecido.
Porém, até o momento da ligação, as
informações sobre o estado de saúde do jovem ainda eram escassas.
Com o aviso, a família saiu, em uma
viagem de cerca de seis horas, do norte pioneiro em direção à capital
paranaense sem ter a certeza de como encontrariam Rafael.
Ao encontrarem o jovem no hospital,
machucado, porém vivo, o sentimento foi de alívio.
"Minha mãe chegou, olhou com
aquele olhar que queria me dar um soco, mas ela me deu um abraço e falou 'que
bom que você tá bem, filho'. Tanta coisa já aconteceu na minha vida que acho
que ela já cansou de me dizer 'eu avisei'", brinca Rafael.
Rafael, que contou que tem afinidade
com esportes radicais, disse que a vontade não mudou, mas que não se submeteria
a essas atividades novamente por conta da preocupação da família.
"Meu sonho era pular de
paraquedas. Eu sei o que aconteceu lá, tem uma explicação para tudo isso, foi
uma falha bem grande. Acredito que esse erro é difícil de acontecer com mais
alguém. Não sou aquela pessoa que se priva de fazer as coisas porque os outros
falam. Minha mãe não queria que eu fosse pular, mas eu peguei e fui. Não
saltaria hoje por conta deles. Se fosse por mim, já estava lá", afirma.