Uma das maiores cantoras e compositoras da história do Brasil, ela morreu nesta segunda (8). Rita foi diagnosticada com câncer de pulmão em 2021 e vinha fazendo tratamentos contra doença.
Rita Lee, uma das maiores cantoras e compositoras da história
da música brasileira, morreu nesta segunda-feira (8), aos 75 anos. Ela foi
diagnosticada com câncer de pulmão em 2021 e vinha fazendo tratamentos contra a
doença.
A família da cantora divulgou um comunicado nas redes sociais
dela: "Comunicamos o falecimento de Rita Lee, em sua residência, em São
Paulo, capital, no final da noite de ontem, cercada de todo o amor de sua
família, como sempre desejou". O velório será aberto ao público, no
Planetário do Parque Ibirapuera, na quarta-feira (10), das 10h às 17h.
Rita, a padroeira da liberdade
Rita Lee em foto de março de 1969 — Foto: Estadão Conteúdo/Arquivo
Rita ajudou a incorporar a revolução do rock à explosão
criativa do tropicalismo, formou a banda brasileira de rock mais cultuada no
mundo, os Mutantes, e criou canções na carreira solo com enorme apelo popular
sem perder a liberdade e a irreverência.
Sempre moderna, Rita foi referência de criatividade e
independência feminina durante os quase 60 anos de carreira. O título de
“rainha do rock brasileiro” veio quase naturalmente, mas ela achava “cafona” -
preferia “padroeira da liberdade”.
Os Mutantes, grupo formado por Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sergio Dias, com Gilberto Gil em foto de março de 1972 — Foto: Acervo Estadão Conteúdo
Rita Lee Jones nasceu em São Paulo, em 31 de dezembro de
1947. O pai, Charles Jones, era dentista e filho de imigrantes dos EUA. A mãe,
a italiana Romilda Padula, era pianista, e incentivou a filha a estudar o
instrumento e a cantar com as irmãs.
Aos 16 anos, Rita integrou um trio vocal feminino, as Teenage
Singers, e fez apresentações amadoras em festas de escolas. O cantor e produtor
Tony Campello descobriu as cantoras e as chamou para participar de gravações
como backing vocals.
Os Mutantes
Rita Lee durante gravação do especial 'Mulher 80', exibido na Globo em 1979 — Foto: Nelson Di Rago/TV Globo/Arquivo
Em 1964 ela entrou em um grupo de rock chamado Six Sided
Rockers que, depois de algumas mudanças de formações e de nomes, deu origem aos
Mutantes em 1966. O grupo foi formado inicialmente por Rita Lee, Arnaldo
Baptista e Sérgio Dias.
Eles foram fundamentais no tropicalismo, ao unir a psicodelia
aos ritmos locais, e se tornaram o grupo brasileiro com maior reconhecimento
entre músicos de rock do mundo, idolatrados por Kurt Cobain, David Byrne, Jack
White, Beck e outros.
O trio acompanhou Gilberto Gil em “Domingo no parque” no 3º
Festival de Música Popular Brasileira da Record, em 1967, e Caetano Veloso em
“É proibido proibir” no 3º Festival Internacional da Canção, da Globo em 1968,
dois marcos da tropicália.
Os Mutantes também participaram do álbum “Tropicália ou Panis
et Circensis”, de 1968, a gravação fundamental do movimento.
Ela fez parte dos Mutantes no período mais relevante e
criativo da banda, de 1966 a 1972. Gravou “Os Mutantes” (68), “Mutantes” (69),
“A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado” (70), “Jardim Elétrico” (71) e
“Mutantes e Seus Cometas no País dos Bauretz” (72).
O fim do relacionamento com Arnaldo Baptista coincidiu com a
saída dela dos Mutantes. O primeiro álbum solo foi “Build up”, ainda antes de
deixar a banda, em 1970. Ela também lançou “Hoje é o Primeiro Dia do Resto da
Sua Vida”, em 1972, ainda gravado com o grupo.
A carreira solo
A carreira pós-Mutantes tomou forma com o grupo Tutti Frutti,
no qual ela gravou cinco álbuns, com destaque para “Fruto proibido”, de 1975,
que tinha a música “Agora só falta você”.
A partir de 1979, ela começou a trabalhar em parceria com o
marido Roberto de Carvalho, e se firmou de vez na carreira solo. Ela escreveu e
gravou canções de pop-rock com grande sucesso.
Um dos álbuns mais bem sucedidos foi “Rita Lee”, de 1979, com
“Mania de Você”, “Chega mais” e “Doce Vampiro”. No disco de mesmo título do ano
seguinte, ela segue na direção mais pop e faz ainda mais sucesso com “Lança
perfume” e “Baila comigo”.
Ela era uma roqueira popular antes e depois de o gênero se
tornar um fenômeno comercial no Brasil em meados dos anos 80. Entre os álbuns
de destaque estiveram “Saúde” (1981) e “Rita e Roberto” (1985), com o qual os
dois subiram ao palco do primeiro Rock in Rio.
Entre 1991 ela começou um período de quatro anos separada de
Roberto de Carvalho. O retorno foi em 1995, na turnê do álbum “A marca da
Zorra”, quando ela também abriu os shows dos Rolling Stones no Brasil. No ano
seguinte, eles se casaram no civil após 20 anos juntos.
Em 1996, ela caiu da varanda do seu sítio, sob efeito de
remédios, e quebrou o recôndito maxilar. Rita começou a tentar largar o álcool
e as drogas, mas disse ao “Fantástico” que só conseguiu fazer isso em janeiro
de 2006.
Em 2001, RIta Lee ganhou o Grammy Latino de Melhor Álbum de
Rock em Língua Portuguesa com “3001”. Ela ainda teria mais cinco indicações ao
prêmio, e receberia em 2022 o prêmio de Excelência Musical pelo conjunto da
obra.
Em 2012, ela anunciou que deixaria de fazer shows por causa
da fragilidade física. “Me aposento dos shows, mas da música nunca”, ela
escreveu no Twitter.
Em 28 de janeiro daquele ano, no Festival de Verão de
Sergipe, ela fez o show anunciado como último da carreira, quando ela discutiu
com um policial. Ela foi acusada de desacato à autoridade, levada à delegacia e
liberada em seguida.
Rita Lee realmente nunca mais fez uma turnê. Mas ainda fez um
show no Distrito Federal no fim de 2012, em que abaixou a calça para o público,
e cantou no aniversário de São Paulo em 2013, ovacionada pelo público de sua
cidade.
Seu último álbum de canções inéditas em estúdio saiu em abril
de 2012. “Reza” era, então, seu primeiro trabalho de inéditas em nove anos. A
faixa-título foi a música de trabalho, definida por ela como “reza de proteção de
invejas, raivas e pragas”.
Ao todo foram 40 álbuns, sendo 6 dos Mutantes, 34 na carreira
solo.
As autobiografias
Em 2016, ela lançou “Rita Lee: uma autobiografia”. Uma das
revelações do livro foi que ela foi abusada sexualmente aos seis anos de idade
por um técnico que foi consertar uma máquina de costura de sua mãe em casa.
No livro, um sucesso de vendas, ela também falou com
sinceridade sobre episódios da carreira, como quando foi expulsa dos Mutantes
em 1972, e da vida pessoal, como a luta contra o alcoolismo.
Além da autobiografia, Rita Lee tem uma longa trajetória como
escritora. A série “Dr. Alex” é de 1983, mas foi relançada em 2019 e 2020 e tem
foco na luta pela causa animal e ambiental da cantora. Em março de 2023, ela
anunciou "Outra Autobiografia", que está em pré-venda.
Ela também escreveu “Amiga Ursa: Uma história triste, mas com
final feliz” na literatura infantil. “FavoRita”, “Dropz”, “Storynhas” e “Rita
Lírica” são outros livros escritos pela cantora.
Na TV, Rita participou das novelas “Top Model”, “Malu
Mulher”, “Vamp” e “Celebridade” em participações especiais.
Diagnóstico de câncer
Em maio de 2021, Rita Lee foi diagnosticada com câncer de
pulmão. Ela seguiu tratamentos de imunoterapia e radioterapia.
Quatro meses depois, ela lançou o último single da carreira,
“Changes”, em parceria com o marido Roberto de Carvalho e o produtor Gui
Boratto.
Em abril de 2022, seu filho Beto Lee escreveu que ela estava
curada do câncer.
Nos últimos anos, ela viveu em um sítio no interior de São
Paulo com a família. Ela deixa três filhos: Roberto, João e Antônio.